SP ganha mais dois laboratórios de alta segurança

O Estado de S. Paulo - Segunda-feira, 28 de junho de 2004

seg, 28/06/2004 - 10h26 | Do Portal do Governo

Instalações de nível 3 vão trabalhar com o vírus da raiva e a bactéria da tuberculose

ADRIANA DIAS LOPES

Dois novos laboratórios especiais para o estudo de microrganismos de alta periculosidade serão inaugurados amanhã em São Paulo. Ambos terão nível de biossegurança 3 (NB3+), o segundo mais rígido para manipulação de vírus e bactérias. Com isso, sobe para quatro o número de laboratórios desse tipo inaugurados este ano pelo Ministério da Saúde – os outros dois estão em Pernambuco e no Ceará. Até o fim de 2004 serão mais cinco e em 2005, mais três.

As novas instalações estão no Instituto Adolfo Lutz, para trabalhar com a bactéria da tuberculose, e no Instituto Pasteur, para pesquisar o vírus da raiva. O custo total dos dois laboratórios, de R$ 5 milhões, foi dividido entre o Ministério da Saúde, Secretaria de Estado da Saúde e Banco Mundial.

Cada um tem cerca de 150 metros quadrados e abrigará equipes de 10 pesquisadores. ‘A segurança é toda pensada para que os organismos não escapem dos limites do laboratório e para que os pesquisadores que lidam com eles não se contaminem’, conta Luiz Jacinto da Silva, epidemiologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

As medidas de segurança são estruturais. Todo ar é trocado de 3 em 3 minutos, por exemplo. Mais: a água usada é tratada termicamente. Antes de ser descartada, assim como qualquer outro material usado no laboratório – inclusive os uniformes dos pesquisadores -, fica por uma hora sob temperatura de 130º C. ‘Não há vírus que suporte’, garante Silva.

Quanto maior o nível do laboratório de biossegurança, mais potente é o vírus e a bactéria que ele pode abrigar. Além do 3, suficiente para organismos patogênicos como os do hantavírus e da Sars, há os de nível 2 (seguro apenas para a manipulação de vírus e bactérias em cultura) e os de nível 1 (parecido com laboratórios clínicos, apenas para diagnósticos). Acima de todos, há o nível 4, para vírus extremamente perigosos e com alto poder de contágio, como o ebola.

Os mais modernos no Brasil, entretanto, são de nível 3. Além dos laboratórios montados pelo ministério, o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) também ganhou um em novembro do ano passado, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A própria Fapesp vai lançar outros dois laboratórios, um no Adolfo Lutz e outro em Ribeirão Preto. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) tem um desde 2002 e, finalmente, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais dois.

Por enquanto, os patrocinados pelo ministério e secretarias estaduais de Saúde não estão funcionando. Mesmo os de amanhã não entrarão em operação tão cedo. ‘Os funcionários precisam ainda ser treinados’, revela Edison Luiz Durigon, virologista da USP, assessor de Biossegurança do Ministério da Saúde e um dos profissionais responsáveis pelo treinamento, que deve começar em agosto.

Os pesquisadores aprenderão, principalmente, como manipular os microrganismos com segurança. Por exemplo, como devem se movimentar dentro do laboratório. ‘Deve ser o mais lento possível’, conta Edison. ‘O fluxo do ar não pode ser alterado.’