SP gasta R$ 92 mi ao ano para tratar as “doenças do cigarro”

Folha de S. Paulo – sábado, 30 de agosto de 2008

sáb, 30/08/2008 - 16h53 | Do Portal do Governo

Folha de S. Paulo

No Estado de São Paulo, os pacientes que estão sendo tratados de doenças provocadas pelo cigarro custaram à rede pública de saúde, no ano passado, pelo menos R$ 92 milhões.

O cálculo foi feito, a pedido da Folha, pela Secretaria de Estado da Saúde e inclui os gastos que o Ministério da Saúde, o governo estadual e as prefeituras paulistas tiveram em 2007 com internações de pacientes e sessões de quimioterapia e radioterapia.

Anteontem, o governador José Serra (PSDB) enviou à Assembléia Legislativa um projeto de lei que proíbe o cigarro em todos os ambiente coletivos fechados, até mesmo nos chamados fumódromos. Se aprovada a lei, só será permitido fumar ao ar livre e dentro de casa.

Um dos argumentos do governo é justamente o gasto elevado do tratamento das doenças decorrentes do fumo. Reconhecido como doença, o tabagismo dá origem a outros 56 males, como diversos tipos de câncer, bronquite, osteoporose e até impotência sexual.

Os R$ 92 milhões que o SUS (Sistema Único de Saúde) gastou no ano passado no Estado de São Paulo foram para o tratamento de pacientes com câncer (principalmente de pulmão, laringe e esôfago) e doenças cardíacas e circulatórias. Foi considerada a fração dessas doenças que, de acordo com a literatura médica, tem origem no cigarro. Isso varia de acordo com a doença; no caso de câncer de pulmão, 90% dos casos têm o fumo como causa.

Com essa quantia é possível bancar por um ano o funcionamento de dois hospitais públicos de médio porte, com cerca de 200 leitos cada um.

“É um volume expressivo de recursos, especialmente se levarmos em conta que essas doenças podem ser prevenidas”, diz o secretário estadual da Saúde de São Paulo, Luiz Roberto Barradas Barata. “E a questão não são apenas os recursos, mas a qualidade de vida. Os cânceres de pulmão, bexiga, laringe e esôfago, por exemplo, são doenças muito graves ligadas ao tabagismo. As pessoas definham, têm uma morte lenta e dolorosa.”

Segundo a economista da saúde Márcia Pinto, da Fundação Oswaldo Cruz, o valor que se gasta com internações, quimioterapia e radioterapia é “apenas a ponta do iceberg”.

Ela lembra que as doenças decorrentes do tabaco incluem exames, remédios, os chamados cuidados paliativos e até mesmo as aposentadorias por invalidez e as pensões que passam a ser pagas precocemente. “Quando morre ou se aposenta por invalidez, a pessoa deixa de produzir”, acrescenta.

No final do ano passado, Márcia defendeu na Escola Nacional de Saúde Pública um trabalho de doutorado em que calculou os custos do SUS com as doenças do cigarro. De acordo com ela, só com os novos casos de câncer de pulmão, esôfago e laringe, o dispêndio anual é de cerca de R$ 1,12 bilhão. Um doente de câncer de pulmão avançado, por exemplo, custa R$ 29 mil até sua morte ou alta.

A médica sanitarista Tânia Cavalcante, que coordena no Inca (Instituto Nacional de Câncer) o Programa Nacional de Controle do Tabagismo, elogia o projeto de lei apresentado em São Paulo. “Não existem níveis seguros de exposição à fumaça do cigarro”, diz ela.