São Paulo tenta revitalizar o chuchu

O Estado de S. Paulo

qua, 14/04/2010 - 8h30 | Do Portal do Governo

Pesquisador mapeia as áreas produtivas e defende assistência técnica para produtor se sentir estimulado

O chuchu está entre as dez hortaliças mais consumidas do Brasil, mas recebe pouca atenção dos órgãos de pesquisa. Apesar da larga tradição de consumo, até hoje não foram desenvolvidas variedades que incorporem melhoramentos genéticos, nem há mudas ou sementes à disposição. “É uma cultura esquecida”, diz o pesquisador Miguel Francisco de Souza Filho, do Instituto Biológico (IB-Apta).

Ele coordena um trabalho iniciado pela Secretaria de Agricultura paulista para tentar tirar do ostracismo essa hortaliça da família das cucurbitáceas, originária do México. Em março, o pesquisador coordenou um encontro com produtores de Amparo (SP), para discutir os problemas da cultura, sobretudo no aspecto sanitário.

Antes, ele já realizara um amplo diagnóstico da situação em propriedades da região. O próximo passo será elaborar um projeto temático para a cadeia do chuchu, envolvendo a parte fitotécnica, manejo da cultura, irrigação e suporte comercial. “A ideia é desenvolver o projeto e mandar para órgãos de fomento para que o chuchu vire alternativa real de renda.”

Familiares

Conforme o pesquisador, o chuchu é uma cultura de pequenas propriedades, própria para a agricultura familiar. São Paulo está entre os principais produtores, sendo Amparo a área de maior produção. Há culturas expressivas também em Iguape, litoral sul de São Paulo, Mogi das Cruzes e Parelheiros, na Grande São Paulo, e Sorocaba.

Clima

Em razão do clima tropical e subtropical do Estado, o chuchu pode ser cultivado em qualquer estação, com produção o ano todo. Souza Filho visitou pessoalmente 18 produtores na região de Amparo, em vários meses do ano passado, para verificar os principais problemas da cultura. Segundo ele, todos os produtores cultivam outros hortigranjeiros, mas apenas a metade recebe algum tipo de assistência técnica. O sistema de condução em forma de parreira pode não ser o mais adequado. “Nas regiões mais úmidas, talvez seja melhor o plantio em cerca ou espaldeira.”

Mais de 80% dos produtores não fazem rotação de cultura e apenas um fez análise de solo. A maioria adota sistema de irrigação por jato acima do parreiral, prática incorreta, segundo o pesquisador, pois favorece o surgimento de pragas. “A irrigação mais eficiente é por microaspersão próxima da raiz.”

Souza Filho detectou pragas importantes para a cultura, como o tripes, inseto que ataca as folhas, o ácaro rajado, comum a outras hortaliças, e a broca da haste, besouro que deposita larvas no interior dos brotos.

Menos significativos, foram detectados surtos de mosca branca e pulgão e, ainda, infestação por caramujos. Em relação ao controle de pragas, ele acredita que a IN 1, do Ministério da Agricultura (Veja pág. 3) pode melhorar a situação do produtor.

“O chuchu pode ser incluído no grupo de hortaliças não folhosas, o mesmo da abobrinha e do pepino.” Essa inclusão, segundo o pesquisador, pode gerar o interesse de algumas empresas em fazer o registro de certos defensivos, já que o leque de eventuais consumidores passa a ser maior.

Cooperativas

O pesquisador acredita, ainda, que a união dos produtores em torno de associações ou cooperativas contribui para a evolução da cadeia produtiva. Em Amparo, os produtores criaram há oito anos a Cooperativa dos Produtores de Chuchu, uma das poucas voltadas para a hortaliça. Além de treinar os agricultores, a cooperativa passou a dar suporte técnico, e estimulou a seleção e embalagem.

“Uma coisa simples, que foi a mudança da embalagem de madeira para a de plástico, forrada com papel, resultou em ganho de qualidade”, diz o pesquisador. Segundo Souza Filho, os cooperados que investiram na embalagem passaram a ter um diferencial de preço, em razão do ganho de qualidade.

Cultura dá renda quase o ano todo

Os irmãos Mauro Sérgio de Moraes e Darci Antonio de Moraes cultivam chuchu em 1,8 hectare, em Piedade, região de Sorocaba (SP). Logo cedo, assim que o sol penetra a camada de folhas, eles começam a colher. As respectivas esposas, Rosângela e Ivanilda, ajudam a selecionar e colocar os frutos em caixas de madeira. Acondicionada num caminhão, a carga segue para o entreposto de Sorocaba, onde os irmãos mantêm um boxe.

Darci conta que a produção, este ano, foi afetada pela chuva. “O chuchuzeiro é melindroso”, diz. “No calor, produz muito bem, mas se esfria ou chove, a planta para de frutificar.”

O agrônomo Alberto Massao Shimoda, da Diretoria de Agricultura de Piedade, explica que a planta depende da polinização para produzir. Com frio e chuva, os irmãos estão colhendo 1.200 caixas de 23 quilos por mês. A caixa estava sendo vendida por R$ 10 na semana passada. “Em janeiro, vendemos por R$ 40, porque não tinha a concorrência de outras regiões.”

Os irmãos cultivam também berinjela, jiló e limão rosa, mas o chuchu é o principal. Eles trabalham em terra arrendada, mas estão guardando dinheiro para comprar um terreno. Mauro e Darci contam que, há seis anos, trabalhavam como boias-frias. Foi quando decidiram plantar chuchu. “Conseguimos as primeiras mudas com os vizinhos”, diz Mauro. Graças ao chuchu, a vida mudou. “Hoje, cada um de nós tem uma casa boa, carro ou moto, trator e caminhão”, diz Mauro.

O agricultor Aparecido Antonio de Moraes toca, com o filho Wellington, uma plantação de 15 hectares. A produtividade oscila entre 70 e 100 toneladas/ hectare e a produção vai para a Ceagesp, na capital. O produtor escalonou o plantio em três áreas para facilitar a colheita. Segundo Moraes, o pé de chuchu produz de novembro a junho, quando é arrancado. Ele costuma selecionar as melhores plantas para fazer mudas. Entre maio e junho, quando começa a esfriar, ele corta as plantas e limpa a área para, em agosto, iniciar novo plantio. 

Para entender

Hortaliça tem cor diferente em cada região

O agrônomo Alberto Shimoda conta que as características do chuchu cultivado em cada região são diferentes. O de Piedade é verde-claro, no formato de pera, enquanto o de Amparo, embora tenha a mesma cor, é mais arredondado. Em Piedade, também se produz o que os produtores chamam de chuchu-preto, na verdade, um fruto verde-escuro. Já o chuchu de Iguape, embora com o mesmo formato de pera, tem cor mais brilhante e apresenta espinhos na parte inferior.

No litoral, a produção é maior no inverno, quando as outras regiões quase não produzem. O chuchu da Grande São Paulo é mais alongado, com lóbulos salientes e verde mais claro.

O curioso é que nem sempre o chuchu de uma região, plantado em outra, se desenvolve bem, o que ele atribui à adaptação da cultura ao ambiente.