Tratamento da insônia agora engloba depressão

Folha de São Paulo - Domingo, dia 3 de setembro de 2006

dom, 03/09/2006 - 11h18 | Do Portal do Governo

Para médicos, doenças estão ligadas em “via de mão dupla”; antidepressivos são opção

70% da população tem insônia em algum momento da vida, podendo ser aguda ou crônica e se manifestar de diferentes maneiras

CONSTANÇA TATSCH

DA REPORTAGEM LOCAL

Os médicos do sono tratam a insônia, cada vez mais, juntamente com a depressão. Segundo especialistas, as doenças estão fortemente ligadas.

Com isso, médicos que assumem casos crônicos estão alertas para uma depressão preexistente, em que a insônia surge como um sintoma, ou para a possibilidade de o quadro depressivo se instalar após algum tempo, como conseqüência. Cerca de 90% dos casos de depressão apresentam insônia crônica associada.

“É um novo conceito. Isso guia a prática clínica e a pesquisa. A ligação é muito forte entre depressão e insônia. É uma via de mão dupla, um fenômeno simultâneo”, explica Flávio Alóe, do Centro para os Estudos do Sono do Hospital das Clínicas.

Geralmente, a insônia começa antes da depressão, continua e termina depois. Quando o insone chega sem o problema, entre 6 e 12 meses depois, a doença se instala.

Os medicamentos também seguem essa linha de conduta. O consumo de antidepressivos com efeito sedativo -quase um dois em um- está crescendo mais de 100%, de acordo com Dalva Poyares, neurologista e coordenadora do Instituto do Sono da Unifesp. “Essa é a última moda. Nos próximos anos vai ter uma chuva de antidepressivo-sedativo. Sabe-se que a depressão faz parte da evolução da insônia”, diz.

A outra opção é combinar um hipnótico com um antidepressivo. Para Flávio Alóe, essa é a melhor solução. “A pessoa toma um antidepressivo potente e, se tiver insônia, toma dois remédios. Os dois em um não são nem um antidepressivo forte, nem um hipnótico seguro.” O médico diz ainda que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está ficando cada vez mais rigorosa, exigindo remédios com um fim específico.

Independente da solução, a maior preocupação dos médicos e da indústria é apostar em medicamentos seguros -com menos efeitos colaterais.Doença

Acredita-se que 70% da população tenha insônia em algum momento da vida. A doença pode se manifestar na forma aguda, causada por algum problema pontual como morte de um familiar ou perda do emprego, ou crônica, que dura muito tempo. Ela também pode ser inicial, quando a pessoa demora para dormir, de manutenção, quando acorda e tem dificuldade em cair no sono novamente, e terminal, quando acorda antes do desejado.

“Algumas pessoas têm a insônia psicofisiológica, quando as causas são psicológicas, como hábitos errados”, afirma Geraldo Lorenzi, coordenador do Laboratório do Sono do Incor. Elas têm um nível de alerta elevado, por isso são mais sensíveis aos hábitos que podem interferir no sono, como ter horários regulares, fazer refeições leves e evitar exercício físico à noite, não ingerir muita cafeína ou bebida alcoólica nem fumar demais e ter um ambiente adaptado ao sono -escuro e, de preferência, sem televisões. Também é desaconselhável ficar rolando na cama.

Segundo Lorenzi, não se deve tratar a insônia como “uma besteirinha”. É necessário acompanhamento médico e o tratamento vai depender da causa do problema.