Sir Maxwell obtém desempenho preciso da Osesp

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 7 de abril de 2008

seg, 07/04/2008 - 11h16 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Baseada num incidente pitoresco – um equívoco sobre seu nome num hotel americano -, Mavis in Las Vegas, de Sir Peter Maxwell Davis, é uma brincadeira musical. O modelo parece ser Um Americano em Paris, de George Gershwin: um estrangeiro anda pelas luzes da Meca do jogo, ouvindo os seus sons. Aqui o burburinho do cassino, ali uma capela para os casamentos instantâneos, mais adiante uma cena de rua, numa série de variações sobre o tema de Mavis, tocado pelo violino. A peça é colorida, episódica, com muita variedade rítmica e a Osesp se esmerou em reproduzir as sonoridades diversas solicitadas pelos diversos estilos nela fundidos. Mas o Mestre de Música da Rainha teria, em seu catálogo, coisas mais interessantes a mostrar ao público brasileiro, no concerto que regeu quinta-feira na Sala São Paulo.

Da Sinfonia nº 38 em ré maior KV 504 ‘Praga’, sir Maxwell ofereceu uma leitura muito límpida, de texturas muito transparentes, obtendo da orquestra um desempenho de extrema precisão. Mas foi uma interpretação circunspecta, cujos tempos lentos – especialmente no modorrento Andante – a tornaram bastante arrastada. Mesmo ao intenso Finale faltou aquela intensidade que faz da Praga uma das sinfonias mais originais de Mozart, marcada pela dramaticidade de seu contemporâneo, o Don Giovanni.

Muito mais satisfatória foi, na segunda parte, a maneira como Davis realizou a Sinfonia nº 22 em Mi Bemol Maior ‘O Filósofo’, essa pequena preciosidade da primeira fase da obra de Haydn. À mesma clareza e ao mesmo rendimento obtido dos músicos veio somar-se, desta vez, a capacidade de traduzir a combinação de seriedade que há na concentração do Adagio inicial e de bom humor que perpassa os três movimentos rápidos seguintes. Na variedade de coloridos que Haydn obtém, combinando o corne inglês com a trompa, está um dos encantos dessa sinfonia – e os sopros da Osesp se saíram muito bem, por exemplo, no trio do Minueto.

O décimo Strathclyde Concert, pertencente à série de peças que sir Maxwell dedicou aos chefes de naipe da Orquestra de Câmara Escocesa, da qual foi o regente, é um concerto para orquestra, que ‘solicita’ a participação solista de diversos instrumentos. Ao Allegro non troppo – Poco adagio inicial, muito dispersivo e fragmentário, parece faltar um foco dramático definido. A música dá a impressão de não saber muito bem para onde vai e o movimento é, seguramente, mais longo do que precisaria ser. Mas a peça começa a tornar-se interessante a partir do Lento, de caráter noturno e misterioso, perpassado por rompantes apaixonados e tempestuosos. Está sugerida aqui a paisagem brumosa da ilha de Orkney, onde o músico reside, e que inspira muitas de suas composições.

Ecos de dança popular perpassam o Moderato – Allegro final, o movimento mais bem resolvido. O seu impulso rítmico é substituído por um episódio lírico em que as cordas dialogam com as madeiras, e que leva a impetuoso ritmo de marcha que parece querer dar à peça um encerramento triunfante. Mas, subitamente, ela se interrompe, acabando de forma inesperada e enigmática. Esta, sim, é uma obra que, apesar de seus desequilíbrios estruturais e expressivos, oferece uma visão mais nítida do papel de sir Peter Maxwell Davis dentro da música britânica atual.