Tecnologia e pesquisa contra o câncer

Folha de S. Paulo

sex, 27/11/2009 - 8h49 | Do Portal do Governo

No campo da medicina, algumas doenças tornam-se, mais do que outras, um grande desafio para a comunidade médico-científica. O crescimento desordenado e anormal de células, não transmissível de pessoa para pessoa, que pode espalhar-se pelo corpo e levar o paciente à morte é um desses fenômenos que há séculos intrigam profissionais de saúde de todo o mundo. A busca por respostas e a necessidade de encontrar meios para controlar a doença, retardando seu avanço, reduzindo a morbidade e evitando ou adiando óbitos, são as molas que impulsionam o avanço da pesquisa científica na busca por novos medicamentos, exames e tratamentos que proporcionem maior qualidade de vida aos pacientes oncológicos.

Trata-se de uma tarefa extremamente complexa, uma vez que estamos falando de um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o avanço de células malignas por diferentes órgãos e tecidos do corpo, que se multiplicam de forma agressiva, rápida e, por vezes, incontrolável.

Em São Paulo, onde o Inca (Instituto Nacional de Câncer) estimou 134 mil novos casos de câncer para 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) vem ganhando cada vez mais relevância no investimento em tecnologia e pesquisa para o combate ao câncer, visando ampliar a oferta de procedimentos aos pacientes da rede pública e contribuir para o avanço dos estudos científicos na área da oncologia.

A Secretaria de Estado da Saúde está investindo R$ 77 milhões em quatro grandes projetos a serem implantados no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), inaugurado em maio de 2008 para ser o maior centro de oncologia da América Latina e um dos maiores do mundo.

Nos próximos meses, o Icesp, vinculado à Faculdade de Medicina da USP e sob gestão da Fundação Faculdade de Medicina, ganhará o maior centro de diagnóstico por imagem de câncer do Brasil.

Serão seis tomógrafos, quatro ressonâncias magnéticas, três equipamentos de medicina nuclear (dois PET-CTs e um SPECT-CT), 13 equipamentos de raio X, dos quais 9 serão móveis, dez ultrassonografias (duas cardiológicas) e duas mamografias digitais à disposição para os pacientes do SUS. As salas de laudo estão sendo ampliadas e modernizadas. De sete disponíveis, haverá um salto para 50 estações diagnósticas e outras 25 de planejamento.

No parque radioterápico, já em construção, sete bunkers subterrâneos abrigarão um aparelho de tomografia computadorizada de simulação, seis equipamentos de radioterapia e um de braquiterapia, técnica pela qual o material radioativo é colocado diretamente em contato com o tumor. Haverá também duas ultrassonografias, duas angiografias e mais uma tomografia computadorizada, todas voltadas integralmente para procedimentos intervencionistas.

Com tais recursos, São Paulo terá o maior e mais moderno centro de radioterapia da América Latina. Ainda em 2010, o Icesp se tornará o polo coordenador de uma rede composta por 20 grupos que atuam em pesquisa básica de câncer, com a entrega de seu Centro de Pesquisa em Oncologia Molecular.

Na nova unidade, um grande laboratório com plataformas multiusuários, será possível otimizar recursos, sistematizar a coleta, realizar o processamento de amostras e testes e acelerar a difusão dos resultados obtidos nas diversas frentes de pesquisa, hoje espalhadas por Hospital das Clínicas, InCor, Faculdade de Medicina da USP e Hospital A. C. Camargo, entre outras instituições.

O local atenderá programas de pesquisas clínicas, oncologia molecular (que estuda, por exemplo, novos marcadores para diagnóstico de tumores), inovações terapêuticas e, posteriormente, medicina regenerativa aplicada à oncologia. Haverá equipamentos e serviços comuns a todos os grupos de pesquisa, num total de 40 pesquisadores e 130 alunos de pós-graduação, incluindo microscópios a laser, sequenciadores de DNA, separadores de células e ambientes para cultivo de células e produção de DNA recombinante e vírus recombinantes.

Ainda na pesquisa, um dos braços direitos do Icesp será o Projeto Cíclotron, já instalado no complexo HC e que, a partir do próximo ano, permitirá a produção de medicamentos radioativos com capacidade de diagnosticar câncer em estágios primários.

Neste Dia Nacional de Combate ao Câncer, é gratificante saber que o SUS-SP não está medindo esforços para ampliar a assistência ao usuário e trazer cada vez mais respostas ao sem-número de dúvidas que a doença ainda provoca entre médicos, cientistas e população.

Giovanni Guido Cerri é diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira e professor titular da Faculdade de Medicina da USP