Luiz Voltolini, de São Paulo
Gazeta Mercantil – Terça-feira, 22 de julho de 2003
Ao todo, a CPTM deve colocar US$ 932 milhões no sistema ferroviário, que amplia sua presença na Região Metropolitana
A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, CPTM, empresa do governo de São Paulo, negocia recursos da ordem de R$ 40 milhões com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID, para iniciar o projeto de readequação de sete estações da Linha C, que liga a cidade de Osasco a Jurubatuba (bairro da região sul da capital) com estações próximas dos shopping centers Osasco Plaza, Villa-Lobos, Eldorado, Market Place, Shopping Morumbi e Shopping Interlagos.
O ‘Projeto Sul de Trens Metropolitanos’, executado pela CPTM, é o primeiro programa metroferroviário a ser financiado pelo BID e envolve investimentos da ordem global de US$ 932 milhões. A Linha5-Lilás do Metrô faz parte do Projeto Sul, que inclui, também, a dinamização da linha C da CPTM, de 23 quilômetros, entre Osasco e Jurubatuba, e onde já foram construídas sete estações.
O projeto de readequação prevê obras nas estações de Osasco, Presidente Altino, Ceasa, Villa-Lobos/Jaguaré, Cidade Universitária, Pinheiros e Jurubatuba. O engenheiro Renato Penna de Mendonça, técnico da CPTM responsável pelo projeto, afirma que o início das obras depende do contrato com o BID e que deve levar de oito meses a um ano para serem concluídas.
A linha C transporta, diariamente, em média 65 mil passageiros e a previsão é de que este número suba para 300 mil passageiros ao dia quando a linha 4 do Metrô, que liga o bairro da Luz à Vila Sônia, estiver pronta.
É que a nova linha passará sob a estação de trens de Pinheiros, de modo que trem e metrô serão interligados por um túnel que sairá direto na plataforma de embarque da estação da CPTM, o que facilitará o deslocamento dos moradores da zona Oeste para todas as outras regiões.
Maior presença
Mendonça explica que esta não é a única integração que a CPTM prevê no transporte urbano de São Paulo. A readequação das estações, além de melhorar o atendimento ao usuário, colocará a CPTM mais presente na vida da cidade. A estação Hebraica-Rebouças, que tem sua saída direcionada para a marginal Pinheiros, terá uma passarela que levará os passageiros direto para o primeiro piso do Shopping Eldorado. ‘Nossa intenção é que até a passarela sobre a Rebouças seja interligada e que tenha o mesmo padrão arquitetônico de nossas estações. Estamos em negociação com a direção do shopping, mas esta é uma obra à parte’, diz Mendonça.
Acesso a idosos
Renato Penna de Mendonça explica que a readequação prevê instalação de elevadores, acesso a idosos e portadores de deficiência física em todas estações. No caso da estação de Presidente Altino, na divisa entre os municípios de Osasco e São Paulo, serão instalados três elevadores (dois externos e um interno), sanitários e rampas de acesso no lado de Osasco. No lado de São Paulo, que hoje é uma área sem nenhum tipo de urbanização, será construída uma rampa para idosos e deficientes físicos de 130 metros e instalado um terminal da Empresa Metropolitana de Transportes Coletivos (EMTU).
A Villa-Lobos/Jaguaré é outra das estações da CPTM que vai receber melhorias. Hoje a venda de passes no local é realizada no prédio sobre os trilhos e a marginal Pinheiros é o destino oferecido para quem deixa a estação. Os usuários andam em torno de um quilômetro para ter acesso a todas as linhas de ônibus que passam na região ou para ir ao parque ou ao shopping Villa-Lobos.
O engenheiro Mendonça explica que será construída uma nova estação e que as obras serão mais amplas. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) doou à CPTM uma área de 10 mil m² entre a marginal e o parque que seria usada para alojamento de atletas caso São Paulo fosse escolhida para acolher os Jogos Olímpicos de 2012. Agora, parte desta área poderá se tornar estacionamento.
