Uma cidade que faz, muito bem, a lição de casa

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 25 de março de 2008

ter, 25/03/2008 - 12h50 | Do Portal do Governo

Os 1.967 estudantes do município de Sete Barras, a cerca de 200 km de São Paulo, fazem parte de uma elite da rede pública no País: são dos poucos que, na 4ª série, obtiveram pontuação entre 200 e 210 no Sistema de Avaliação Básica (Saeb) – ou seja, sabem o que deveriam saber para o ano escolar em que estão, segundo o Ministério da Educação (MEC). O bom desempenho não se explica por um contexto sociocultural favorável. A principal atividade econômica do município é a extração de bananas e a média de analfabetismo entre adultos (14,4%) é duas vezes mais alta que a do Estado. Tampouco há computadores na escola e 65,7% da população de 14,5 mil habitantes é da área rural. O segredo de Sete Barras está no fato de a rede municipal ter feito uma boa lição de casa.

Todas as medidas que especialistas consideram necessárias para o funcionamento de uma boa escola foram implementadas lá: definição conjunta de um plano de educação, valorização da carreira docente com fixação de metas e cobrança de resultados, formulação de um plano curricular específico para cada série e disciplina, acompanhamento individualizado do aluno, avaliações constantes, aulas de reforço e participação da comunidade. ‘Começamos em 2001, com a decisão de municipalizar o ensino fundamental de 1ª a 4ª séries. Decidimos fazer uma coisa planejada, escrita na legislação, para ter continuidade’, explica a secretária de Educação, Edna Tanaka Kabata, mulher do prefeito Ademir Kabata (DEM). ‘Pensamos em longo prazo e houve apoio político para isso’, diz.

O próprio casal decidiu dar o exemplo: os filhos passaram por uma das duas escolas municipais e agora é o neto quem freqüenta o ensino infantil em uma delas. ‘Quando a própria professora da rede pública não quer colocar seu filho onde ela dá aula é porque tem alguma coisa errada, não é? Isso acontecia aqui antes. Agora, os pais médicos, dentistas, estão tirando os filhos da escola particular para estudarem aqui.’

Na elaboração do processo, há sete anos, foi contratada uma consultora especializada em educação – a mesma consultora que ajudou a formular a política educacional de Barra do Chapéu, outra pequena cidade com bons resultados na Prova Brasil. Os professores foram contratados no regime da CLT (sem estabilidade) e enviados para fazer graduação na universidade da região. Até então, nenhum tinha curso superior. Hoje, quase todos os 78 estão formados e começando uma pós-graduação. Quem não falta durante o ano recebe um bônus de quatro salários. Em média, cada professor recebe um piso de R$ 1.500 por mês – os graduados recebem 10% a mais e os da área rural mais 15%.

‘Não tem segredo nenhum aqui, fazemos o que toda escola deve fazer’, diz a coordenadora Terezinha de Freitas Oliveira. ‘Mas temos o compromisso de ensinar.’