SP premiará escola que evoluir no desempenho e na gestão

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 20 de agosto de 2007

seg, 20/08/2007 - 11h27 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

O governo de São Paulo vai premiar professores e outros funcionários de escolas estaduais que aliarem melhora no desempenho em avaliações e na gestão. Serão R$ 700 milhões dados às equipes das escolas, do diretor à merendeira, em forma de bonificação salarial a partir de 2008. Entre os itens considerados para o prêmio estão o número de faltas de professores, a estabilidade da equipe, contas de luz, água, telefone, além das notas do alunos em exames externos.

“Quanto mais a escola avançar em relação à meta determinada para ela, mais receberá. Se a escola está péssima e fizer um esforço muito grande, maior será a remuneração. Não será a melhor de todas que vai receber mais”, disse a secretária estadual de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, em entrevista ao Estado. O novo sistema faz parte do programa de ação montado por ela, que assumiu a pasta no fim de julho.

Essa e outras mudanças descritas a seguir serão anunciadas oficialmente pelo governo nesta semana. “Nossa prioridade é a melhoria da qualidade do ensino fundamental e do médio e para isso há elementos pedagógicos e de gestão”, afirma.

Maria Helena explica que para se determinar a meta de cada escola será preciso criar uma espécie de nota a partir dos indicativos atuais. No critério de desempenho dos alunos, serão usados os resultados no Saresp 2005, o sistema de avaliação feito pelo governo para os alunos da rede, e as taxas de reprovação. Elementos de gestão representarão 25% da meta a ser atingida e a aprendizagem, 75%. A idéia lembra o Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb) lançando pelo governo federal neste ano e que também determina metas, mas apenas leva em conta o desempenho dos estudantes.

Atualmente, a bonificação na rede estadual é dada apenas para professores mais assíduos. “É preciso ter algo mais criterioso para distribuir bônus”, diz. O dinheiro será transferido em três parcelas ao longo do ano e deve ser distribuído entre todos os integrantes da equipe escolar.

PROGRESSÃO CONTINUADA

A nova secretária defende a diminuição dos ciclos da progressão continuada, sistema que se tornou polêmico no País porque não possibilita a reprovação dos alunos ao fim de cada série. Defendido pela maioria dos educadores no mundo todo, o sistema de ciclos prevê que a escola se adapte aos estágios de desenvolvimento da criança. No lugar das séries entram os ciclos, períodos maiores para que o aluno assimile os conteúdos e as competências. As avaliações deveriam ser constantes, mas isso não funcionou na prática na rede estadual.

A ex-secretária Maria Lucia Vasconcelos já havia resolvido que os ciclos diminuiriam de quatro para dois anos, para que os alunos fossem mais avaliados. Maria Helena concorda e diz que isso vai ajudar a orientar o professor no período da alfabetização, entre 1ª e 4ª séries. “Todos os alunos de 8 anos devem estar plenamente alfabetizados ao fim da 2ª série em 2010.” Entre 5ª e 8ª, a secretária, porém, não quer mexer no período dos ciclos.

Outro problema da progressão continuada é a reclamação de que professores teriam perdido a autoridade em sala de aula porque não podem mais reprovar os alunos. A secretária diz que está elaborando uma forma de punição ao estudante que “não atingir a média, não fizer dever de casa”. “Estou pensando, podemos punir esse aluno com aulas aos sábados.”

ENSINO MÉDIO

A secretaria pretende mudar o currículo do ensino médio noturno. Ele terá disciplinas do ensino profissionalizante e dará um certificado a mais aos alunos. O projeto, segundo a secretária, será feito em parceria com o Centro Paula Souza e começará oferecendo certificação da área de administração. “É o telecurso técnico, uma mistura de curso presencial e semipresencial, mas que será oferecido no horário de aula na escola”, explica.

Atualmente, há 955 mil alunos no período noturno do ensino médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o antigo supletivo. O certificado será opcional para todos esses estudantes.

NOVA RECUPERAÇÃO

No mês que vem, começa a funcionar o boletim eletrônico nas escolas da rede. Segundo a secretária, ele vai permitir o monitoramento das avaliações dos alunos. “Existem muitas escolas que chegam ao fim do ano sem ter feito nenhuma avaliação”, diz. O boletim também vai deixar mais claro quais alunos participarão das novas aulas de recuperação, que serão instituídas na rede. “Hoje o reforço não existe, só existe no papel. Considerando a jornada atual, o professor não tem tempo para fazer reforço”, explica Maria Helena.

A nova recuperação vai ter materiais a distância e será dada por um tutor, que pode ser aluno bolsista de universidade e deve estar disponível também para plantões de dúvidas.

ESCOLA DA FAMÍLIA

“Não temos um projeto para acabar com a Escola da Família”, disse a secretária. O programa, que abria todas as escolas da rede aos fins de semana e oferecia atividades dadas por universitários bolsistas, era a menina dos olhos do ex-governador Geraldo Alckmin. No início do ano, ele foi reduzido pela ex-secretária. Maria Helena diz que existem escolas em que há 15 monitores bolsistas quando bastariam 5. “Seria muito mais útil que essas pessoas fossem lá nos dias de semana”, afirma. Por isso, segundo ela, a secretaria pretende rever o número de bolsistas – que têm parte de suas mensalidades nas universidades pagas pelo governo em troca do trabalho.

CONTEÚDO BÁSICO

A secretaria está elaborando materiais que definem os conteúdos e as expectativas de aprendizagem para cada série. “Os professores reclamam que não têm clareza do que deve ser desenvolvido em sala de aula”, diz a secretária. O material é uma orientação para professores, que continuam também a usar o livro didático. Maria Helena diz que não serão feitas apostilas para alunos, como chegou a ser questionado há alguns meses, quando o projeto foi anunciado pela ex-secretária.

Ela explica ainda que essa expectativa de aprendizagem será checada de dois em dois meses por avaliações dentro da escola. Serão criados ainda 12 mil novos cargos de professores coordenadores, que também terão a função de organizar o trabalho com o novo material, que está sendo elaborado pela Fundação Vanzolini. “Não é uma camisa-de-força, são conteúdos universais que a escola terá de cumprir e pelos quais será cobrada”, diz. Segunda ela, essa expectativa fará parte das questões do Saresp. O exame deste ano será em outubro.

FORMAÇÃO CONTINUADA

“Muitos professores dizem que isso não adianta nada”, diz a secretária. Ela conta que vai repensar os programas de formação de professores que existem atualmente. Maria Helena defende que os cursos estejam articulados aos problemas identificados nas avaliações, como o Saresp. Caso contrário, eles não têm resultado, afirma.

“Hoje as avaliações externas não são usadas, nem para os programas de formação nem para orientar os projetos das escolas”, diz Maria Helena. A educadora ficou conhecida por ser especialista em avaliações e criar exames como o Provão e o Enem no Ministério da Educação (MEC).

FRASES “Se a escola está péssima e fizer um esforço muito grande, maior será a remuneração” “Todos os alunos de 8 anos devem estar plenamente alfabetizados ao fim da 2.ª série em 2010” “Estou pensando, podemos punir esse aluno com aulas aos sábados”

  • Sobre alunos que não podem ser reprovados e tiram a autoridade do professor

“Existem muitas escolas que chegam ao fim do ano sem ter feito nenhuma avaliação”

“Hoje o reforço não existe, só existe no papel. O professor não tem tempo para fazer reforço”

“Os professores reclamam que não têm clareza do que deve ser desenvolvido em sala de aula”

“Muitos professores dizem que isso não adianta nada”

  • Sobre a formação continuada