Tietê, patrimônio a preservar

Jornal da Tarde - Quinta-feira, 22 de setembro de 2005

qui, 22/09/2005 - 10h39 | Do Portal do Governo

Hoje, ‘Dia do Tietê’, conclamo a todos os paulistas para recuperarmos o rio que os nossos colonizadores já consideravam a ‘alma de São Paulo’

Geraldo Alckmin

Desde a Antiguidade, os rios estão ligados à história dos homens. Eles têm sido fontes de alimentação e irrigação, servindo também de caminhos para o desenvolvimento. Às suas margens se desenvolveram as civilizações. Países são com eles identificados, como a Inglaterra, pelo Tâmisa, e a França, pelo Sena. O Brasil também tem o Amazonas, o São Francisco, o Paraná.

Sem menosprezar nenhum deles, eu diria, parafraseando Fernando Pessoa, que eles podem ser maiores, mas, para mim, não são mais importantes do que o rio que corre pelo meu Estado.

São Paulo orgulha-se de ter este grande rio que é só seu. O Tietê, que nasce, corre e deságua, 1.110 quilômetros depois, em solo paulista. E, ao contrário dos outros rios, segue como os bandeirantes, de costas para o mar.

O Tietê está ligado à nossa história. Já foi o rio das bandeiras e hoje é a maior via de navegação fluvial do País, gerador de energia que sustenta o desenvolvimento. Mas o mesmo progresso que ele ajuda a criar o torna vítima da poluição. A partir dos anos 50, no trecho que atravessa a região de maior densidade demográfica do País, perdeu vida, transformado num escoadouro de sujeira.

Durante décadas, projetos para recuperá-lo foram anunciados, mas nenhum saiu do papel. A primeira iniciativa de recuperação só começou com uma negociação com o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID durante a Conferência Rio 92. Daí resultou a primeira fase do projeto, com a construção de usinas de tratamento de esgotos para a despoluição. A primeira fase do projeto de desassoreamento, do Cebolão a Santana do Parnaíba, foi iniciada e concluída pelo governador Mário Covas. Em 2002, com financiamento do Japan Bank for International Cooperation JBIC foi iniciada a segunda fase de desassoreamento: 25 km do Cebolão à Barragem da Penha. Com a explosão das rochas do leito, o rio foi alargado de 22 para 45 metros, e ganhou mais 2,5 m de profundidade, aumentando também a vazão de seus afluentes. Também foi iniciado projeto paisagístico, que está transformando as laterais do rio num jardim de 24,5 quilômetros, de cada lado, entre o Cebolão e a barragem da Penha.

Essa obra histórica se completa com a construção de 14 piscinões na Bacia do Tamanduateí e 4 na do Pirajuçara. É um marco na vida de São Paulo, ampliando os prazos de ocorrência das enchentes que causavam desespero e enormes prejuízos para a população.

Paralelamente, o governo desenvolve amplo trabalho de tratamento de esgoto e despoluição, o Projeto Tietê. Iniciado em 1995, é o maior programa de saneamento ambiental do País e tem por objetivo coletar e tratar o esgoto produzido pelos 18 milhões de habitantes da Região Metropolitana. Para isso, já foram construídos 1,5 mil km de redes coletoras; 3 Estações de Tratamento de Esgotos; 315 km de coletores-tronco; 37 km de interceptores e 250 mil ligações domiciliares. Assim, 550 milhões de litros de esgotos deixaram de ser despejados no Tietê e seus afluentes.

Na segunda fase, a ser concluída em 2007, estão sendo construídas grandes tubulações, comparáveis a túneis de metrôs, que vão interligar o sistema de coleta às estações de tratamento. Serão 33 km de interceptores; 110 km de coletores-tronco; 1,2 mil km de redes coletoras e 290 mil ligações domiciliares.

Apesar desse esforço, o Tietê dificilmente será o mesmo dos velhos tempos. Haverá, sim, melhoria da qualidade da água; as enchentes deixarão de ser constantes; diminuirá o mau cheiro, mas o rio, no trecho que atravessa a Região Metropolitana, ainda não oferecerá condições para o lazer e o esporte, como antigamente. Diferentemente do Tâmisa, que está próximo de sua foz e é caudaloso quando atravessa Londres, o Tietê nasce a alguns quilômetros de São Paulo e tem apenas 10 metros cúbicos de água por segundo, quando recebe um volume de esgotos cinco vezes maior. Isso significa que mesmo a manutenção dos ganhos já obtidos dependerá de uma atitude positiva de todos nós, evitando, principalmente a chamada poluição difusa – tocos de cigarros, papeis, garrafas de plástico, etc., atirados nas ruas.

Hoje, quando comemoramos o ‘Dia do Tietê’, resultado de iniciativa da Rádio Eldorado e da Fundação SOS Mata Atlântica, e data em que, em 2002, assinei a lei que criou a Semana de Preservação Rio Tietê, conclamo a todos os paulistas a se juntarem ao governo do Estado no esforço para recuperar o rio que os nossos colonizadores já consideravam a ‘alma de São Paulo’.

Geraldo Alckmin é governador do Estado de São Paulo