Técnicos do IPT acompanham situação da Serra do Mar

A Tribuna - Santos - Quarta-feira, 18 de agosto de 2004

qua, 18/08/2004 - 8h50 | Do Portal do Governo

Da Reportagem

Enquanto milhões de veículos sobem e descem, a cada ano, a Serra do Mar pelo Sistema Anchieta/Imigrantes (SAI), uma equipe de profissionais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que reúne engenheiros, geólogos, geógrafos e tecnólogos, acompanha cada movimento do maciço rochoso. Sim, ele também se move. Não tão rapidamente quanto os carros, mas os centímetros deslocados implicam em riscos que essas pessoas querem prevenir.

Para isso, desde dezembro de 2002, época em que foi oficializado, com o apoio do Departamento de Águas e Energia do Estado (DAE) e da Metron Computadores, o Núcleo de Monitoramento de Riscos Geológicos (Nurg) do instituto realiza o acompanhamento das áreas de risco e das chuvas que atingem a Serra.

A Defesa Civil do Estado auxilia o IPT nesse trabalho. ‘‘Ela nos passa as informações’’, conta o pesquisador do instituto, Eduardo Soares de Macedo. Segundo ele, o Nurg mantém um banco de dados com mapas, relatórios e fotografias de locais onde há deslizamentos e enchentes.

‘‘Estamos colocando todo o acervo do IPT no banco de dados. E também possuímos um outro banco, com mortes por deslizamentos no Brasil’’, explica Macedo.

Além do acompanhamento das áreas de risco, o Nurg ainda desenvolve um projeto com a Petrobras para acompanhar os dutos que descem pela Serra.

Tempo real

Porém, para ficar completo o trabalho desses profissionais, o IPT estuda propostas do Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe) e de outras instituições para instalar equipamentos que permitam o acompanhamento em tempo real das condições da Serra do Mar.

De acordo com o pesquisador, com a colocação de postos telemétricos, cujas informações são enviadas via satélite, rádio ou mesmo telefone, os profissionais poderão fazer o acompanhamento das chuvas.

‘‘Também iremos acrescentar equipamentos que medem a movimentação das encostas’’, ressalta Macedo. Esses aparelhos, conforme ele, são instalados dentro do solo, permitindo que seja medida a movimentação, caso haja.

O pesquisador lembra a importância da Serra do Mar não apenas para o Estado, mas para outras regiões do País. ‘‘Imagina o que seria parar a Imigrantes, ou a Serra do Mar, que tem ligação com um dos portos mais importantes do Brasil’’.

Natureza

Segundo Macedo, a Serra do Mar não pára de cair. ‘‘Ela evolui, naturalmente, por deslizamentos. E isso pode ser acelerado pela presença humana. Nosso papel é fazer com que essa aceleração seja menor, que tenhamos tecnologia para diminuir essa atuação do homem sobre a natureza, na Serra do Mar’’.

Além de defender a natureza da ação humana, o IPT também precisa guardar o homem das manifestações dela. ‘‘Para isso, é necessário ter conhecimento’’, argumenta.

Apesar da ação do homem, a Serra do Mar, de acordo com o pesquisador, não mudou nos últimos anos. ‘‘Ela está igual. Existem trechos mais complicados, nas áreas ocupadas por população, como nos bairros-cota, em Cubatão, e regiões do Litoral Norte’’.

Também nas regiões de travessias de rodovias, ferrovias e dutovias (de água e petróleo) são verificados problemas no maciço rochoso, além de locais por onde passam linhas de transmissão de energia elétrica.

Deslizamentos

Os deslizamentos, conforme Macedo, podem ser prevenidos através do acompanhamento das chuvas e das vistorias de campo, que são feitas constantemente. ‘‘Em épocas de chuvas, fazemos plantões de 24 horas com a Defesa Civil do Estado’’.

