Shipway volta a reger a Osesp, agora com Elgar

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 16 de novembro de 2007

sex, 16/11/2007 - 12h44 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Após concertos dedicados a Schumann e Wagner, na semana passada, o maestro britânico Frank Shipway volta a reger a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo esta semana. Hoje e amanhã, ele comanda o grupo na interpretação de O Sonho de Gerontius, impactante peça do compositor inglês Edward Elgar baseada no poema de mesmo nome do Cardeal Newman, que trata dos problemas da fé religiosa de um homem à beira da morte. Entre os solistas, o tenor americano Anthony Dean Griffey e a meio-soprano Jane Irwin.

Na semana passada, Shipway fez valer a ida à Sala São Paulo com a segunda parte do programa. À frente de uma Osesp que se mostrou em sua melhor forma, o regente extraiu da orquestra um rendimento espetacular na execução de trechos sinfônicos das últimas óperas de Richard Wagner.

Karfreitagszauber (O Encantamento da Sexta-feira Santa), do terceiro ato do Parsifal, em que se destacou o trabalho do oboé com a sua melodia de serena beleza, teve a atmosfera mística e recolhida, mas ao mesmo tempo internamente vibrante, que requer esse trecho capital no desenvolvimento do drama. Mas foi no encadeamento de trechos do Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses) que o concerto teve seu melhor momento.

Luminosos na música do dueto de Siegfried e Brünhilde, de radiosa sensualidade; ameaçadores no chamado de Hagen aos Gibichungen; sinistros na música do funeral de Siegfried, em que ouvimos a recapitulação dos principais motivos que balizaram a trajetória do herói – os metais da Osesp raramente mostraram-se capazes de tanto brilho e equilíbrio numa partitura que os solicita de todas as maneiras possíveis. Também as cordas, ondulantes nos desenhos que sugerem o movimento das águas na Viagem de Siegfried pelo Reno; maliciosas e transparentes na música que evoca o encontro do herói com as Filhas do Reno, antes do episódio tenso de seu assassinato, contribuíram para o efeito geral de uma execução em que Shipway soube modular os diversos clímaxes, criando os contrastes necessários para que a seleção de trechos culminasse, de modo organizado e coerente, na música sublime da imolação de Brünhilde, e da cena final, em que o mundo é redimido por seu sacrifício e a devolução ao Reno do ouro amaldiçoado.

Essa segunda parte compensou amplamente pela sensação decepcionante deixada pela primeira, em que Jie Chen fez uma apresentação muito irregular do Concerto em Lá Menor Op. 54 de Robert Schumann. À jovem pianista chinesa, uma das premiadas do concurso da Osesp, não falta uma técnica brilhante; mas a sua execução mostrou-se desigual, ora com momentos felizes, de fraseado elegante, ora com martelados truculentos e passagens atropeladas – sobretudo no terceiro movimento – que não permitiam uma definição satisfatória dos desenhos melódicos.

O programa tinha se iniciado com a leitura correta, mas em o mesmo grau de envolvimento das peças de Wagner, da abertura para a música de cena de Manfred, também de Schumann. Foi, em todo caso, uma execução limpa e de alto nível – a despeito de andamentos uniformemente apressados que não beneficiaram a peça – destacando-se a passagem em que uma bela frase descendente das cordas, várias vezes repetida, leva à coda lenta, que traz de volta, apaziguado, o tema apaixonado do início, ligado à desesperança do personagem.

Serviço Osesp. Sala São Paulo (1.484 lugs.). Pça. Júlio Prestes, s/n.º, 3223-3966. Hoje, 21 h; amanhã, 16h30. R$ 25 a R$ 89