Simples, barato e eficiente

O Estado de S. Paulo - Terça-feira, 22 de junho de 2004

ter, 22/06/2004 - 9h21 | Do Portal do Governo

Editorial

Os resultados do programa Escola da Família – que permite a utilização das escolas estaduais pela comunidade nos fins de semana, para atividades de lazer e cultura – comprovam o quanto medidas simples e de baixo custo podem ser úteis na prevenção da violência. É de se lamentar apenas que as autoridades tenham demorado tanto para adotá-las.

Os dados colhidos pela Secretaria Estadual de Educação e divulgados em reportagem do Estado indicam que, numa comparação entre janeiro e maio de 2003 e o mesmo período de 2004 – quando já estava em vigor o programa -, a queda geral do número de ocorrências de atos de violência nas escolas foi de 16%. As invasões dos prédios caíram 30% e os roubos e furtos de materiais e equipamentos escolares diminuíram respectivamente 16% e 28%. A redução da violência sexual foi de 57% e a das ameaças físicas de 29%.

‘Agora, a gente tem com que ocupar a cabeça’, afirma o estudante Jefferson Leandro da Silva, de 19 anos, da Escola Estadual Dilson Machado Funaro, no Jardim Peri, resumindo o óbvio que bem poderia ter sido descoberto antes pelo poder público. Resta agora ao governo aprimorar ainda mais o Escola da Família, iniciado em agosto de 2003, com o apoio da Unesco, e que dá bolsas a 25 mil universitários em troca do trabalho de organização e acompanhamento da programação das escolas nos fins de semana. Educadores brasileiros e estrangeiros que defendem o projeto chamam a atenção, por exemplo, para a necessidade de melhorar ainda mais o trabalho de monitoramento das atividades executadas nesse novo período de abertura das escolas.

Em maio, o programa já tinha 7,5 milhões de participantes, número superior ao de alunos da rede estadual (6 milhões). Essa diferença se explica pelo fato de dele participarem também os pais de alunos e outros membros da comunidade. Além de atividades esportivas, aulas de dança e cursos de informática para os alunos, seus pais têm à disposição vários cursos profissionalizantes – manicure, pedicure, eletricista e cabeleireiro, entre outros.

Iniciativas como essa estão longe de ser uma panacéia. É preciso evitar, por exemplo, a armadilha da crença – ingênua no caso de alguns e, no de outros, com claro viés ideológico – de que há uma relação direta de causa e efeito entre violência e pobreza. Se fosse assim, a violência estaria banida, ou quase, dos países ricos, onde ela também vem aumentando nos últimos tempos.

Mas é inegável que as difíceis condições de vida nas periferias das grandes cidades agravam o problema. Daí a importância de programas como o Escola da Família. Um outro exemplo, na mesma linha, é o da cidade de Diadema, na Grande São Paulo, onde a conjugação de ações policiais e sociais levou, em cerca de dois anos, a uma redução de 50% dos homicídios. Como se vê, sem jamais perder de vista que o foco principal do combate à violência está na melhoria do aparelho policial e da eficiência da Justiça, muito pode ser feito, de forma complementar, na área social.