Um perfil de Ruth Cardoso

Revista Cult

seg, 17/08/2009 - 8h09 | Do Portal do Governo

A extensa trajetória da antropóloga e líder de projetos sociais é registrada no Livro de Ruth 

“Conheci a professora Ruth Cardoso na década de 1980, no conselho de redação do jornal Mulherio. Ela era, de longe, a intelectual mais importante e mais experiente entre nós. Mas nunca se valeu disso para impor sua opinião. Delicada, atenta às ideias alheias, era mestra em abrir espaços para o saber circular e se coletivizar. Uma pessoa genuinamente democrática.” 

É com depoimentos ternos como este, da psicanalista Maria Rita Kehl, que é feito parte do Livro de Ruth (Imprensa Oficial, 2009), uma biografia sobre a antropóloga Ruth Cardoso (1930-2008). Fernando Henrique Cardoso, Ignácio de Loyola Brandão; colaboradores que integraram as equipes montadas por Ruth como Thereza Lobo; empresários como Antonio Ermírio de Moraes, são apenas mais algumas das 57 personalidades entrevistadas por Margarida Cintra Gordinho, autora do livro. Ela conversou com pessoas de diversos momentos da vida da intelectual, de amigos próximos a colegas que acompanharam seu percurso acadêmico e político.   

Dividido em três capítulos, o livro resgata a trajetória de Ruth Cardoso que, durante os oito anos de governo FHC, assumiu assiduamente a vida pública do país. A primeira parte apresenta o percurso desta mulher que nasceu no interior, mudou-se para São Paulo, onde ingressou em primeiro lugar no curso de ciências sociais da USP e conheceu o marido Fernando Henrique Cardoso. Expõe também o seu trabalho como professora, primeira-dama e líder de projetos sociais. A vida acadêmica da professora é aprofundada no segundo capítulo, “Lições de vida”. No terceiro, “O Bom Combate”, conhecemos o percurso da antropóloga na política pública brasileira.   

“É importante que as pessoas saibam tudo o que ela fez. A Ruth é um exemplo de vida voltada para o desenvolvimento da sociedade”, justifica a autora, que foi também aluna da antropóloga. Segundo os depoimentos presentes na biografia, ela foi uma excelente professora e orientadora. “Muitos alunos, orientandos ou não, sofreram sua influência não só acadêmica, no sentido mais estrito, mas também pessoal, de modo mais amplo. (…) um aprendizado do respeito pelo trabalho alheio e crença da importância da ação coletiva”, conta no livro o antropólogo Gilberto Velho.    

Na vida universitária, Ruth Cardoso também trabalhou com diversas questões das periferias urbanas. Posteriormente, durante o governo, implantou programas sociais originais, como a Comunidade Solidária, que combatia a exclusão social e a pobreza. “Ela foi inovadora por começar um tipo de ação que não se fazia aqui, e por querer que o programa se espalhasse”, explica Margarida Cintra Gordinho. A intelectual ainda teve tempo para cuidar de três filhos e seis netos. Ao lado do marido, de quem era grande companheira, costumava receber amigos, intelectuais e políticos tanto no apartamento em São Paulo, quanto na residência oficial, em Brasília.  “É uma das poucas unanimidades nacionais. Quando faleceu, as pessoas sabiam que tinham perdido uma referência de valor”, conclui a autora do livro.

Livro de Ruth
Margarida Cintra Gordinho
Imprensa Oficial, 2009
208 págs.
R$ 50