Uma hidrovia na capital

O Estado de S. Paulo - Editorial - 28/5/2003

qua, 28/05/2003 - 9h47 | Do Portal do Governo

Editorial


O Estado de S. Paulo – 28 de maio de 2003

O governo estadual pretende incluir o Rio Tietê na matriz de transporte da região metropolitana de São Paulo. A intenção é aproveitar o rebaixamento da calha do rio em 2,5 metros, necessária no processo de despoluição das suas águas, para iniciar, a partir de 2004, o transporte de cargas em dois trechos: o primeiro, de 24,5 quilômetros, entre a barragem da Penha e a eclusa do Cebolão, que já está em fase final de construção e permitirá que os barcos superem o desnível de 3,20 metros, junto à foz do Rio Pinheiros; o segundo trecho, de 10,5 quilômetros, vai do Cebolão a Carapicuíba, município a oeste de São Paulo, onde o rio apresenta características naturais favoráveis à navegação.

O detalhamento do projeto começará a ser elaborado em junho por técnicos da Secretaria Estadual dos Transportes que, além das questões operacionais da nova hidrovia, também avaliarão seus possíveis usos no transporte de passageiros e na exploração turística da Grande São Paulo. A meta é implantar o projeto a partir do segundo semestre do próximo ano, por meio de concessão a empresas privadas que administrarão os dois trechos previstos. O modelo segue o adotado na Hidrovia Tietê-Paraná.

A intenção do governo é, numa primeira fase, criar uma nova alternativa para o transporte de cargas e, assim, retirar das Marginais do Tietê e do Pinheiros parte considerável dos caminhões que cruzam a cidade, prejudicando o trânsito, danificando o asfalto, provocando acidentes e aumentando os níveis de poluição. Inicialmente, a lama retirada nos trabalhos de aprofundamento da calha do Tietê poderá ser escoada pela hidrovia. Os trabalhos de remoção da lama ainda continuarão na direção leste de São Paulo e se prolongarão pelos próximos anos, para evitar novo assoreamento do leito.

Com a calha do rio rebaixada, será possível o tráfego de barcaças com cargas de até 700 toneladas. Atualmente, as obras de rebaixamento resultam na retirada de quase 7 milhões de metros cúbicos de lama do rio, volume transportado de caminhão, nas madrugadas, pelas marginais. Segundo técnicos, uma barcaça substitui até 30 caminhões.

A hidrovia também reduziria em muito o tempo perdido pelos motoristas de carretas com cargas especiais – grandes peças e equipamentos industriais – que só podem circular pela cidade nas madrugadas, por determinação da Companhia de Engenharia de Tráfego.

O projeto avançará ainda para a exploração do transporte de passageiros, com a criação de mais um trecho de hidrovia pelo Rio Pinheiros. Às suas margens, já existem estações de metrô e de trens e a construção de outras tantas, para atender o transporte hidroviário, integraria todos os modos de transportes, dividindo melhor a demanda de passageiros e permitindo o aumento da velocidade do transporte público.

O secretário estadual dos Transportes, Dario Rais Lopes, espera contar com as prefeituras da região metropolitana para a realização dessa integração entre a hidrovia e os sistemas municipais de transporte. Esse será o ‘subproduto’ mais importante do projeto de despoluição do Rio Tietê, em andamento desde 1992, e não poderá ser desprezado. Aumentar a oferta de meios de transporte, seja de carga seja de passageiro, é fundamental para a melhoria de toda a região metropolitana.