Secretário Xico Graziano aposta em ‘agenda verde’

Diário do Grande ABC

ter, 10/11/2009 - 8h33 | Do Portal do Governo

Controlar a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa sem prejuízo à atividade econômica e estimular práticas sustentáveis de transportes público e geração de energia ‘limpa”. 

São esses os principais desafios da recém-aprovada Política Estadual de Mudanças Climáticas, arsenal de medidas que o governo José Serra (PSDB) pretende lançar mão a fim de levar a chamada ‘agenda verde” a todos os rincões do Estado de São Paulo. Algumas das metas são ousadas: cortar em 20% o lançamento de dióxido de carbono na atmosfera até 2020 e diversificar os eixos de mobilidade urbana, estabelecendo prêmios aos municípios que ampliarem, por exemplo, o número de ciclovias. 

A lei será sancionada hoje pelo governador no Palácio dos Bandeirantes e foi delineada pela equipe do secretário estadual de Meio Ambiente, Francisco Graziano Neto, o Xico Graziano, que critica a política ambiental do governo federal e diz ser possível conciliar o desenvolvimento, inclusive do setor industrial, com práticas ambientais de vanguarda. Confira abaixo trechos da entrevista. 

APJ – Como é possível adotar metas tão ousadas na redução da emissão de gases em São Paulo sem que haja prejuízo à atividade econômica no Estado? 
Francisco Graziano Neto – Estimulando as novas atividades produtivas que vão fazer parte da nova economia mundial, a chamada ‘economia verde”. Essa é a nossa aposta. Que em dez anos o Estado abra uma nova agenda, que já está acontecendo. Novas tecnologias e novos setores produtivos trabalhando na economia descarbonificada, incluindo energia renovável, etanol, bioeletricidade, energia eólica.

APJ – Há um diagnóstico confiável e setorizado das emissões de gases que causam o efeito estufa?
Graziano – A partir do inventário das emissões, teremos como ver, setor a setor da economia paulista, como está a agenda e se é possível enfrentar esta questão sem dúvidas.

APJ – Houve pressão da indústria para flexibilizar essa meta? Como o Estado reagiu?
Graziano – Houve sim. As lideranças mais conservadoras ainda entendem a questão ambiental como uma ameaça ao crescimento econômico. Alguns setores temem mais, outros acham que é possível.

APJ- Quais setores estão mais atentos e preparados?
Graziano – O setor de transportes, por exemplo. Muitas oportunidades já estão sendo criadas. Então, você vê uma competição de setores tradicionais com setores novos e inovadores, que estão vendo na crise ambiental novas oportunidades. 

APJ – O setor de transportes foi apontado no projeto que instituiu a política estadual de mudanças climáticas como um dos gargalos. Quando as cidades do Interior, médias e grandes, vão entrar na agenda do transporte sustentável? 
Graziano – Todos hoje acompanham muito mais esta agenda. Há certa mobilização junto aos administradores municipais. No meu projeto chamado Município Verde e Azul, vou premiar as prefeituras que apresentarem os melhores projetos de ciclovias ou de transporte alternativo. Já estamos induzindo isso. E o governo do Estado já está investindo muito em transporte coletivo.

APJ – O Estado vai investir mais neste segmento? Faltam recursos às prefeituras para grandes projetos…
Graziano – Quando apresentarmos daqui a um ano a política para transporte sustentável, o Estado vai sinalizar mais fortemente a necessidade do transporte coletivo. Não só nas cidades, mas no fluxo de cargas. Significa hidrovias, tirar gargalos de ferrovias, integrar modais de transporte. 

APJ – A implantação de rodízios de veículos e pedágios no Interior é irreversível? 
Graziano – Só podemos pensar nessas formas de controle, nessa política de restrição de mobilidade, quando avançarmos bem no transporte coletivo das cidades. Não dá para colocar a carroça na frente do burro. Primeiro, os governos precisam melhorar seus sistemas de transporte coletivo. E, mais para frente, pensar em restrição à mobilidade. Se não, não funciona. Isso está no horizonte das políticas sustentáveis, mas o timing é outro. 

APJ – O senhor considera a ministra Dilma Rousseff figura adequada para representar o Brasil na Conferência de Copenhague?
Graziano – Todos os ambientalistas se surpreenderam muito com a indicação da ministra Dilma, pois ela nestes anos todos no governou atuou contra o ambientalismo. Ela foi forte defensora das usinas termelétricas. Nas obras do PAC, o governo sistematicamente tem feito gestões para amenizar e até dispensar o licenciamento ambiental, o que é inconcebível. Então, ela não tem história e nem familiaridade. Não vou dizer que ela é contra, mas é surpreendente. Mostra a falta de sensibilidade do governo Lula com a questão ambiental. 

APJ – Sua trajetória é ligada ao agronegócio e agora o senhor é gestor público na Pasta do Meio Ambiente. Como conciliar interesses, muitas vezes conflitantes, entre os dois segmentos? 
Graziano – Eu não tenho dúvida de que as agendas são conciliáveis. A agricultura com o meio ambiente. Mas é um desafio. Até porque a falta de definição do governo federal deixou este assunto ficar muito atritado. Hoje há uma polêmica forte entre ruralistas e ambientalistas, o que é uma insanidade. Atuo há anos para fazer essa mediação. O fato de ter sido secretário de Agricultura me ajuda nisso. A minha formação profissional é de engenheiro agrônomo. Tenho um desafio de vida: trabalhar para esta conciliação. 

APJ – E na prática, o que precisa ser feito? O desmate é a maior preocupação? 
Graziano – Na prática, significa fazer pacto contra o desmatamento no País. Proponho moratória de cinco anos, prazo suficiente para que o assunto seja melhor discutido. 

APJ – O senhor considera possível a conciliação destes interesses? Há exemplos? 
Graziano – Não tenho dúvida, até porque em outras questões isso já acontece. Por exemplo, na conservação do solo, o plantio direto já é uma agricultura sustentável. Já é uma prova onde você produz com níveis de produtividade melhores, promove o combate à erosão e garante a conservação do solo. Na questão dos agrotóxicos, podemos ainda avançar. 

APJ – Na sua opinião, falta um grande mediador nacional, um ponto de convergência? 
Graziano – Claramente. Nós não temos com quem conversar. Os ministros de Agricultura e do Meio Ambiente, em vez de trabalhar conjuntamente, batem boca. O Lula viaja, não decide nada. E a chefe da Casa Civil agora também só acompanha ele. No Congresso, a confusão é notória. Aqui em São Paulo, se os secretários de Meio Ambiente e de Agricultura discutissem, no dia seguinte ambos estariam demitidos. Falta comando nesta agenda. Falta querer resolver. Quem é governo precisa resolver conflitos, propor soluções. 

APJ – Quais as metas para aterros sanitários irregulares?
Graziano – Ainda vou divulgar os dados finais. Com a intolerância que eu imprimi junto com a Cetesb e ajuda que demos aos municípios com compra de equipamentos, eu disse ao Serra que ia acabar com os lixões em 2009. E vou cumprir.