São Paulo quer provar que carne está livre de aftosa

Correio Popular - Segunda-feira, 17 de outubro de 2005

seg, 17/10/2005 - 11h08 | Do Portal do Governo

Estado busca negociação com governo federal para encerrar embargo dos países da União Européia

De São Paulo

O governo de São Paulo enviará ao Ministério da Agricultura, nesta semana, documentação para provar que a carne de gado produzida no Estado está livre da febre aftosa que atingiu um rebanho em Mato Grosso do Sul (MS). Com a ação, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) quer que o ministério envie técnicos a Bruxelas para negociar o fim do embargo de países da União Européia (UE) à carne proveniente de São Paulo.

‘O Estado de São Paulo representa dois terços da exportação brasileira de carne de gado. Não podemos ser penalizados, injustamente, pelo surto de aftosa em outro Estado’, disse. Segundo Alckmin, há dez anos, não há casos de aftosa em território paulista nem o registro de entrada de produto contaminado de outras regiões do País por causa das barreiras sanitárias.

Para ele, não faz sentido que a UE embargue toda a carne brasileira, uma vez que a contaminação pela aftosa se deu em uma região restrita. Segundo Alckmin, é difícil dizer de quem é a responsabilidade pelo surto de aftosa.

Sem verba

O Estado de São Paulo não recebeu do governo federal nem um centavo para a defesa sanitária animal nos últimos três anos, afirmou o secretário da Agricultura do Estado, Antonio Duarte Nogueira Júnior. ‘Não recebemos nada para defesa animal desde 2003. Este ano, o governo federal havia prometido repasse de R$ 1,6 milhão para defesa, mas não mandou’, disse.

São Paulo dispõe apenas de recursos do orçamento estadual para a defesa sanitária animal — neste ano, foram R$ 39 milhões. ‘Pelo tamanho do território e importância da atividade no Estado, São Paulo deveria receber no mínimo R$ 2,5 milhões do governo federal’, diz o secretário. Segundo Nogueira, vários Estados estão sofrendo com a falta de verbas federais para defesa sanitária. Mas, para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não foi a falta de recursos que causou o foco de febre aftosa. “Todas as solicitações de verbas para a área de defesa animal e vegetal foram atendidas prontamente”, disse.

Desde que a contaminação dos animais foi confirmada, 31 países suspenderam a importação de carne bovina brasileira — alguns de todo o território nacional e outros apenas da região afetada. Os prejuízos estão estimados entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. (Das agências Estado e Folhapress)

Lula vai à Rússia falar de barreiras

A restrição da febre aftosa detectada em Mato Grosso do Sul e a garantia de que a doença está sob fiscalização permanente do governo serão os principais argumentos com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende convencer o colega russo, Vladimir Putin, a rever o embargo à importação da carne brasileira, decidido no início da semana passada. Lula dirá que se trata de um fato isolado e que foram atingidas menos de 600 cabeças de gado, em um universo de mais de 200 milhões.

A suspensão das compras russas tornou-se o principal tema da visita do presidente Lula a Moscou, hoje, que vai durar menos de 24 horas. A Rússia é o maior comprador da carne brasileira. Entre janeiro e agosto, o Paísl exportou US$ 364 milhões em carne para os russos. O país, no entanto, é também um dos mais exigentes em relação à qualidade e às garantias sanitárias do produto que importa. A reforma da ONU, incluindo a ambição brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança, e a primeira missão de um astronauta brasileiro no espaço são outros temas do encontro com Putin. Lula chega às 22h30 de hoje e volta ao Brasil às 21h45 de amanhã. (Da Agência Estado)

SAIBA MAIS

Além da febre aftosa, o governo está preocupado com a possibilidade de que outra doença afete o comércio de carne brasileira: a gripe aviária. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, informou que está preparando um projeto de emergência para prevenir a ocorrência da chamada gripe do frango no País.

No próximo dia 25 de outubro, uma grande reunião com o setor privado para definir funções de cada área, em cada Estado, em cada região do País, deverá criar um modelo forte de prevenção.

A pandemia dessa gripe já matou 60 pessoas na Ásia, desde 2003. Os Estados Unidos também já estão adotando medidas, aumentando a produção e estocagem de medicamentos para o caso de um surto.

A preocupação com a doença na Europa aumentou depois do surgimento de casos na Romênia.

A doença apareceu em animais de outros oito países, principalmente da Ásia, mas também na Turquia. Até hoje, a maioria das vítimas são pessoas que tiveram contato direto com os animais doentes. Mas especialistas advertem para o risco de que o vírus sofra mutações e passe a ser transmitido de pessoa para pessoa.