São Paulo recebe cem anos de arte

O Estado de São Paulo - Sexta-feira, dia 7 de julho de 2006

sex, 07/07/2006 - 11h27 | Do Portal do Governo

Cidade abriga o maior conjunto de peças da Coleção Gilberto Chateaubriand

Camila Molina

Hoje em dia, o colecionador Gilberto Chateaubriand, de 80 anos, compra cerca de 300 obras de arte por ano, quase todas com foco na produção contemporânea brasileira. Agora, para se fazer uma idéia do que guarda o seu precioso acervo, basta saber que ele começou sua coleção em 1954 . “É, provavelmente, a coleção particular mais abrangente de arte brasileira do século 20”, diz Fernando Cocchiarale, curador-chefe do Museu de Arte Moderna do Rio, onde está abrigada desde 1993 a Coleção Gilberto Chateaubriand em regime de comodato. Na instituição carioca, o acervo do colecionador, com quase 7 mil obras de um período que vai do começo do século 20 até hoje, é sempre exibido por meio de recortes curatoriais, mas a partir de amanhã, é o público em São Paulo que poderá ver uma panorâmica dessa coleção.

Das quase 7 mil obras, foram selecionadas, com supervisão do colecionador, 169 para fazerem parte da mostra itinerante Coleção Gilberto Chateaubriand: Um Século de Arte Brasileira, que será inaugurada na Pinacoteca do Estado e depois seguirá para o Rio, Curitiba e Salvador. O museu paulistano dedicou suas sete principais salas climatizadas para receber a exposição, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Franz Manata – mesmo assim, por causa de espaço, a produção da mostra diz que serão exibidas em São Paulo 160 obras . Não é somente uma bela panorâmica da coleção, mas da história da arte brasileira, década a década, a partir do modernismo, uma oportunidade rara de ver num mesmo lugar tantas obras emblemáticas e referenciais.

Como diz Franz Manata, também curador-assistente do MAM do Rio, o visitante poderá escolher entre dois caminhos: ou entrar pela mostra pela porta que dá na sala do modernismo brasileiro (décadas de 1910 a 1950) ou fazer o percurso inverso e começar pelas obras da década de 1990 e anos 2000. Se a escolha for a primeira opção, um caminho cronológico progressivo, dará de encontro com quadros como O Farol, de Anita Malfatti, de 1915; o Urutu, de Tarsila do Amaral, de 1928 – tão emblemático quanto o seu Abaporu, que hoje está na Argentina -; com a xilogravura Chuva, de Oswaldo Goeldi; com a escultura Mulher, de Brecheret; com as telas O Domador, de Alberto da Veiga Guignard; Retrato de Murilo Mendes, de Flavio de Carvalho; Paisagem de Brodowski, de Candido Portinari; com o Retrato de 1923 feito por Vicente do Rego Monteiro, que Chateaubriand adquiriu no ano passado depois de mais de 20 anos de espera pela obra, como conta Manata. O visitante encontrará, também, o quadro Paisagem de Itapuã, de José Pancetti, que em 1954 o artista deu de presente a Chateaubriand e, a partir dela, iniciou sua coleção.

No começo de seu colecionismo, Gilberto, filho do jornalista-magnata Assis Chateaubriand, fundador do Museu de Arte de São Paulo (Masp), contou com uma espécie de assessoria informal dos artistas Pancetti e Carlos Scliar para adquirir obras. “Mas ele sempre foi muito autônomo”, diz Manata. Entretanto, como afirmam os curadores da mostra, a assessoria de Pancetti e Scliar contribuíram para causar uma lacuna na coleção: ela não cobre muito o abstracionismo da década de 1950 (em especial, o abstracionismo-geométrico ou concretismo). “Porque o Pancetti e o Scliar gostavam mais de figuração”, diz Cocchiarale. Tanto que na exposição numa das menores salas estão as obras desse período – mas dela vale citar um objeto-cinético de Palatnik, os guaches de Hélio Oiticica de 1958, o Vai-e-vem Diagonal, de Samson Flexor , o abstracionismo-informal em Vitória, de 1958, de Manabu Mabe.

É inacreditável seguir o percurso e encontrar tantas outras obras-ícone de nossa história. Mais adiante está a década de 1960, com a nova figuração misturada com pop art política (obras de Antonio Dias, Nelson Leirner, Gerchman e Raymundo Colares, entre outros). Depois, a década de 1970 (ou pouco antes dela), com obras conceituais refletindo o pesado momento político brasileiro, ditatorial – obras referenciais são as de Antonio Manuel, Artur Barrio, Waltercio Caldas, Cildo Meireles. Na década de 1980 tudo muda: é a volta da pintura, carregada de matéria (obras da chamada Geração 80, com expoentes como Cristina Canale, Adriana Varejão e Fábio Miguez). Depois dela, dos anos 90 em diante, as mídias são muitas, mas em especial prevalece a fotografia.

(SERVIÇO)Coleção Gilberto Chateaubriand: Um Século de Arte Brasileira. Pinacoteca do Estado. Praça da Luz, 2, tel. 3229- 9844. 3.ª a dom., 10 h às 18 h. R$ 4 (sáb. grátis). Até 13/8. Abertura amanhã, às 11 horas