Serra sugere aos EUA relatório sobre Guantánamo

O Estado de S.Paulo - Quinta-feira, 8 de março de 2007

qui, 08/03/2007 - 12h35 | Do Portal do Governo

De O Estado de S.Paulo

Ontem, véspera da chegada do presidente George W. Bush ao Brasil, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), desafiou os Estados Unidos a redigir um documento sobre as violações aos direitos humanos cometidas na base americana em Guantánamo.

Com irritação e ironia, Serra reagiu ao relatório anual do Departamento de Estado americano sobre direitos humanos no mundo, que neste ano citou a violência em São Paulo, mais especificamente as mortes decorrentes dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo o documento, a polícia reagiu de forma exagerada, com prisões arbitrárias e execuções.

“Eu não li o relatório. Achei estranho que ele não menciona o assassinato de policiais. É curioso isso”, disse Serra, referindo-se às mortes causadas pelo PCC.

A onda de violência começou em maio, sob a gestão do governador Cláudio Lembo (PFL), logo após Geraldo Alckmin, correligionário de Serra, deixar o governo para se candidatar à Presidência.

Para o governador, os EUA também deveriam fazer um relatório sobre as violações cometidas pelo próprio governo americano. Ele se referia à base de Guantánamo, que se localiza em Cuba e está sob o domínio dos EUA. É para lá que os americanos levam prisioneiros de guerra e terroristas. No local, acusam entidades internacionais, os estrangeiros presos são torturados.

“Eu gostaria de ver também o relatório do Departamento de Estado sobre Guantánamo. Você não acha justo? Só para a gente poder olhar…”, afirmou Serra.

ETANOL

O governador também criticou os EUA por taxar o etanol brasileiro e subsidiar a produção local. “A questão básica do etanol neste momento são as tarifas norte-americanas. Os Estados Unidos pregam o livre comércio, mas quando é da sua conveniência eles deixam o livre comércio de lado. Há uma contradição”, queixou-se o tucano, sugerindo que o Brasil faça uma “batalha” para que os EUA abram seu mercado.

Ele citou que o galão do etanol brasileiro é taxado em US$ 0,54 ao entrar nos EUA. E que, além disso, cada galão do etanol americano recebe outros US$ 0,54 em subsídios do governo. “É protecionismo. Isso prejudica os consumidores norte-americanos, que poderiam estar pagando mais barato.”

Mais que preocupado com o consumidor americano, Serra pensa em São Paulo. O Estado responde por 75% de todo o açúcar e todo o álcool que o Brasil exporta – o que equivale a US$ 3,5 bilhões por ano. “A economia brasileira é mais aberta que a norte-americana. Aqui não temos expedientes de protecionismo não tarifário. Não temos taxas especiais.”

Serra participará do almoço que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá com George W. Bush amanhã, em São Paulo. Questionado se falaria sobre Guantánamo, respondeu: “Não vou perguntar isso para o Bush.” Em relação ao etanol, comentou: “Sou apenas um convidado. Mas, se for chamado a falar, falarei.”