Sem as marcas do câncer

Jornal da Tarde - Segunda-feira, 11 de junho de 2007

seg, 11/06/2007 - 12h53 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

Durante um ano, Verônica não conseguia encarar o espelho. O corpo estava mutilado, sem a parte que ela, quando novinha, tinha mais orgulho. Os cabelos que batiam na altura dos ombros caíram por completo. Seqüelas do câncer de mama, ela precisou de força para vencer a doença. Hoje, está completamente curada e voltou a se achar bonita. Qual foi o melhor remédio? “A cirurgia plástica que trouxe de volta o meu seio esquerdo”, afirmou.

Verônica Leite da Rosa, hoje com 40 anos, é paciente do Hospital Estadual Pérola Byington, referência em saúde da mulher. Foi lá que, 12 meses depois de descobrir o tumor maligno na mama em 2005, ela realizou a operação plástica para apagar as marcas físicas da doença. Por ano, são 700 mulheres vítimas do câncer que fazem a cirurgia de reconstrução da mama neste hospital. O número de reparações realizadas é 30% maior do que registrado antes de 2005, quando a média anual era de 590.

Segundo o diretor de oncologia do Pérola, Luiz Abla, o aumento do número de cirurgias aconteceu em razão do melhor uso dos recursos financeiros que permitiu o atendimento de um número maior de mulheres.“É um dado muito positivo. A plástica é o apoio psicológico, que proporciona a auto-estima. Isso é fundamental na recuperação.”

São 1.500 mulheres que todo ano precisam fazer mastectomia (retirada da mama por causa do tumor) no hospital. Abla explica que nem todas podem receber a reparação, porque ou chegam em um estágio muito avançado da doença ou têm quadro clínico frágil. No País, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, são 30 mil mastectomia anuais (feitas no sistema público e particular) e apenas em 9 mil é realizada a reconstrução.

Nas pacientes em que é possível reverter a seqüela, a cirurgia reparadora não recupera apenas a vaidade. Uma pesquisa com 810 mulheres vítimas da doença, realizada pelo diretor do Hospital do Câncer, Alexandre Katalanic Dutra, mostrou que o índice de depressão nas pacientes que não fazem a reconstrução do seio é de 40%. “Já nas que fizeram, a marca cai para 10% dos casos. São fatores influentes no sucesso no tratamento.” No Hospital do Câncer, outra referência para o tratamento, também cresceu 20% o número de cirurgias de reconstrução da mama. Em dois anos, passou de 120 para 150 plásticas anuais.

A reconstrução do seio é feita com músculos da barriga ou das costas. “Aproveitamos para corrigir outras imperfeições, como um seio maior do que o outro. A mulher sai da maca feliz com o novo corpo”, afirmou o diretor do Pérola. Quando o preenchimento da mama não pode ser feito com tecidos naturais, é utilizada prótese artificial.

Verônica sabe bem qual é “força” que a reconstrução traz. “Precisava lutar, mas me sentia aleijada”, diz. “A plástica me trouxe de volta a vontade de encontrar a cura”.

Não são todas mulheres que sabem que a plástica faz parte do tratamento do câncer de mama nos hospitais públicos. Antônia de Souza Santos, com 59 anos, durante três ficou mutilada sem nem sonhar que era possível ter o seio reconstruído. Há 15 dias, ela teve a mama de volta. “Você não imagina o que é ter de volta a coragem de beijar o marido, sem medo do corpo.”

SAIBA COMO CONSEGUIR AJUDA

No caso de perceber alguma alteração na mama durante o auto-exame, a mulher deve procurar a Unidade Básica de

Saúde mais próxima de casa

Na UBS, o médico terá condições de oferecer um diagnóstico preliminar que vai determinar se há algum problema sério, com base em exames

Caso seja diagnosticada a presença de um tumor, o médico encaminha a paciente para uma das 9 unidades do Centro de Alta Complexidade em Oncologia, Serviços Isolados de Quimioterapia ou de Radioterapia (Cacon) que funcionam na Capital

Os Cacon são unidades hospitalares públicas responsáveis pela confirmação diagnóstica, tratamento, assistência ambulatorial e hospitalar e cuidados paliativos

A mulher que não puder ter o seio reconstruído imediatamente após a retirada do tumor, pode fazer a cirurgia anos depois, desde que o quadro clínico não ofereça risco. Segundo os especialistas, a prioridade sempre é tratar o câncer. Quem tiver dúvidas, procure o hospital que fez o tratamento.