Sudoeste paulista inicia colheita de cevada

O Estado de S. Paulo - Suplemento Agrícola - Quarta-feira, 29 de setembro de 2004

qua, 29/09/2004 - 9h24 | Do Portal do Governo

Produtores, pioneiros na variedade cervejeira no Estado, devem colher mil toneladas nesta safra

JOSÉ MARIA TOMAZELA

Produtores do sudoeste paulista estão colhendo a primeira safra de cevada cervejeira no Estado. Os grãos dessa planta, parente do trigo, são destinados à produção de malte, principal matéria-prima da fabricação de cerveja. Os números são modestos: os 12 agricultores selecionados pela Secretaria de Agricultura plantaram 400 hectares e devem colher mil toneladas. Mas o potencial de crescimento é grande. O Brasil consome 1 milhão de toneladas de malte por ano. Para ser auto-suficiente, precisaria colher 1,2 milhão de toneladas anuais. A produção nacional, porém, concentrada no Rio Grande do Sul e no Centro-Oeste, atinge 300 mil toneladas/ano. Hoje, 70% do malte consumido pelas cervejarias brasileiras é importado.

O programa, visando a reduzir a dependência das importações, foi iniciado em 1999 pela empresa paulista Malteria do Vale, de Taubaté (SP). A indústria, uma das principais fornecedoras de malte para as cervejeiras brasileiras, consome 90 mil toneladas de cevada/ano e importa 60% desse total.

‘Descobrimos que São Paulo tinha condições de produzir a cevada cervejeira’, contou o gerente-geral Cássio Ciulla.

A malteria buscou a colaboração da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para desenvolver cultivares adequados ao Estado. Dos sete cultivares testados, o melhor foi o BRS 180, da Embrapa. Segundo Ciulla, a cevada produzida é igual às melhores disponíveis no mundo.

Resultados – No sudoeste paulista, os produtores estão conseguindo até 4 toneladas por hectare, em culturas irrigadas. Os plantios foram feitos entre o fim de maio e o início de junho. A colheita se estenderá até o fim deste mês. A produtividade está próxima da do Centro-Oeste, onde o rendimento é de 5 toneladas por hectare. Ali serão colhidas, ainda este ano, 5 mil toneladas.

Segundo o secretário de Agricultura paulista, Duarte Nogueira, a produção de sementes está sendo programada em função da demanda, por isso os agricultores interessados devem se inscrever nas unidades da secretaria. Ele vê na cevada uma das opções para cultivo de inverno, que se encaixa nos planos da secretaria de ampliar dos atuais 6,5 milhões de hectares para 8 milhões a área com culturas de inverno, em cinco anos. O crescimento vai se dar sobretudo em áreas de pastagens degradadas.

Pioneirismo – Os produtores que plantaram a cevada já são experimentados no cultivo de trigo, triticale e aveia. Segundo o consultor agrícola Guido Sanches, que acompanha as culturas, nos 100 hectares cultivados na região da Cooperativa Holambra II, em Paranapanema, a produtividade oscila entre 20 e 60 sacas por hectare. ‘É uma produção compatível com o trigo.’ Numa das áreas, do agricultor Henricus Joseph Beckers, a produção foi mais baixa por causa do ataque de um fungo. A variedade cultivada, a BRS 180, mostrou-se muito sensível.

‘Não conhecíamos bem a cevada, nem os efeitos do clima sobre esse cultivar, e faltou fazer um tratamento preventivo’, disse Beckers. Ele considera a cevada uma boa opção para a rotação de culturas na região.

O agricultor Otávio Jovelli, de Itaí, foi mais bem-sucedido. Em 30 hectares, estava obtendo média de 4 toneladas/hectare. ‘O produto é muito bom’, diz.

Os produtores estão recebendo R$ 550,00 por tonelada, R$ 130,00 mais que o trigo, cotado em R$ 420,00. Ciulla explica que o valor embute um bônus a título de estímulo e também pelo pioneirismo.