SP vai vender madeira para proteger florestas

O Estado de S. Paulo - Quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

qua, 14/01/2004 - 10h07 | Do Portal do Governo

Estado quer usar receita com manejo sustentado para financiar preservação

EVANILDO DA SILVEIRA

Derrubar floresta para proteger floresta. Essa é a idéia básica do Plano de Produção Sustentada, que o governo do Estado começa a colocar em prática este ano e tem duração prevista de 25 anos. A idéia é derrubar 1.000 hectares por ano – com o correspondente replantio de 1.000 hectares -, que produzirão 250 mil metros cúbicos de madeira, cuja venda vai render R$ 13 milhões. ‘Esse dinheiro será usado na recuperação e manutenção nas unidades de conservação e parques estaduais’, disse ontem o secretário do Meio Ambiente, José Goldemberg.

Antes, no entanto, que surjam críticas, ele se apressa em explicar que as árvores que serão derrubados são pinus e eucaliptos, plantadas em estações experimentais e florestas estaduais há mais de 30 anos. ‘Elas foram plantadas para serem exploradas mesmo’, explicou. ‘São as chamadas florestas de produção. O problema é que hoje elas estão se degradando. Se a gente não derrubar, os cupins vão comer.’

O Estado tem cerca de 27 mil hectares de áreas reflorestadas, que o Instituto Florestal, órgão encarregado de executar o plano anunciado ontem, começou a plantar em 1959. Na época, o objetivo eram pesquisas sobre espécies como pinus e eucalipto, que poderiam substituir as florestas de araucárias do sul do País, que estavam desaparecendo. O que sobrava das pesquisas era vendido. Até cerca de 15 anos atrás, houve vários planos de exploração sustentada dessa madeira. De 1990 para cá, porém, isso parou de ser feito.

A intenção agora é retomar a prática. A madeira poderá ser vendida para serrarias de porte médio nas regiões onde estão as florestas e madeireiras em geral. Além do dinheiro a ser arrecadado, Goldemberg enumera outros benefícios do plano. ‘Ele vai gerar 5 mil empregos diretos e 40 mil indiretos perenes por 25 anos’, garantiu o secretário. ‘Além disso, o replantio de mil hectares por ano vai seqüestrar da atmosfera por ano mil toneladas de carbono, um dos gases do efeito estufa.’

Os ambientalistas aprovam o plano, desde que sejam respeitadas algumas condições. ‘É uma boa medida, que já veio tarde’, disse o diretor da organização não-governamental SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani. ‘Mas é preciso transparência. A venda da madeira tem de ser feita por licitação e para empresas certificadas, que respeitam o ambiente. Além disso, é necessária a garantia de que o que for derrubado será replantado e as comunidades do entorno das florestas serão beneficiadas.’

Parque urbanos – Goldemberg também anunciou, ontem, um outro plano. Trata-se da recuperação dos parques urbanos, em parceria com empresas privadas. ‘Nós temos 120 parques no Estado, dos quais 18 estão na região metropolitana de São Paulo’, disse. ‘Esses não são de preservação de biodiversidade, mas mais para o uso da população. Um exemplo é o Horto Florestl, que é visitado por cerca de 10 mil pessoas nos fins de semana.’

Segundo Goldemberg, o principal objetivo do programa de recuperação dos parques é dar mais opções de lazer gratuito para a população. ‘O que falta em São Paulo são áreas verdes para as pessoas passearem e fazerem piqueniques embaixo das árvores’, disse o secretário. ‘Começamos a recuperá-las por Campinas. Fizemos um convênio com a prefeitura e parceria com a Petrobras, a Shell e a CPFL para recuperar o Parque Ecológico Monsenhor Salim. As três empresas investiram R$ 3 milhões.’

O próximo parque a sofrer intervenção será o Villa Lobos, onde serão abertas trilhas para caminhadas no meio dos seus 240 mil metros quadrados de área verde. ‘Além disso, vamos abrir para passeios um trecho do Caminho do Mar, a antiga estrada que ligava São Paulo a Santos’, anunciou Goldemberg. ‘Ela foi a primeira estrada pavimentada da América do Sul, mas estava degradada. Nós a recuperamos e vamos reabri-la.’