SP cobra mais uma Bolívia em gás

O Estado de S. Paulo – quarta-feira, 07 de novembro de 2007 A Secretaria Estadual de Energia e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vão cobrar […]

qua, 07/11/2007 - 15h43 | Do Portal do Governo

O Estado de S. Paulo – quarta-feira, 07 de novembro de 2007

A Secretaria Estadual de Energia e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vão cobrar da Petrobrás e do governo federal garantias firmes de que a oferta de gás natural será elevada entre 30 milhões e 36 milhões de metros cúbicos em 2008, o equivalente a mais de uma Bolívia em gás. Em reunião na segunda-feira, o governo paulista e a Fiesp concluíram que essa expansão é condição essencial para se evitar um megaapagão do gás no próximo ano, risco ampliado se o ritmo da economia se mantiver nos atuais 5%.

‘Em que pese que o governo federal esteja dizendo que não vai faltar gás, o fato é que não está demonstrado claramente de que realmente não faltará’, disse a secretária de Saneamento e Energia, Dilma Pena. Segundo ela, o governo de São Paulo já pediu encontros com a Petrobrás e os Ministérios da Casa Civil e de Minas de Energia para obter informações sobre o andamento dos projetos que poderão ampliar a oferta de gás a partir de 2008. Ela criticou o governo federal dizendo que há demonstração de ‘falta de previsibilidade’ e ‘confusão decisória’ para solução da crise.

A Fiesp e o governo de São Paulo já sabem quais projetos cobrarão rigor em prazos. À oferta atual é imperativo acrescentar 5,5 milhões de metros cúbicos do Campo de Merluza, na Bacia de Santos, 24 milhões da Bacia do Espírito Santo (inclusive a garantia de que o gasoduto que levará o gás ao sistema do Sudeste esteja concluído) e mais 7 milhões em importação de Gás Natural Liquefeito (GNL), combustível que será regaseificado numa estação no Rio de Janeiro.

De acordo com Saturnino Sérgio da Silva, diretor do Departamento de Infra-estrutura da Fiesp, ainda não há garantias firmes por parte da Petrobrás de que todos esses projetos poderão operar em 2008. A principal preocupação ainda é o setor elétrico e a dependência que o País continua tendo das térmicas a gás em momentos de baixa nos reservatórios.

A Petrobrás foi obrigada este ano a desviar mais de 10 milhões de metros cúbicos de gás para a geração térmica, segundo exigência do termo de compromisso assinado com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Isso por causa da redução do nível dos reservatórios da hidrelétricas, algo que pode ou não se repetir em 2008.

‘No ano que vem, a situação será mais séria. A Petrobrás está obrigada a disponibilizar cerca de 20 milhões de metros cúbicos para gerar 4 mil megawatts. Sem um aumento de oferta de pelo menos 30 milhões de metros cúbicos de gás a situação pode ficar muito séria para os consumidores’, afirma.

MERCADO ‘IMATURO’

A situação do mercado brasileiro de gás é tão esdrúxula que, por mais bizarro que possa parecer, o esforço que a Petrobrás pode fazer para expandir a oferta em 2008 pode resultar numa sobra de gás no ano que vem. Parece impossível, mas não é. Se o volume de chuvas for muito elevado, as térmicas a gás não precisarão ser ligadas.

Se isso ocorrer, a Petrobrás ficará com sobra de gás. Para não deixar todo o gás parado, a companhia voltará a fazer contratos e disponibilizar o gás para a indústria, as residências ou para consumo como combustível automotivo. ‘Vão dizer que a Petrobrás está novamente estimulando o consumo, e estará mesmo. Mas ela também não pode ficar com o gás parado. O problema da escassez volta se, no futuro, a Petrobrás tiver que desviar gás para abastecer as térmicas’, diz Silva.

Segundo ele, todo esse problema decorre do fato de o governo determinar que o gás natural tem uso prioritário para a geração de energia elétrica. Toda vez que houver risco no abastecimento no sistema elétrico brasileiro, o gás será desviado para abastecer as térmicas. É por isso que parte do gás vendido pelas concessionárias estaduais é entregue pela Petrobrás sem um contrato. A Comgás, por exemplo, recebe 1,9 milhão de metros cúbicos por dia, dos 14 milhões que distribui, sem contrato.

DIFERENÇA

30 milhões

de metros cúbicos é a quantidade de gás necessária, segundo a Fiesp e a Secretaria de Energia, para se evitar um apagão em 2008

20 milhões

de metros cúbicos será o volume de gás que a Petrobrás deverá disponibilizar para a geração termelétrica no ano que vem