Seade vê baixa escolaridade e SP muda viés de capacitação

Folha de S.Paulo - Quinta-feira, 20 de março de 2008

qui, 20/03/2008 - 12h16 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

Entre os paulistas com mais de 15 anos, 42% não têm o ensino fundamental completo. O percentual sobe para 54% entre as pessoas entre 45 e 49 anos e é de 40% entre os que têm de 30 a 44 anos, faixas que concentram os trabalhadores.

No Estado mais rico do país, 50% dos empregados com carteira assinada têm hoje idades entre 30 e 49 anos. Além de serem pouco escolarizados, eles se concentram na faixa que mais sofre com as mudanças no mercado de trabalho.

Por causa da redução da taxa de fertilidade no Estado (hoje em um patamar considerado de “reposição”, de 2,1 filhos por mulher), a economia paulista ficará cada vez mais dependente dessa mão-de-obra com idade um pouco mais avançada.

Basicamente, hoje os trabalhadores dessa faixa saem em massa do setor agropecuário, onde a escolaridade exigida é mínima, para tentar vagas em profissões que demandam -cada vez mais- ao menos saber ler e escrever e fazer as quatro operações matemáticas.

Esse diagnóstico sobre o mercado de trabalho paulista e suas mais recentes mudanças foi apresentado ontem pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e realizado por encomenda da Sert (Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho).

Participaram ativamente do trabalho, inclusive confirmando as tendências encontradas na pesquisa, 625 municípios do Estado.

As conclusões devem orientar uma alteração importante no atual sistema de treinamento de mão-de-obra no Estado. Do total de 200 horas hoje destinadas à capacitação de pessoal para profissões onde a demanda é crescente, 120 horas serão destinadas exclusivamente à reeducação básica.

Na apresentação dos resultados, a diretora-executiva da Fundação Seade, Felícia Reicher Madeira, afirmou que faltavam diagnósticos mais precisos para orientar as políticas no setor.

“Entre 2005 e 2007, foram oferecidos cerca de 10 mil cursos gratuitos pelas administrações municipais no Estado de São Paulo, totalizando mais de 800 mil vagas. A despeito de tais esforços, permanece um mistério o impacto desses cursos na trajetória ocupacional dos participantes”, disse.

Sobe-e-desce

Entre homens e mulheres em todo o Estado, os setores de pior desempenho em termos de criação de vagas em 2007 foram, entre outros, o da cana-de-açúcar e de cultivo de árvores frutíferas, seguidos pelo agropecuário em geral.

Na contramão, as vagas formais aumentaram mais rapidamente na construção civil e no setor de serviços como um todo, área cada vez mais exigente em termos de escolaridade.

Em termos absolutos, o setor de serviços já representa mais de 66% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado. A fatia da indústria é de 31,7% e a da agropecuária está restrita hoje a menos de 2% do total.

Em termos geográficos, apenas 38 municípios do Estado concentram 75% do PIB paulista, o que pode permitir um direcionamento mais efetivo para essas regiões das novas políticas para a capacitação de mão-de-obra no Estado.

Reeducação

Segundo o titular da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos, o Estado de São Paulo pretende aplicar a nova sistemática envolvendo mais “banco escolar” entre 30 mil pessoas em 2008. O número subiria para 60 mil em 2009 e atingiria 90 mil até 2010.

A reeducação deve ocorrer em parcerias com o Centro Paula Souza, o Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo e os integrantes do chamado sistema “S” (Sesc, Senai e Sesi, entre outros).

A idéia é que essas entidades forneçam os professores. Em alguns casos, as salas de aula serão tomadas de empréstimo de universidades privadas em horários de ociosidade.