Solução de crime cresce com Disque-Denúncia

Correio Popular - Campinas - Quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

qui, 13/01/2005 - 9h48 | Do Portal do Governo

Gerenciado pelo Movimento Vida Melhor, serviço ampliou desvendamento de casos em 18%, média de 1,3 crimes solucionados ao dia

Patrícia Azevedo
Da Agência Anhangüera

O serviço Disque-Denúncia(19 32363040), gerenciado pela Organização Não-Governamental (ONG) Movimento Vida Melhor, fechou o ano de 2004 comemorando bons resultados. O número de denúncias cresceu 47% no ano passado e a média de crimes solucionados aumentou 18%, passando de 1,11 em 2003 para 1,3 por dia em 2004. Desde o início das operações do serviço, em fevereiro de 2002, 1.249 crimes foram solucionados com a ajuda dos cidadãos.

De acordo com o levantamento divulgado pela ONG, foram feitas 8.570 denúncias no ano passado que ajudaram a Polícia Civil e a Polícia Militar a solucionar crimes e prender criminosos. O coordenador nacional do Disque-Denúncia, Zeca Borges, diz que o crescimento está dentro da expectativa e revela que a população “está cada vez mais confiando no Disque-Denúncia”. Para ele, o crescimento do número de denúncias reflete o aumento da confiança da população no serviço.

O coordenador destaca ainda o trabalho da polícia como um dos motivos que levaram ao aumento das denúncias. “O que faz a diferença em São Paulo é a atuação da polícia, que é muito boa”, elogia. Ele diz, ainda, que o bom relacionamento entre as autoridades policiais e os funcionários do Disque-Denúncia

O sucesso da entuidade pode ser explicado também pela divulgação dos casos resolvidos pela imprensa e pela propaganda feita em ônibus, delegacias e na mídia de um modo geral. Isso ocorre porque, segundo os profissionais da central, quando a pessoa lê no jornal ou vê na televisão que um criminoso foi preso após uma informação repassada ao Disque-Denúncia, percebe que o serviço funciona e que sua ligação não será em vão.

Há ainda casos nos quais a polícia procura o serviço para saber se há informações sobre pessoas ou fatos que já estão sendo investigados. Nessa linha, o coordenador nacional destaca a parceria feita com os policiais da Delegacia Especializada Anti-Seqüestro de Campinas (Deas). “A Polícia C-vil de Campinas tem feito um excelente trabalho de combate a seqüestros e nós temos uma parceria muito boa com a Deas”, elogia Borges.

Esse repasse de informações só é possível porque o Disque-Denúncia monta um Banco de Dados e elabora dossiês sobre os casos mais denunciados. “Aqui desenvolvemos também um trabalho de inteligência. Montamos dossiês completos sobre pessoas e atividades criminosas”, conta o coordenado do serviço em Campinas, que não pode ser identificado.

Diversos casos

Entre os casos de maior destaque que foram solucionados no ano passado com a ajuda do Disque-Denúncia está o resgate do empresário Hugo Picolotto Jú-nior, que ficou 27 dias em poder dos seqüestradores. Com a ajuda de informações do Disque-De-núncia, a equipe da Deas descobriu o cativeiro e prendeu seis seqüestradores. Outros casos de destaque do ano passado citados pela equipe da central são a prisão do “matador do Cemitério”, acusado de assassinar três indigentes que moravam no Cemitério da Saudade; e ainda a prisão do irmão do bandido chamado Sasquati, um dos líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Os funcionários do Disque-Denúncia ressaltam a importância da participação popular para combater a criminalidade citando o caso de uma criança de 7 anos que era mantida amarrada pela avó dentro de casa só foi descoberto depois de uma denúncia anônima. A criança foi resgatada por policiais militares no dia 31 de dezembro depois de informações repassadas pelo Disque-Denúncia.

Números positivos

Balanço de 2004 do Disque-Denúncia de Campinas

Data da Abertura do Disque-Denúncia 7/2/2002

Total de denúncias em 2004 = 8.570

Total de atendimentos em 2004 = 16.323

Total de resultados positivos até 2004 = 1.249

Total de ligações com resultados positivos: 2.124

Média diária de casos solucionados = 1,3

Fonte: Disque-Denúncia

Tráfico lidera ranking da ONG

Mas nem só com números é possível medir o crescimento da atuação do Disque-Denúncia em Campinas. Segundo o coordenador nacional do serviço, Zeca Borges, um dos maiores resultados alcançados anualmente com a central é o atendimento policial. “Esse atendimento não é quantificado, mas faz toda a diferença”, avalia Borges. Ele explica que toda vez que o serviço recebe uma denúncia, por exemplo, de tráfico de drogas em uma rua ou bairro, repassa para a polícia, que vai até o local. “Se a polícia não encontrar os denunciados, esse atendimento não é contabilizado, mas certamente a presença policial naquele lugar, com o tempo, contribui para a diminuição da criminalidade”, acredita.

O tráfico de drogas é o crime mais reportado aos funcionários, respondendo a 39,4% das denúncias. Em segundo lugar vêm os crimes contra o patrimônio, como roubos e assaltos, com 19,23% das denúncias, seguido pelos os crimes contra a pessoa (incluindo idosos e mulheres), com 11,72% das ligações e, em quarto lugar, as denúncias de crimes contra a criança e o adolescente (11,15%).

O coordenador, no entanto, não se contentou com os resultados de 2004 e diz que para 2005 a expectativa é de registrar ainda mais ligações. “A expectativa é atingir a marca de 70 a 100 chamadas por dia”, acrescenta. Hoje, este número fica em torno de 40 ligações. Este ano a ONG deve intensificar as campanhas publicitárias e divulgar ainda mais os resultados obtidos. Outro plano previsto para 2005 é a regionalização do serviço prestado pela ONG, com a criação de dossiês e relatórios para determinados bairros e regiões da área de atuação. “Este mês de janeiro é de avaliação, vamos conversar com as autoridades policiais para discutir este assunto”, explica Borges.

O Disque-Denúncia foi im-plantado em 2002 e é mantido por meio de doações da iniciativa privada. O serviço, que nasceu com o objetivo de ajudar o trabalho da polícia a reduzir a criminalidade, foi implantado em uma época em que Campinas ficou conhecida no Brasil como a Capital do Crime. A péssima fama atribuída à cidade no momento foi em virtude da quantidade de seqüestros registrados. Um deles teve como desfecho a morte da cigana Rosana Meloti, assassinada com um tiro de fuzil por um dos integrantes da quadrilha de seqüestradores liderada por Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, preso em uma penitenciária do interior do Estado.

As denúncias feitas por meio do telefone (19) 3236-3040 são totalmente anônimas e a central não possui qualquer tipo de identificador de chamadas e não grava a ligação. “Apenas fornecemos uma senha para a pessoa acompanhar o andamento da sua denúncia”, explica o coordenador.