Sensibilidade política

A Tribuna - Santos - Sexta-feira, 3 de setembro de 2004

sex, 03/09/2004 - 9h54 | Do Portal do Governo

Editorial

Mais uma vez Geraldo Alckmin (PSDB) demonstra sensibilidade política ao propor que a execução do trecho sul do Ferroanel fique sob a responsabilidade do Governo do Estado. Chega-se a este juízo sobre o governador por uma série de fatores relacionados ao papel do Poder Público no que tange ao desenvolvimento. E, neste caso específico, como o noticiário tem demonstrado, Alckmin está agindo como indutor do crescimento e defensor da economia paulista.

Aos fatos. Com obras avaliadas em R$ 400 milhões, o tramo sul do Ferroanel é um ramal de essencial importância ao escoamento das exportações de produtos elaborados em São Paulo. Afinal, o anel ferroviário tornará mais fácil e rápido o acesso de tais cargas aos terminais do Porto de Santos. Portanto, a conclusão deste empreendimento logístico permitirá ganhos econômicos ao Estado e, em última instância, à Baixada Santista.

É bom lembrar que a construção do trecho sul do Ferroanel está emperrada por problemas burocráticos do Governo Federal – a quem caberia, hoje, a responsabilidade de tirar do papel o projeto do anel ferroviário. Os impasses resumem-se às discussões travadas no âmbito dos ministérios dos Transportes e Planejamento sobre o ponto de início das obras: se pela ala sul – como querem Alckmin e os empresários paulistas – ou pela parte norte.

A escolha se transformou num dilema. Se for iniciado pelo trecho norte, o Ferroanel se constituirá numa ameaça ao cais santista. Explica-se: uma vez terminado antes do tramo sul, os produtos hoje exportados por Santos chegariam mais facilmente ao Porto de Sepetiba (RJ), o que provocaria uma fuga de cargas da Baixada.

É por isso que a decisão de Alckmin demonstra a marca do tirocínio político. Ante a ameaça de perder cargas, o governador deu um passo à frente e solicitou ao Governo Lula uma autorização para tocar o projeto e, com isso, beneficiar as exportações paulistas.

Não é a primeira vez que isso acontece no que diz respeito a obras do Governo Federal paralisadas pela burocracia estatal. No mês passado, o governador fez semelhante pedido no que tange à construção de um túnel que ligaria Santos a Guarujá, passando sob o canal do estuário. Pela proposta do Palácio dos Bandeirantes, o túnel seria construído com recursos da iniciativa privada, por meio de uma concessão pública.

Em ambos os casos, as propostas do governador são factíveis, embora ousadas. Devem, portanto, ser analisadas pelo Governo Lula apenas no que diz respeito aos aspectos técnicos e jurídicos. Isto é, não podem ser rechaçadas simplesmente por questões menores da política.