Três urbanistas, três visões do nosso centro

Jornal da Tarde - 22/5/2002

qui, 23/05/2002 - 11h12 | Do Portal do Governo

O espanhol José Maria Boty, o argentino Alfredo Garay e o cubano Rafael Hojas Hurtado, responsáveis pela revitalização de trechos de Barcelona, Buenos Aires e Havana, gostaram do projeto de restauração de São Paulo

Três arquitetos estrangeiros observam o antigo prédio do Dops. O lugar – que anteriormente era a Estação Sorocabana – será, em breve, a sede do Museu do Imaginário.

O Secretário Estadual de Cultura, Marcos Mendonça, explica aos convidados que o Dops era ‘uma prisão política.’ E se vira para mostrar um outro edifício, no Largo General Osório. ‘E aqui será a nova sede do Centro de Educação Musical Tom Jobim.’ Os aprovam olham com aprovação: o espanhol José Maria Botey, o argentino Alfredo Garay e o cubano Rafael Hojas Hurtado, responsáveis por importantes experiências de recuperação em suas respectivas cidades, Barcelona, Buenos Aires e Havana.

Eles estão em São Paulo para participar do Seminário Internacional de Preservação e Recuperação do Patrimônio Cultural, que termina amanhã. Acompanhados pelo secretário, passearam ontem pelo Centro Velho para ver de perto seu processo de revitalização.

Próxima parada: Estação da Luz

Os urbanistas escutam o secretário dizer que o prédio no estilo inglês ‘era o ponto de chegada a São Paulo.’ Antes de entrarem, os três se abaixam para dar uma olhada numa velha placa de ferro onde se lê: Walter McFarlane & Co.

‘É porque a estação de trem veio toda da Inglaterra.’ Outra exclamação do trio. Lá dentro, o argentino Garay está pensativo, olhando as estruturas do lugar, em obras. Mendoza, o cubano, olha o trem parado na estação. O espanhol Botey, mais falante, pede a Mendonça mais explicações sobre a obra. ‘Queremos abrigar aqui um centro de línguas.’ Será o Memorial da Língua Portuguesa.

‘O edifício é fabuloso. A estrutura, símbolo da arquitetura inglesa’, diz o cubano Hurtado. Todos atravessam a rua e entram no Jardim da Luz. ‘Antes, aqui, só tinha drogados’, admite o secretário. ‘Agora, colocamos até umas esculturas.’ ‘E elas não estão quebradas’, comenta o espanhol. Todos riem.

Rafael Hurtado, talvez com saudade de casa, pára para admirar as enormes palmeiras. ‘É a árvore nacional de Cuba.’ O jardim fica ao lado da Pinacoteca do Estado, reinaugurada no início de 1997, após uma ampla restauração.

O argentino diz que já conhecia a Pinacoteca. ‘Mas sempre fico impressionado.’ Quando perguntado se faria algo diferente se o projeto fosse dele, Garay, diplomático, responde que ‘não mexeria em nada. Tudo foi feito com grande maestria.’

Última parada: a Broadway Paulistana. Antiga Cinelândia, nome do conglomerado de cinemas que se distribuía pelo Largo do Paiçandu, pelas Ruas Conselheiro Crispiniano, Dom José de Barros e 24 de maio e pelas Avenidas São João, Ipiranga e Rio Branco.

O projeto prevê a reforma dos principais cinemas da região. ‘Além de recuperar os cinemas, haverá um complexo com dez salas menores que poderá abrigar convenções. Nós vamos levantar essa região.

Queremos atrair os empresários para que eles invistam aqui’, afirma o secretário Marcos Mendonça.

Parados na frente da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o grupo chama atenção de muitos, inclusive de dois trombadinhas. Um senhor aborda o secretário para parabenizá-lo e reclamar da violência. O espanhol Botey escuta e diz: ‘Em Barcelona, é a mesma coisa.’

Kety Shapazian