Software confere maior precisão à mamografia

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 27 de junho de 2007

qua, 27/06/2007 - 11h46 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Pesquisadores da USP de São Carlos desenvolveram um sistema que permite obter em tempo real um diagnóstico mais preciso dos primeiros sinais do câncer de mama e evitar a realização de biópsias, desnecessárias em 80% dos casos. O sistema é o CAD.Net, protótipo do primeiro software nacional, acessado gratuitamente pela internet, para processamento de imagens mamográficas. Ele detecta e classifica as estruturas possivelmente ligadas aos tumores malignos ou benignos.

A classificação ainda não é possível em nenhum equipamento comercializado no mundo. Já a detecção pode ser feita por mamografias ou por meio de programas importados, que custam em torno de US$ 150 mil e são poucos no País. “Com o CAD.Net, é possível identificar sinais da doença que nem sempre são percebidos pela avaliação médica manual ou pela mamografia”, explica a engenheira elétrica Michele Fulvia Ângelo, autora da tese de doutorado que originou o protótipo na Escola de Engenharia Elétrica de São Carlos (EESC).

O sistema funciona por meio do processamento de imagens digitais de mamografias enviadas pela internet por médicos e radiologistas cadastrados no site do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens Médicas e Odontológicas (Lapimo), da EESC. As imagens são processadas e os resultados, enviados online de volta aos profissionais. O processamento inclui a análise de um banco de dados com 6 mil imagens e informações obtidas em pesquisas de processamento de imagens e de controle de qualidade realizadas nos últimos dez anos na Universidade de São Paulo (USP), unidade de São Carlos.

O processamento permite ao sistema detectar a existência de estruturas ligadas a tumores malignos ou benignos, destacando as áreas que necessitam de maior atenção, e classificar em índices porcentuais as probabilidades do potencial cancerígeno das lesões encontradas. “Ele possibilita, por exemplo, saber sobre microcalcificações, que não são possíveis de serem constatadas nas avaliações visuais da mamografia”, diz. Em 2006, o País registrou 50 mil novos casos de câncer de mama.

“A vantagem é podermos reduzir os casos de falsos positivos e as biópsias desnecessárias”, comenta Homero Schiabel, professor de tecnologia e orientador da tese. “Estudos apontam que 80% das biópsias são desnecessárias, e sabemos o impacto psicológico que elas têm sobre as pacientes.”

Além disso, o sistema pode facilitar o trabalho de profissionais que são obrigados a emitir grande quantidade de laudos e ajudar na redução do índice de 10% a 30% de mulheres que fazem a mamografia, recebem resultado negativo, mas na verdade têm câncer de mama.

Schiabel ressalta, no entanto, que somente o radiologista ou o médico podem emitir um laudo. “Esse sistema funciona com a experiência do profissional, não emite laudos, mas pode ajudar como ferramenta para casos de dúvidas em que a mamografia e o ultra-som não são suficientes para se chegar a um diagnóstico esclarecedor”, diz.

Nas avaliações com casos clínicos reais, extraídos de diversos módulos de pesquisas da USP, o sistema obteve um índice médio de 94% de taxa de sensibilidade (casos positivos identificados corretamente). Esse índice nos programas comerciais importados é de 84%.

A próxima etapa será avaliar a performance clínica do sistema, cuja pesquisa será feita em conjunto entre profissionais da Escola Paulista de Medicina, do Hospital das Clínicas de Botucatu e da EESC.

TECNOLOGIA

O CAD.Net está disponível pela internet 24 horas por dia no site do Lapimo. Para usufruir do sistema, o profissional precisa de um scanner de imagens digitais, que custa entre US$ 20 mil e US$ 28 mil.

Para reduzir os custos, o departamento de tecnologia da EESC desenvolve um novo scanner para digitalizar as imagens, cujo preço deverá ficar entre US$ 3 mil e US$ 3,5 mil. Além dos scanners digitais, o sistema aceita as imagens do Computer Radiograph (CR), a laser, um aparelho muito usado pelos centros médicos. Os scanners são necessários, explicou Schiabel, porque as imagens de filmes negativos dos raios X comuns têm de ser digitalizadas. “É uma mudança de paradigma. Os negativos estão sendo substituídos pelas imagens digitais e isso cria a necessidade de as escolas de Medicina preparem seus profissionais para trabalhar com recursos da informática aliados aos do processamento de imagens.”