Software mede dose ideal de soro

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 10 de junho de 2008

ter, 10/06/2008 - 10h43 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

A idéia era simples, mas ainda não havia sido colocada em prática. Até que um aluno da pós-graduação em anestesiologia do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo, decidiu criar um software para medir em tempo real a quantidade de soro que o paciente necessita durante uma cirurgia. O resultado foi a queda no tempo médio de internação e menos complicações no período pós-operatório.

Estudos preliminares realizados com pacientes do HC indicaram que o tempo médio que os pacientes permanecem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) caiu de 4 dias para 1,4 com o uso da nova tecnologia, e o período de internação no pós-operatório caiu de 9 para 3 dias. Todos haviam passado por cirurgias de alto risco e tinham outras doenças associadas.

“Antes, tínhamos de parar o que estávamos fazendo durante a cirurgia para calcular e chegar ao valor exato da quantidade de soro que deveria ser administrado. Apesar de confiável, isso atrapalha o procedimento”, diz o anestesiologista Marcel Rezende Lopes, criador do software.

O programa desenvolvido no HC estabelece as quantidades que devem ser administradas ao paciente de acordo com a variação da pressão arterial e freqüência cardíaca entre os movimentos de inspiração e expiração. A novidade foi acoplada ao monitor de sinais vitais utilizado nas operações, o que facilita o trabalho dos médicos.

Durante a cirurgia, a administração de líquidos e o monitoramento das funções vitais fica a cargo do anestesiologista. O excesso de soro pode causar problemas como edema pulmonar e complicações cardíacas. A falta de soro pode levar, por exemplo, ao comprometimento das funções renais.

O problema pode ser mais grave em cirurgias de alto risco, quando há possibilidade de mais instabilidade. Isso requer maiores quantidades de fluidos ou fármacos para auxiliar o sistema cardiovascular.

ECONOMIA

A chegada de sangue de maneira adequada às células depende da quantidade correta de líquidos injetados durante a anestesia. “Os métodos utilizados hoje não são tão sensíveis”, diz o anestesiologista do HC José Otávio Auller, orientador da pesquisa de Lopes, que se transformou em sua tese de doutorado.

Segundo Auller, o ganho vai além da maior precisão e segurança durante as cirurgias. “Quanto menor o tempo de internação numa UTI menor é a probabilidade de infecção”, diz.

O resultado, que diminui o tempo médio de internação e as complicações pós-operatórias, pode representar também economia para os hospitais. “Apenas no HC, são cerca de 50 mil cirurgias por ano, 30% com pacientes de alto risco que permanecem em média 12 dias internados”, afirma. “Se conseguirmos baixar em um dia o tempo médio de internação, já representará um economia importante.”

O método já foi testado no Instituto do Coração (Incor) e na Santa Casa de Passos, em Minas. O estudo prossegue agora com a participação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Faculdade de Medicina de Catanduva, interior do Estado, além de ser testado durante o acompanhamento de cerca de 300 pacientes – todos de alto risco – do HC. O Instituto do Câncer de São Paulo também terá o software.