SP vai sediar 35 redes de pesquisa

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 25 de novembro de 2008

ter, 25/11/2008 - 9h18 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

O Ministério da Ciência e Tecnologia deverá anunciar depois de amanhã a criação de uma rede de pesquisa estratégica com mais de 90 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), distribuídos por todas as regiões do País – 35 deles no Estado de São Paulo, segundo apurou o Estado.

Cada instituto trabalhará com um tema específico. A lista de projetos paulistas aprovados traz uma gama de assuntos nas três grandes áreas do conhecimento: biológicas, exatas e humanas. Por exemplo: pesquisa de toxinas para o desenvolvimento de fármacos, genômica do câncer, análise de riscos ambientais, óptica e fotônica, engenharia de irrigação, controle de pragas, mudanças climáticas, bioetanol, astrofísica, células-tronco, estudos metropolitanos, violência e segurança pública.

Os 35 projetos serão financiados, meio a meio, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), num total de R$ 187 milhões. “O programa vai criar uma articulação nacional de pesquisadores”, disse o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz. “Foi uma iniciativa muito positiva do CNPq, e a Fapesp se engajou oferecendo recursos para aumentar o número de institutos que poderiam ser aprovados no Estado.”

A previsão inicial do programa para todo o País – quando o edital foi aberto pelo CNPq em agosto – era investir R$ 435 milhões em 60 institutos. O orçamento era formado por recursos do governo federal e das fundações de amparo à pesquisa (FAPs) de São Paulo, Minas e Rio. Desde então, recursos adicionais do Ministério da Saúde e das FAPs do Amazonas, Pará e Santa Catarina permitiram aumentar o volume de investimentos para R$ 520 milhões e o número de projetos aprovados, para mais de 90. A Fapesp também aumentou sua contribuição de R$ 75 milhões para R$ 93 milhões – com um aumento proporcional do CNPq.

O edital foi o maior da história da ciência e tecnologia no Brasil. Brito Cruz elogiou o rigor do processo de seleção, que incluiu a avaliação de especialistas estrangeiros. A lista completa dos escolhidos e os valores de cada projeto só serão divulgados na quinta-feira, em Brasília.

O objetivo do programa é agregar esforços e fortalecer a pesquisa em áreas consideradas estratégicas, como biotecnologia, nanotecnologia, biocombustíveis, agronegócio, biodiversidade, mudanças climáticas, energia, saúde e educação. Os projetos não prevêem a construção de edifícios. Os novos institutos serão semi-virtuais – funcionarão dentro de laboratórios já existentes, distribuídos em várias instituições, sob a coordenação de um pesquisador responsável numa instituição-sede.

O biólogo Marcos Buckeridge, da Universidade de São Paulo (USP), vai coordenar o INCT de Biotecnologia para o Bioetanol, que integrará 27 laboratórios em seis Estados. “A idéia é congregar o máximo possível de experiência”, disse Buckeridge ao Estado. O projeto receberá R$ 7 milhões em três anos para desenvolver o conhecimento básico necessário à produção de etanol de celulose, aproveitando o bagaço de cana como matéria-prima. “Vamos produzir ciência básica, ou quase aplicada, que possa ser útil ao setor produtivo”, disse Buckeridge. Entre os desafios está entender a estrutura da parede celular da cana (para liberar os açúcares que estão lá dentro) e prospectar fungos capazes de fermentar esse açúcares com eficiência.

A geneticista Mayana Zatz, também da USP, vai coordenar o INCT de Células-Tronco em Doenças Genéticas Humanas, que terá dois objetivos principais: criar um banco de células-tronco de pacientes com doenças genéticas e um banco de DNA de pessoas idosas saudáveis, cujos genomas servirão para a identificação de mutações e o estudo de doenças.

O trabalho será feito principalmente com células-tronco adultas, provenientes de tecido adiposo, polpa dentária, cordão umbilical e outros tecidos. “Vamos comparar as células de pacientes de uma mesma família que tenham a mesma mutação, mas em casos que um desenvolve a doença e outro, não”, explica Mayana. “Queremos entender o que protege algumas pessoas do efeito da mutação.”