Sayad: sai o Detran para entrar MAC

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 18 de abril de 2007

qua, 18/04/2007 - 12h38 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Pela primeira vez desde que assumiu, em janeiro, o novo secretário de Estado da Cultura, João Sayad, resolveu falar sobre seu diagnóstico e os planos à frente da pasta. Em três meses e 18 dias, Sayad vem colecionando polêmicas. Ordenou uma intervenção no Condephaat; manobra no conselho da Fundação Padre Anchieta para trocar o comando (Marcos Mendonça por Paulo Markun) e também se diz que vai cortar radicalmente os investimentos no Projeto Guri, menina-dos-olhos da gestão Mário Covas, programa premiado pela Unesco. Outra notícia que se atribui à sua intervenção seria a demissão iminente do maestro John Neschling da Orquestra Sinfônica do Estado.

Ontem pela manhã, Sayad recebeu o Estado. Ele ganhou a garantia de investimentos de cerca de R$ 300 milhões no período, que serão utilizados na ampliação dos equipamentos culturais da secretaria, entre outros planos. A principal das mudanças será a transferência do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP para o prédio do Detran, no Parque do Ibirapuera (o Detran vai para a sede da Subprefeitura da Sé, que por sua vez vai para outra locação do Estado). O governo pretende iniciar a mudança ainda este ano. ‘O que o Detran está fazendo num lugar tão nobre quanto aquele? É uma área de lazer da cidade, do Estado’, disse Sayad.

A Pinacoteca também ganhará um novo museu auxiliar, como já tem na Estação Pinacoteca – será instalado no atual Colégio Estadual Presidente Prudente, na Luz, aumentando o parque cultural da região.

O secretário também procura um prédio para abrigar o novo Teatro da Dança (poderá ser no antigo Cine Marrocos ou em algum dos velhos hotéis históricos da Luz, esse último preferência pessoal do secretário). Outro projeto é a criação de uma Companhia Estadual de Dança. Sayad anunciou ainda um novo Festival de Literatura, que será realizado anualmente em uma cidade no circuito das águas, ainda em estudo), vai criar uma instituição para edição de livros de literatura na periferia de São Paulo.

Na área do patrimônio, ele pretende criar o Museu Histórico Paulista numa antiga fábrica na Rua da Mooca. O projeto Catavento, um museu científico e educativo, será instalado no Palácio das Indústrias. Sayad também pretende investir na ampliação do público de cinema com uma série de medidas – uma delas consiste na distribuição de 1,5 milhão de tickets para acesso às salas de cinema no segundo semestre.

A sua atuação nesses primeiros 3 meses e 17 dias parece levar um diagnóstico que faz pressupor que as administrações anteriores à sua foram desastrosas. Isso é fato?

Não. Eu não diria dessa forma, de jeito nenhum. O começo dessa modificação administrativa acho que data de duas administrações anteriores, da Cláudia Costin, que implantou as Organizações Sociais. A secretaria tinha 2 mil funcionários que, muitos deles, foram deslocados para as OS. Quando cheguei, havia 200 que também estavam em situação trabalhista incorreta, do ponto de vista da administração pública…

Com contratos temporários?

Isso. E que vão ter de ser substituídos, de acordo com termo de ajuste de conduta com a promotoria.

Quantos ficarão?

Não mais que 100. É uma das dificuldades. Do que a gente fez nesses primeiros meses, o mais importante é a definição de um programa de investimentos na área cultural que vai chegar a R$ 260 milhões em 4 anos. É a agenda positiva que nos enche de entusiasmo.

Esse valor entra nos orçamentos anuais do Estado?

Entra nos orçamentos. Nós discutimos com o governador propostas de atividades que somam, em 4 anos, mais até do que R$ 260 milhões, se a gente somar as Fábricas de Cultura. Seriam R$ 300 milhões, um investimento inédito em termos de cultura. Vamos implantar as fábricas, um projeto que está aqui desde 2002, financiado pelo BID e pelo governo do Estado, e que consiste na implantação de 9 oficinas culturais em rede com ONGs, que vão oferecer cursos de formação artística, todas elas localizadas em distritos de alta vulnerabilidade juvenil: Capão Redondo, Nova Brasilândia, Tiradentes. Já começam a ser implantados em dois CEUs no final de maio. A secretaria aqui, em termos de orçamento, poderia ser chamada de Secretaria da Música. A música consome a maior parte do orçamento. Nós temos 60 mil alunos no Projeto Guri, uma fartura, dois conservatórios, Tatuí e Tom Jobim, mais a Osesp. Esse conjunto de formação musical é impressionante.

A Osesp, num passado não muito remoto, teve o salário do maestro John Neschling questionado. Um contrato dele, assinado pela ex-secretária, de R$ 2,4 milhões, chegou a ir a exame do TCE.

Nós gastamos com a Osesp R$ 43 milhões. Ela tem um conselho que define essas questões de salário. Nós definimos com a Osesp a programação no que podemos decidir, o que fará pelas escolas estaduais, suas atividades didáticas, que é parte da política cultural na área de música.

O sr. pensa em demitir o maestro Neschling?

Isso é uma área atritosa, orçamentária, mas não é verdade.

O sr. está satisfeito com o desempenho dele?

Estamos satisfeitos. E essa é uma decisão do conselho, e que eu saiba, não tem nenhuma discussão a respeito.

As fundações Padre Anchieta, a Osesp, consomem boa parte do orçamento da secretaria. Não é complicado fazer política pública com tantas instituições autônomas?

Não. É importante ter os conselhos funcionando, as instituições andando sozinhas.

Agora, em relação à atuação do governador. Entra um governador novo, não gosta de determinado dirigente de um desses conselhos…

Eu não sei de quem ele não gosta. Ele não me disse ‘não gosto de fulano, não gosto de sicrano’.

Mas os srs. mudaram a direção do Condephaat, que tinha acabado de assumir na gestão Cláudio Lembo.

O ruído que isso gerou nos surpreendeu. Achamos que seria uma mudança bem recebida pelos conselheiros. O funcionário público, Carlos Degelo, que saiu, um funcionário da melhor qualidade, nossa tentativa foi de substituí-lo por um homem do setor. Um homem da USP, professor Avansi, que nós achamos que seria muito bem recebido pelos conselheiros. O Condephaat é criticado por sua falta de transparência, e é uma área conflituosa, sem dúvida, sempre será. A mudança era uma proposta que imaginávamos que seria bem aceita. Mas como política trata de gente, houve um conflito de personalidades, que se sentiram não respeitadas. Queremos o Condephaat mais ágil e transparente e conseguir um espaço físico onde ele seja mais visível.

E a TV Cultura? Como o sr. vê as mudanças lá?

A TV Cultura, aparece um nome de um candidato que tem um monte de qualidades positivas. Paulo Markun. É a cara da TV Cultura, já que é o encarregado do Roda Viva, e o governo vê com bons olhos, e como tem vários participantes no conselho, vê que a TV Cultura enfrenta vários desafios importantes. Qual é a tarefa da TV pública. Ele é um nome que tem condições de discutir isso.

O sr. acha que a gestão atual não enfrenta esses desafios adequadamente?

Quem tem de achar isso é o conselho. Nós só achamos que o Markun é um nome interessante.