Um plano para o turismo fluvial em SP

O Estado de S. Paulo - Espaço Aberto - Terça-feira, 11 de maio de 2004

ter, 11/05/2004 - 10h26 | Do Portal do Governo

Marco Antonio Castello Branco

Não, não se trata de um sonho. Um passo importante já foi dado, recentemente, quando cino secretarias de Estado somaram esforços na criação de um grupo de trabalho para elaborar um planejamento turístico-ambiental e propor normas de licenciamento para empreendimentos ao longo da Hidrovia Tietê-Paraná, objetivando o desenvolvimento sustentável da região.

A medida leva em conta a prioridade número um do governo do Estado de São Paulo: criar trabalho e renda. Nesse sentido, o turismo ambiental é um segmento com grande potencial e a Hidrovia Tietê-Paraná é um importante recurso para o desenvolvimento do turismo ambiental de caráter náutico-fluvial. É verdade que essa hidrovia também integra o eixo interoceânico central do Plano de Integração Física da América do Sul. Ou seja, é o acesso brasileiro aos portos do Pacífico, o que muito significa como alternativa de exportação e também para a indústria do turismo.

O Brasil é um dos países com maior potencial no mundo para desenvolver atividades náuticas. E nosso Estado é exemplo claro desse quadro. Por isso, em termos de atratividade de empreendimentos náutico-hoteleiros, a Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo estuda a criação de um conjunto de estruturas de apoio à navegação de recreio por toda extensão da Hidrovia Tietê-Paraná. É bom lembrar que cada estrutura de apoio ou pólo poderá compor-se de marinas, resorts, hotéis, pousadas e condomínios.

O potencial convergente para a estratégia do governo é imenso. Do ponto de vista dos benefícios socioeconômicos, basta tomar um exemplo para comprovar:
– a construção de uma marina, ao custo médio de US$ 1 milhão abre 95 postos de trabalho (25 empregos diretos e 70 ocupações indiretas). Ou seja, a atividade cria um emprego a cada US$ 66 mil investidos, enquanto na indústria automobilística custa até US$ 500 mil.

Além disso, um planejamento turístico movimenta a economia local de diversas formas: aluguel de chalés, alojamentos, rampas para barcos, restaurantes, piscinas, campings, escolas de vela e de navegação, house boating, área para piqueniques, sanitários públicos, centro de convenções e exposições, pistas para ultraleve, tudo dependendo do grau de sofisticação do empreendimento.

Ou seja, empregos capazes de devolver ao interior a capacidade de manter munícipes em sua terra natal, sem necessidade de buscar colocação nos grandes centros urbanos.

Iniciativas assim exigem, claro, o estabelecimento de regras de uso das margens, preservação do meio ambiente e estruturas de apoio. Horários e procedimentos e funcionamento de eclusas, balizamento e questões de documentação são itens que merecem cuidado. O governo do Estado também está trabalhando nisso.

Quem só vê o Tietê na capital, ladeado por avenidas marginais congestionadas, talvez nem imagine seu esplendor nos municípios ao longo do território paulista. É verdade que o rio praticamente morre depois de cortar a Grande São Paulo. Mas, em seguida, recupera seu vigor graças às estações de tratamento espalhadas pelo interior do Estado e ao milagre realizado pela própria natureza. Uma festa para os olhos e para o paladar: aí oferece pintado, curimbatá, piapara, tabanara e outras tantas espécies de peixes saborosos.

A viagem vale a pena. Quando se chega ao município de Barra Bonita, a 280 quilômetros de São Paulo, um dos mais belos cenários do Estado se apresenta, com o movimento de barcos pela eclusa, a mais antiga do Brasil, construída em 1957.

É importante salientar que os lagos formados pelas barragens do Rio Tietê, compondo um verdadeiro mar do interior, se encontram em posição privilegiada, a uma distância média de 80 quilômetros de dois eixos rodoviários importantíssimos: Bandeirantes/Anhangüera e Washington Luiz à direita e Castelo Branco e Marechal Rondon à esquerda.

Em sua área de influência estão cidades de grande importância econômica e tecnológica como Campinas, Piracicaba, Bauru, São Carlos, Araraquara, Botucatu, Marília, Araçatuba, São José do Rio Preto e outras, em que a renda per capita é cerca de 50% maior do que a média do País. O clima é agradável o ano inteiro. Cruzeiros rápidos, de até três dias, são excelentes opções em qualquer estação. E cada lago tem condições de promover calendários de vela, motonáutica, pesca e regatas de longo curso.

Hoje, já é possível sair de barco da região de Piracicaba ou Conchas e chegar até Foz do Iguaçu. Assim, no futuro, pode-se criar viagens de turismo, como é comum nos rios da Europa.

Não podemos deixar de pensar também na outra face de uma hidrovia, como alternativa de transporte num sistema multimodal. Hoje já são feitas na Tietê-Paraná viagens regulares de grãos, álcool, madeira e açúcar, entre outros produtos, desde Goiás, Triângulo Mineiro e Mato Grosso do Sul até Pederneiras (região de Bauru) e Santa Maria da Serra, propiciando grande economia de divisas para o País.

O próprio mercado vai, aos poucos, percebendo as grande oportunidades que o rio oferece, constituindo-se em riquezas que devem ser harmoniosamente exploradas. Em tempos de crise econômica e desemprego, é imperdoável a não utilização dessa fonte de riqueza, uma vez que o sistema hidroviário é, por si próprio, um indutor turístico. Cabe a nós, enquanto governo do Estado, impulsionar e formatar o segmento. É o que estamos fazendo. Depois, basta deixar a iniciativa privada seguir se rumo.

Marco Antonio Castello Branco é secretário executivo de Turismo do Estado de São Paulo.