O projeto prevê um corpo administrativo da estação na praça onde hoje existe o acesso à passarela. Na verdade, diz Mendonça, todas as estações da Linha C terão corpo separado da estação. ‘No Jaguaré vamos construir uma nova estação cuja passarela dará acesso ao Parque Villa-Lobos. Além disso estudamos a integração com o novo Centro Empresarial Villa-Lobos que será construído na marginal’, explica. ‘Toda a área em volta da estação será reurbanizada com pontos de ônibus e a implantação de um sistema de transporte coletivo entre o shopping e a estação, que atenderá tanto passageiros como funcionários do shopping.’
Chácara Klabin
Segundo a CPTM, a Linha5-Lilás do Metrô de São Paulo é a mais moderna do Brasil no que toca a aspectos técnicos e tecnológicos. O trecho Capão Redondo-Largo Treze foi inaugurado em outubro de 2002 e recebeu investimentos de US$ 646 milhões na construção dos 9,4 quilômetros de vias (com 7 quilômetros em elevados, 1,6 em superfície e 800 metros em subterrâneo), 6 estações (Capão Redondo, Campo Limpo, Vila das Belezas, Giovanni Gronchi, Santo Amaro e Largo Treze), pátio de manobras, estacionamento e manutenção de trens em Capão Redondo, três novo terminais do sistema de ônibus (Campo Limpo, Capão Redondo e Santo Amaro), montagem de equipamentos e sistemas de energia, sinalização, telecomunicações e bilhetagem e aquisição de oito trens de seis carros. O BID financiou 50% do total – US$ 263 milhões.
A primeira etapa foi encerrada com a entrada em operação da Linha 5, executada em quatro anos e com um custo inferior ao orçamento original. A segunda etapa, que está em processo de licitação de projetos, prevê a construção do trecho entre Santo Amaro e Chácara Klabin, que passará pela estação Santa Cruz e fará interligação com as linhas 1 e 2 do Metrô, o que significa interligar o Metrô a todas as linhas da CPTM.
Histórico
Fundada em 1992, a CPTM recebeu uma herança de mais de um século: 270 quilômetros de linhas que se encontravam sucateadas e precisavam de investimentos para atender a população com dignidade. Hoje, possui linhas de padrão internacional, como o Expresso Leste, entre Brás e Guaianazes, que completou três anos de funcionamento em maio. São 21,9 quilômetros percorridos em 27 minutos por modernos trens, fabricados na Espanha, dotados de ar-condicionado, bancos anatômicos e vidros com filtro solar. Anteriormente, o mesmo trajeto era feito em 40 minutos. A empresa conta com uma frota de 355 trens que transporta, em média, 1,18 milhão de usuários por dia. Em 2002, a companhia bateu seu recorde de passageiros transportados, prestando serviço a 322.685.274 usuários, contra 311,7 milhões do ano anterior.
As linhas da CPTM têm recebido melhorias, algumas mais profundas, a exemplo das obras do Projeto Sul, do Projeto Integração Centro e do Expresso Leste. A próxima a passar por intervenção drástica será a Linha F (Brás-Calmon Viana), beneficiada com o Projeto Aeroporto, que ligará, pela malha ferroviária, a capital paulista ao Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos.
Além disso a CPTM mantém programas de manutenção de vias diuturnamente, com equipes trabalhando ao longo das linhas, durante o dia fora dos horários de pico (das 5h às 8h e das 17h às 20h), e ao longo de toda a noite. São realizados serviços como troca de trilhos e dormentes, reparos na rede aérea e no sistema de sinalização.
Fora a manutenção rotineira, existem os reparos emergenciais, principalmente na sinalização, alvo constante de vandalismo: somente entre janeiro e julho deste ano foram 30 ocorrências. Outro problema é o compartilhamento de suas vias com o transporte de cargas. Algumas composições cargueiras chegam a carregar 30 mil toneladas por viagem.
