Uma empresa pública e saudável

Gazeta Mercantil - São Paulo - Segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

ter, 14/12/2004 - 9h24 | Do Portal do Governo

Opinião

A Imprensa Oficial paulista expandiu-se com recursos próprios. Os ataques desferidos contra as empresas estatais, nos últimos anos, foram tão estridentes e indiscriminados que se forjou a imagem injusta de que toda empresa pública é perdulária, empreguista e dependente de transferências orçamentárias. Algumas empresas estatais mereciam essas críticas, mas havia e há empresas públicas eficientes, modernas e saudáveis. A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo é um exemplo.

O lucro líquido da Imprensa Oficial paulista foi de R$ 619 mil no exercício de 2002, subiu para R$ 12,9 milhões em 2003 e se estima que alcançará R$ 14,8 milhões em 2004. O repasse de dividendos para a Fazenda do Estado, que foi de R$ 37 mil no exercício de 2002, pulou para R$ 2,5 milhões em 2003 e se estima que chegará a R$ 7,5 milhões em 2004. Ou seja, em todos esses anos, a empresa foi rentável e, em vez de sangrar o Tesouro estadual, transferiu-lhe recursos crescentes para financiar outros investimentos públicos. Além disso, obteve esses resultados positivos mesmo num ano desastroso para a economia nacional como o de 2003, em que a produção e o consumo retrocederam e os preços de insumos essenciais para a indústria gráfica, como a energia elétrica e o papel, sofreram aumentos reais.

É importante ressaltar também que, em face das dificuldades, a Imprensa Oficial paulista não enveredou pelo atalho fácil dos cortes maciços de pessoal. Consciente da gravidade do desemprego no País, procurou manter a estabilidade de seu quadro funcional. Além disso, continuou investindo no aprimoramento profissional dos empregados e na melhoria de suas condições de trabalho.

Os desafios financeiros foram enfrentados com duas ordens de providência. Por um lado, introduzindo novos processos de gerência e elevando os investimentos em tecnologia da informação. Por outro, ampliando e diversificando os produtos e serviços oferecidos.

Com esse duplo esforço e desafiada pelo espírito empreendedor e austero, ressaltado pelo governador Geraldo Alckmin, a Imprensa Oficial elevou nos últimos dois anos a receita bruta, enquanto as despesas declinaram. A produtividade por empregado também aumentou. Assim, a empresa pôde, além de transferir dividendos para a Fazenda do Estado, financiar expansão e modernização com recursos próprios e manter o esforço de valorização de seus funcionários, investindo em bolsas de estudos para cursos de graduação, pós-graduação e treinamento.

Como empresa-cidadã, a Imprensa Oficial desenvolve também programas de finalidade social, como o projeto Imprimindo Cidadania, que doa aparas de papel, restos de filmes e outros materiais descartados a instituições beneficentes para que sejam leiloados por elas e cubram uma parte de suas despesas. É também a Imprensa Oficial que gerencia e coordena o Acessa São Paulo, um programa de inclusão digital do governo paulista, que já instalou 172 infocentros no estado, com 8 milhões de atendimentos, e já beneficiou mais de 20 mil alunos na área de cursos a distância.

Consciente de suas responsabilidades com a memória e a cultura do País, a Imprensa Oficial paulista também tem ampliado as parcerias com editoras universitárias e outras instituições públicas e privadas para a publicação de livros e revistas de grande valor cultural, mas de reduzido apelo mercantil. Com mais de 500 títulos publicados e vários premiados, tem atuado igualmente na divulgação dessas obras, com forte presença em feiras de livros no Brasil e no exterior, como na recente Bienal de São Paulo, com a ampliação de postos de venda e com a inauguração de uma livraria no centro da capital.

Criada em 1891 para a publicação dos atos e do expediente das repartições públicas do Estado de São Paulo, a Imprensa Oficial tornou-se a terceira maior gráfica do setor público do mundo ocidental em produtividade e desempenho. Com as alterações estatutárias aprovadas no segundo semestre do ano passado, ingressou em nova fase, deixando de ser apenas uma gráfica moderna e de grande porte para converter-se também em editora cultural e científica, autoridade certificadora digital e agência de notícias de interesse público.

A trajetória da Imprensa Oficial paulista comprova, primeiro, que há tarefas administrativas, jurídicas e culturais que só podem ser cumpridas satisfatoriamente por empresas públicas; e, segundo, que uma empresa pode ser pública e, ao mesmo tempo, atualizada, eficiente e auto-sustentável.

Hubert Alquéres é diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e presidente da Associação Brasileira de Imprensas Oficiais.