Terceiro sinal para escola da praça

O Estado S. Paulo

seg, 26/10/2009 - 7h44 | Do Portal do Governo

Com o início da seleção de professores, é dada a largada para o centro de ensino teatral da Roosevelt 

Começa hoje, com a abertura do processo de seleção de professores, a concretizar-se o sonho de construção da São Paulo Escola de Teatro, um centro de formação de artistas teatrais situado na Praça Roosevelt, estruturado sobre uma base pedagógica inovadora, voltado sobretudo para formação de técnicos das artes cênicas. Idealizada e planejada por um coletivo de artistas – a partir de uma proposta feita diretamente pelo governador José Serra ao dramaturgo e ator Ivam Cabral, fundador do grupo Os Satyros numa de suas visitas ao espaço da trupe na Praça Roosevelt – trata-se de uma escola estadual, pública e gratuita, dirigida para jovens que tenham cursado o 2º grau. Será criada e mantida pelo governo do Estado e terá sua sede no número 210 da Roosevelt, ao lado do Espaço dos Satyros, num prédio de onze andares, atualmente vazio, que passará por uma reforma radical. 

Ao custo de 4,2 milhões, onze andares serão transformados em seis, para abrigar salas com pé direito alto, espaço para cenotecnia, camarins, biblioteca, teatro. O resultado da licitação foi publicado no Diário Oficial semana passada e espera-se que no segundo semestre próximo ano a adaptação arquitetônica esteja terminada. “Com isso o governo do Estado consolida uma ação de revitalização que se deu pela atividade dos grupos de teatro”, afirma o secretário de Cultura João Sayad. 

Instalações definitivas só no ano que vem, mas a escola, cuja inauguração oficial está prevista para o dia 25 de novembro com a presença do governador José Serra, não vai esperar, e já está funcionando, provisoriamente, na Oficina Cultural Amácio Mazzaropi, no Brás, prédio de 1911, que também passa por uma reforma. Lá a reportagem do Estado conversou com o diretor dos Satyros Ivam Cabral, responsável também pela direção da escola, e com o coordenador pedagógico Alberto Guzik. Antes de mais nada, chama atenção o planejamento curricular, cuidadosamente elaborado, dia a dia, para os dois anos de formação regular, que tem como linhas mestras o conceito de artistas formando artistas, de não-hierarquização de funções e de integração e articulação entre os diversos saberes. 

Não foi trabalho de curto prazo. “Quando o Serra propôs, em 2006, que pensássemos num centro de formação, imediatamente nos demos conta que era um projeto muito maior do que os Satyros”, diz Ivam Cabral. “Era para a cidade, para ficar muito depois de nós. Daí convidamos artistas de coletivos teatrais para pensar junto. Serroni e Raul Teixeira – referências em suas áreas -, eu nem conhecia pessoalmente. Foram mais de dois anos de reuniões. Os coordenadores foram sendo definidos naturalmente, no processo, mas o projeto é fruto de muitas colaborações”, diz Ivam. Em 2006, os Satyros desenvolviam um trabalho no Jardim Pantanal, na zona leste. “Essa experiência nos levou a pensar em formação técnica.” 

Não por acaso metade das vagas da escola será priorizada para alunos da rede pública. “E haverá bolsas de estudo com valores em torno de R$ 500 para cem alunos”, garantiu José Serra em entrevista, por telefone, ao Estado (leia acima). “Os saberes de ofício sempre foram transmitidos de artista para artista. Isso está se perdendo”, observa Guzik. Daí, a base conceitual fundada na articulação entre prática e sistematização de conhecimento. “Guilherme Bonfanti (o coordenador de iluminação, integrante do Teatro da Vertigem) não é apenas um técnico de luz: é artista criador, um mestre”, diz Ivam. “A gente descobriu famílias de camareiras, avó, mãe, filha. Nos Satyros jamais haverá camareiras, os grupos não trabalham com contrarregras, mas são profissionais requisitados em grandes salas, no cinema e na televisão. Numa conversa, Serroni (coordenador de cenografia) falou sobre perucas. Quem usa isso? Pois os musicais precisam desses profissionais”, completa Ivam. 

Funções de bastidores serão aprendidas pelos alunos que escolherem “técnicas de palco” como curso. “No palco há toda uma maquinaria e cordames que vêm da indústria naval”, diz Guzik. A sistematização do ensino teatral é mesmo recente. Saberes sempre foram passados através das gerações na atividade cotidiana. Quem recebia o bastão seguia adiante e o conhecimento avançava, quase naturalmente, tanto por sutis e lentas adaptações aos novos tempos como pela inovação pessoal dos mais talentosos. Uma pedagogia bem planejada pode recuperar esse processo vital no disperso espaço urbano. “Toda formação teórica, e a extensa bibliografia, estarão integradas à prática”, observa Ivam. 

Guzik ressalta a contribuição de José Simões. “Formado pela Unicamp, doutor pela USP, ele formatou o curso de artes cênicas da Universidade de Sorocaba. Nós ainda pensávamos em termos de grade, disciplinas, e ele nos fez ver que era modelo ultrapassado. A pedagogia contemporânea trabalha com conceitos como matrizes e componentes em processo integrado e dinâmico. Nada é estanque ou isolado.” Cada um dos oito cursos tem o seu coordenador (veja abaixo) e haverá processo de seleção para professores e alunos, estes em número de 25 por curso. 

A primeira etapa de seleção para aprendizes será uma redação. Para professores, currículo. “Artistas não raro são maltratados pelo poder público. Por isso, acho importante sublinhar a ação do governador, dizer que tivemos inteira liberdade pedagógica e recebemos muito apoio do secretário de Cultura João Sayad e do secretário adjunto Ronaldo Bianchi”, diz Ivam.