Com a instalação dos equipamentos necessários e o acompanhamento em tempo real, é possível aumentar a velocidade de resposta a um deslizamento de grandes proporções, como o que ocorreu em 1999, no km 42 da Pista Sul da Via Anchieta. ‘‘Poderemos tomar atitudes mais rapidamente’’, conclui Macedo.

Órgão possui 105 anos, completados em junho

Além de ficar de olho na Serra do Mar, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) tem desenvolvido outros trabalhos no Estado de São Paulo, e até mesmo contribuído para dar cara a uma das capitais mais importantes do País. Para saber por onde andou o instituto nos últimos 105 anos, comemorados em junho passado, basta olhar para o edifício do Banespa, ou o Martinelli, ambos localizados no centro de SP, de cujas construções o IPT participou.

Criado em 1899 pela Escola Politécnica (que é de 1893), inicialmente o instituto chamou-se Gabinete de Resistência de Materiais. ‘‘Com o tempo, o gabinete aumentou e diversificou suas atividades’’, conta o assistente de pesquisa do Centro de Memória do IPT, David Cecchetti.

Nessa época, conforme Cecchetti, houve um boom da construção civil, o que determinou o crescimento da atuação do órgão. ‘‘Ele fazia o controle para a introdução de uma nova tecnologia, que era o concreto armado. O primeiro trabalho foi estudar a resistência dos materiais para a construção civil’’, explica o assistente.

Ele acrescenta que a tecnologia do concreto armado foi desenvolvida e consolidada pelo IPT. ‘‘O primeiro arranha-céu de São Paulo, construído em 1913, tinha oito andares. É o Edifício Guinle, que existe até hoje e fica no número 49 da Rua Direita’’.

Em 1926, o antigo gabinete virou Laboratório de Ensaio de Materiais. Somente em 1934 ganhou o nome Instituto de Pesquisas Tecnológicas. ‘‘O IPT participou de grandes obras, que hoje são a cara de São Paulo, como o Edifício do Banespa e o Martinelli’’, ressalta Cecchetti.

Além da construção civil, o IPT também foi pioneiro na caracterização e catalogação de madeiras, atuou na produção de componentes de avião, na década de 30, e até mesmo produziu aviões, como o IPT-0 Bichinho, que teve mais de mil unidades fabricadas pela Companhia Aeronáutica Paulista, no final da década de 40.

Historicamente, o instituto também teve participação direta na Revolução de 9 de julho de 1932. ‘‘O IPT, juntamente com a Escola Politécnica, produziu capacetes, granadas, explosivos, periscópios de trincheira e chapas blindadas’’, conta o assistente do Centro de Memória.

Atualmente, o órgão, que tem a administração indireta do Estado, presta assessoria na área de deslizamentos de encostas e áreas de risco e de gerenciamento de resíduos sólidos.

Em parceria com a Coperçucar e a Universidade de São Paulo (USP), o IPT desenvolveu um plástico biodegradável, feito a partir da cana-de-açúcar. ‘‘Ao contrário do plástico convencional, que leva mais de 100 anos para se decompor, esse se decompõe em dias’’, destaca Cecchetti. O plástico está sendo produzido por uma usina da Coperçucar e é exportado para vários países, entre eles a Alemanha.

Memória

Deslizamentos nas encostas da Serra do Mar, entre os km 42 e 52 da pista Sul da Rodovia Anchieta provocaram a interdição da Rodovia no dia 11 de dezembro de 1999. A queda de barreiras teve início na noite anterior, quando a lama começou a despencar de uma altura de 50 metros, despejando terra e vegetação no leito da estrada e soterrando dois veículos (não houve vítimas). O ponto mais grave da pista foi o km 42. Na estrada, entre os km 40 e 42,5, uma rachadura de 30 metros de comprimento, 15 centímetros de largura e 40 centímetros de profundidade precisou ser concretada por funcionários da Ecovias. Do dia 8 de dezembro até o dia 13, a Serra recebeu 462 milímetros de chuva, o que provocou os desmoronamentos de sete barreiras da Serra do Mar.