Todos os caminhos que levam ao modernismo

O Estado de S. Paulo - Terça-feira, 29 de junho de 2004

ter, 29/06/2004 - 10h59 | Do Portal do Governo

Estação Pinacoteca exibe a partir de hoje o melhor do Stedelijk Museum, de Amsterdã

MARIA HIRSZMAN

Encontros com o Modernismo, exposição que será inaugurada esta noite na Estação Pinacoteca, realiza um duplo movimento: ao mesmo tempo que valoriza a excelência da arte moderna, exibindo um leque de artistas de tirar o fôlego, procura mostrar que não existe apenas um modernismo, progressivo e linear. Mas sim uma superposição de caminhos e investigações que permeiam a produção visual do século 20.

Para organizar os cerca de 80 trabalhos pertencentes ao acervo do Stedelijk Museum, o mais importante do gênero na Holanda, foram definidos três segmentos em torno dos quais se pode pensar a arte do período: Abstração, Expressionismo e Invenções Conceituais. Maarten Bertheux – diretor-adjunto da instituição de Amsterdã e curador dessa exposição itinerante, que já foi vista em Shangai e Cingapura e depois segue para o Rio de Janeiro – usa essas três vertentes fortemente presentes na coleção do Stedelijk Museum para organizar o pensamento, mas em nenhum momento faz uma divisão reducionista a partir delas. Afinal, difícil dividir em categorias estanques artistas como Kandinsky, Barnett Newman ou Mark Rothko.

‘No nosso museu buscamos maneiras de desafiar o público a ver de maneira menos rígida. Existem muitas histórias da arte moderna, assim como não existe apenas um barroco’, explica o historiador que, amanhã às 14h30, realiza workshop no MAM (Parque do Ibirapuera, Portão 3). O encontro é promovido pelo Fórum Permanente de Museus.

Na perspectiva de provocar novos e interessantes confrontos, Bertheux coloca lado a lado obras que aparentemente têm pouca relação por pertencerem a tempos distintos e autores separados por grandes distâncias de tempo e espaço, mas que juntas abrem novas perspectivas de diálogo. É o caso, por exemplo, da contraposição, logo no início da mostra, de Sol LeWitt a Mondrian.

O artista holandês, que é o grande destaque da exposição – sendo provavelmente o único a estar representado com dois trabalhos -, é visto como uma espécie de introdução à modernidade no século 20, ao buscar uma nova forma de representar a realidade, uma realidade mais espiritual, desvinculada do modelo renascentista da arte. Mas convive em pé de igualdade com outras estrelas (como Picasso, Duchamp, Dubuffet, Lucio Fontana, Pollock, Andy Warhol) e mestres do período. Dentre os quais foram incluídas 14 obras de artistas brasileiros pertencentes ao acervo da Pinacoteca.

Willys de Castro, Lygia Clark, Flávio de Carvalho, Tomie Ohtake, Nelson Leirner, Nuno Ramos – para citar alguns – permeiam toda a exposição, mostrando como a arte brasileira dialoga e constrói seu próprio caminho a partir dos modelos do centro hegemônico (leia abaixo). ‘É uma maneira de fazer uma história da arte mais inclusiva, de usar a coleção de forma didática e produtiva’, afirma o crítico Ivo Mesquita, que auxiliou na escolha dos trabalhos brasileiros.

Por causa do perfil histórico do acervo da Pinacoteca, o diálogo com os brasileiros se pauta mais em função dos núcleos dedicados ao abstracionismo e expressionismo do que no segmento intitulado Invenções Conceituais, responsável por trazer essa história do modernismo até nossos dias.

No entanto, essas categorias – assim como a importância de determinada produção no contexto mais geral da arte do século 20 – são questões menos relevantes para o curador. Evidentemente, dentro desse panteão que contempla de modernistas clássicos até exemplos típicos do pós-modernismo – ‘no lugar de uma arte que impunha fortes valores morais sobre si mesma, surgiram expressões artísticas nas quais o cinismo, os valores econômicos e o espetáculo tornaram-se possíveis’ -, convivem artistas maiores e menores.

‘Existem grandes mestres e apenas bons artistas’, reconhece Bertheux, que considera essa mistura extremamente enriquecedora. ‘Nós, curadores, somos um pouco malabaristas. Procuramos colocar todos no ar e sabemos que há os mais pesados e aqueles que flutuam sozinhos’, resume.

Serviço – A Estação Pinacoteca fica no Largo General Osório, 66 – Luz. Fone: (11) 222-8968.
Funcionamento: De terça a domingo, das 10h às 17h30.
Ingressos: R$ 4,00 e R$ 2,00 (meia-entrada). Grátis aos sábados.