Testamento místico

Folha de S. Paulo - São Paulo - Quinta-feira, 25 de novembro de 2004

qui, 25/11/2004 - 9h00 | Do Portal do Governo

Exposição exibe pergaminhos e artefatos arqueológicos em SP

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo, no prédio do antigo Dops, expõe a partir de amanhã os mais antigos documentos da Bíblia hebraica, além de 80 artefatos arqueológicos encontrados numa região próxima ao mar Morto. É a primeira vez que a exposição ‘Pergaminhos do Mar Morto: Um Legado para a Humanidade’ vem à América Latina.

No início de 1947, dois beduínos estavam cuidando de suas ovelhas e cabras nas encostas dos penhascos próximos ao mar Morto quando um deles, Muhammad Adhdhib, ao procurar um animal desgarrado, reparou numa caverna e jogou uma pedra em seu interior. Depois de escutar um jarro se quebrar, decidiu subir o penhasco para ver o que era, sem imaginar que sua descoberta revelaria rolos de couro contendo livros da Bíblia hebraica e algumas obras desconhecidas.

O curador da exposição no Brasil, Robert Kool, descreve o achado desses documentos, escritos entre o terceiro século a.C. e o ano 68 d.C., como ‘um milagre’ e diz que há semelhanças entre as práticas delineadas na literatura de Qumran (na descrição de um grupo identificado como os essênios) e as dos primeiros cristãos, incluindo rituais de batismo, refeições e direito de propriedade.

Entre os dez pergaminhos expostos, há trechos de livros bíblicos como Gênesis, Êxodo, Deuteronômio, Levítico, Salmos e Isaías (os fragmentos encontrados na região ao sul de Jericó não incluem nenhuma parte do Novo Testamento), além de obras dos essênios, como o calendário e regras da comunidade.

Três deles são originais: Gênesis, Salmos e as regras da comunidade. A exposição inclui copos de medida, garrafas, jarros, potes, pratos, moedas, tigelas, sandálias e tecidos.

A fim de marcar a passagem de uma área mais voltada a painéis didáticos e objetos que permitem conhecer a comunidade que vivia na região para o local onde ficam os pergaminhos, os visitantes passam por uma caverna cenoplástica. Como explica Álvaro Razuk, responsável pela arquitetura e cenografia da exposição, para garantir a segurança e a conservação dos objetos expostos, os pergaminhos ficam em área climatizada protegidos por vidros antivandalismo, com fluxo luminoso controlado e filtro anti-UV, para retardar o processo de envelhecimento e impedir a proliferação de bactérias. Além deles, objetos de material orgânico como sandálias recebem cuidados especiais, com umidade relativa em torno de 50% e temperatura de 20ºC.

A mostra na Estação Pinacoteca, após temporada no Museu Histórico Nacional do Rio, que teve cerca de 150 mil visitantes num período de dois meses, é uma iniciativa da Calina Projetos Culturais e do Instituto de Antigüidades de Israel, que coordena a pesquisa arqueológica israelense. A exposição permanece em São Paulo até fevereiro. Mostras semelhantes foram feitas na Biblioteca do Congresso, em Washington, e no Museu do Vaticano.

Para incentivar o entendimento sobre a época e o local retratados na exposição, estão previstas atividades especiais para escolas, palestras e debates.

No dia 2 de dezembro, às 19h, a CIP (Congregação Israelita Paulista) promove o debate ‘A Importância dos Pergaminhos de Qumran para o Judaísmo e para o Cristianismo’, com participação de Celso Pedro da Silva, Waldemar Setzer, Luiz Calina e Roberto Romano. Em fevereiro, acontece um debate sobre ‘O Contexto Histórico e Geográfico de Quando Foram Escritos os Pergaminhos’ no mesmo local.

Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

PERGAMINHOS DO MAR MORTO. Onde: Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, SP, tel. 0/xx/11/3337-0185). Quando: de amanhã a 27/2; de ter. a dom., das 10h às 18h. Quanto: R$ 4 (entrada franca aos sábados).