Tecnologia permite identificar criminosos

O Estado de São Paulo - Quinta-feira, dia 24 de agosto de 2006

qui, 24/08/2006 - 10h59 | Do Portal do Governo

Fotocrim, da Inteligência da PM, já tem quase 300 mil cadastrados e facilitou prisão de 700 pessoas

Roberta Pennafort

No dia 8 de agosto, a Polícia Militar de São Paulo recebeu uma denúncia anônima, segundo a qual um grupo de criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital, procurados pela Justiça, planejava atacar empresas de ônibus na zona leste. Havia informações sobre um deles: tratava-se de um homem de cor branca, olhos castanhos escuros, de prenome Claudio. Três dias depois, o bandido era preso, apesar dos poucos dados de que se dispunha.

Como a polícia chegou até ele? Bastou digitar “Claudio” e escolher as opções “pele branca”, “olhos castanhos escuros” e “zona leste” (sua suposta área de influência) no Fotocrim – programa usado pelo setor de inteligência da PM -, para constatar que o criminoso era Cláudio de Oliveira, de 36 anos. Graças ao Fotocrim, era menos um membro do PCC nas ruas.

Implantado em 1999, o software tem sido de grande valia no combate ao crime. Setecentas pessoas já foram presas graças à análise de dados fornecidos pelo sistema. Contra o PCC, o Fotocrim se mostra uma ferramenta eficaz. Em abril, antes do início da primeira onda de ataques, o programa já havia sido utilizado para prender outro bandido da facção. Partindo de uma denúncia, a polícia conseguiu parar Luiz Vanderlei Marques, de 45, que planejava atacar bases comunitárias da PM.

Tudo o que se sabia era seu apelido (Boca), o fato de ele ter tatuagens pelo corpo, o crime pelo qual já havia sido preso (tráfico de drogas) e sua “área de atuação” (Vila Formosa, na zona leste). Marques foi capturado em 13 de abril, um dia após o primeiro informe.

O Fotocrim já dispõe de dados de 297.231 pessoas, todas indiciadas pela polícia. É acessado mensalmente por 35 mil PMs (policiais civis têm acesso através de um sistema comum, o Infocrim, desde 2002). Lá existe um esmiuçado banco de dados sobre os bandidos. As quadrilhas às quais eles pertencem também podem ser conhecidas. Por vezes, localiza-se alguém justamente por suas conexões criminosas. Noutras, através de sua área de influência. E ainda por características físicas. “Acontece de a vítima só lembrar de detalhes do criminoso, como uma tatuagem ou cicatriz. E este detalhe pode ajudar a prendê-lo. Antes, não se prestava tanto atenção a minúcias”, diz o capitão Ulisses Puoso, chefe da área de banco de dados do setor de inteligência da PM.

O sistema foi desenvolvido a partir do programa norte-americano Lotus Notes, usado no mundo todo para enviar e receber e-mails, mas não como ferramenta de busca. Teve de ser adaptado no Centro de Processamento de Dados da PM. O custo para a PM foi baixo: entre mão-de-obra utilizada para a adaptação do software, a aquisição da licença do Lotus Notes e dos equipamentos, gastou-se R$ 267,6 mil.