Senhora da Luz

Folha de S. Paulo - São Paulo - Quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

qui, 23/12/2004 - 8h59 | Do Portal do Governo

Centenário da Pinacoteca é comemorado com mais de 50 mostras e lançamento de catálogo

Fabio Cypriano
Da Reportagem Local

À beira de comemorar 99 anos, o que ocorre depois de amanhã, a ‘Pina’ já se prepara para a festa dos cem anos, que vai durar 18 meses, de abril do ano que vem a setembro de 2006.

As comemorações do centenário da ‘Pina’, como a Pinacoteca do Estado, na Estação da Luz, é chamada por seu diretor, Marcelo Araújo, começam com uma retrospectiva de Henry Moore e terminam com ‘Cem Obras de Cem Contemporâneos’, mostra com artistas brasileiros escolhidos pelo curador Ivo Mesquita e que serão adquiridas pela instituição. Entre ambas, mais de 50 exposições estão programadas.

‘Henry Moore é o Rodin do século 20, um escultor que realizou muitas obras públicas, por isso tem grande visibilidade. Essa é a continuidade de outras mostras importantes dedicadas à escultura aqui, como o próprio Rodin, Camille Claudel e Maillol’, diz Araújo. A exposição, com patrocínio do Bradesco, irá ocupar todo o térreo do museu, além do jardim, com 300 peças.

Já em julho, a ‘Pina’ olha para ela mesma, de forma retrospectiva, com uma exposição que irá abordar a constituição de seu acervo em dois eixos: a ação do Estado e a aquisição por doação da iniciativa privada. ‘Em sua origem, a Pinacoteca está ligada ao desejo da burguesia paulistana pela modernização, e a exposição terá essa questão como ponto de partida’, afirma Araújo.

Vinculada a essa exposição, mas com autonomia, pois irá se tornar permanente, está a inauguração de um Centro de Memória, em abril do próximo ano, com apoio da Fundação Vitae, que irá conter depoimentos de artistas e especialistas. O Centro de Memória funcionará dentro da Estação Pinacoteca, ao lado da Sala São Paulo.

Duas publicações também serão lançadas, em 2005, parte do eixo histórico da programação. Com uma coleção de 6.000 obras, a mais abrangente da cidade em arte brasileira, e, nacionalmente, comparável apenas ao Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, a Pinacoteca não possui um catálogo disponível -o último, esgotado, é de 1994. Pois, além do novo catálogo, será lançado um livro sobre a história da instituição em seus cem anos.

Aberta no dia 25 de dezembro de 1905, a Pinacoteca foi instalada já no prédio onde se encontra hoje, projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo, com um acervo de 26 quadros, deslocado do então Museu do Estado, hoje Museu Paulista, no Ipiranga.

Desde então, a Pinacoteca tornou-se um exemplo de como a ação do Estado na cultura pode ser eficaz. Foi assim quando o senador Freitas Valle, que também será homenageado com uma exposição na programação do centenário, regulamentou a instituição em 1911 e criou bolsas para artistas viverem por cinco anos na Europa, o Pensionato Artístico, e serem obrigados a doar obras à Pinacoteca na volta.

Nem sempre, é claro, a trajetória foi feliz. De início, a Pinacoteca ocupava apenas parcialmente o prédio de Ramos de Azevedo, dividindo o local com o Liceu de Artes e Ofícios e depois com a Escola de Belas Artes. Em 1932, com a Revolução Constitucionalista, o prédio chegou a ser ocupado por tropas militares e seu acervo, disperso, retornando só em 1947.

Foi apenas na gestão de Maria Alice Milliet, sucessora de um grupo de diretores dinâmicos, como Aracy Amaral, que teve início o projeto de ocupação integral, concretizado na gestão Emanoel Araujo, que tornou o local, de fato, referência para o público.

‘A Pina tem uma situação privilegiada entre os museus brasileiros. Ela contraria a idéia de que o Estado não é um bom administrador e, ao mesmo tempo, ela consegue parcerias com a iniciativa privada que garantem uma boa programação’, diz seu diretor. Falta ainda patrocínio para a maior parte das exposições do centenário, mas a senhora de 99 anos tem tudo para manter seu poder de sedução.