Técnicos ensinam sitiantes a garantir o próprio sustento

O Estado de S. Paulo - Suplemento Agrícola - Quarta-feira, 13 de outubro de 2004

qua, 13/10/2004 - 9h04 | Do Portal do Governo

Orientação principal para pequeno é formar, primeiro, uma área de subsistência

NIZA SOUZA

Permanecer no campo. Este é o grande desafio do pequeno produtor. A receita, segundo órgãos públicos que têm projetos para este tipo de produtor, é simples e vale para todos, independentemente da região. ‘O primeiro passo é criar a subsistência. O agricultor tem de tirar seu sustento e o da família de sua própria terra. A partir daí é que deve começar a pensar em produzir para vender’, diz o diretor-adjunto de Política de Desenvolvimento da Fundação Instituto de Terras de São Paulo (Itesp), Afonso Curitiba Amaral. Além de ajudar o agricultor familiar a se fixar no campo, o objetivo do Itesp, que é vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, é resgatar socialmente essas famílias, conforme explica Amaral.

O Itesp tem um programa específico para agricultores familiares e os resultados no Estado são considerados positivos. ‘O índice de permanência no campo no Estado é de 91%, um dos maiores do País’, diz Amaral. Segundo ele, hoje são quase 10 mil famílias atendidas no projeto.

Vida Nova[/INTERTITULO] – Em Mato Grosso, a Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Empaer) está desenvolvendo projeto similar. Chamado de Vida Nova, o programa está em fase de instalação – começou a ser difundido no início do ano – e é voltado tanto para agricultores familiares de assentamentos quanto para pequenos produtores rurais. ‘Muitos estavam desanimados, querendo deixar o campo. O objetivo do projeto é ajudá-los a se tornar economicamente viáveis, permanecendo, assim, no campo’, explica o diretor de Operações da Empaer, Jaime Bom Despacho da Costa.

O secretário de Desenvolvimento Rural de MT, Homero Pereira, destaca que o grande problema é a falta de maturidade do produtor, que planta já pensando na fase de desenvolvimento econômico, sem passar pela primeira etapa, a de subsistência. Costa complementa: ‘O agricultor pega a verba do governo e acha que, mantendo apenas uma cultura ou criação, vai sobreviver, e não planta mais nada. Ganha um dinheirinho, vai para a cidade, compra tudo de fora e volta para casa sem dinheiro.’ E é esse o principal apelo do projeto.

‘Mostramos para o produtor familiar que primeiro ele precisa produzir o mínimo para sua subsistência’, diz Costa.

Subsistência[/INTERTITULO] – A primeira lição do projeto Vida Nova é separar 1,26 hectare da terra, onde o agricultor vai produzir diversas culturas básicas, como arroz e feijão, para o sustento da família.

Este número não é ao acaso. Segundo Costa, é baseado em um estudo da FAO (órgão da ONU que cuida da segurança alimentar no mundo), que fez um levantamento e provou que essa área é suficiente para garantir o sustento de uma família de cinco pessoas. ‘Temos que pensar também numa área em que a própria família seja capaz de cuidar’, ressalta.

Pioneiras no projeto, desde o início do ano 60 famílias de produtores de um assentamento em Rondonópolis (MT) estão ‘testando’ o projeto, de forma coletiva, na região. Ao todo são 374 hectares. ‘É um projeto sério. Quando se cria a sustentação no campo é mais fácil chegar ao lucro’, diz o produtor Antônio Alves. ‘E, com orientação técnica, fica tudo mais fácil. Sempre tem algo que a gente não sabe.’

No modelo do projeto Vida Nova, numa área de 1,26 hectare (12.600 metros quadrados), são previstos o plantio de milho (2.600 metros quadrados), arroz (3.600 metros), feijão (2.600 metros), cana (mil metros), mandioca (500 metros), além de 300 metros quadrados para pequenos animais e aves (12 galinhas, 2 porcos e 1 cabra de leite), e o restante dividido entre o pomar (6 árvores de citros, 3 pés de abacate, 2 de goiaba, 2 de manga e 5 de banana) e a horta.

No projeto do Itesp não há recomendação de uma área específica, mas o primeiro passo é o mesmo: separar um pedaço da terra para o sustento próprio. O agricultor Osmar Forsinetti, de Teodoro Sampaio (SP), diz que destina cerca de 1 hectare para a lavoura doméstica. ‘Comecei com a horta, depois plantei arroz, feijão, milho e algumas frutas, como banana’, conta o produtor, que tem 18,5 hectares. ‘Também temos aves.’

Forsinetti acredita que, sem assistência técnica, não conseguiria ir tão longe. Nos cinco anos em que se tornou proprietário rural, além de tirar a subsistência da família de sua própria terra, ele tem cerca de 4 hectares para o plantio de alguma cultura (já plantou algodão, café e agora está substituindo por mandioca) e o restante para pasto. ‘Temos 39 vacas de leite, nossa principal fonte de renda’, diz. ‘Queremos produzir derivados do leite, para ganhar mais’, destaca o produtor.