São Paulo inicia campanha de qualidade do café

Folha de S. Paulo - Suplemento Agrícola - Quarta-feira, 9 de junho de 2004

qua, 09/06/2004 - 9h21 | Do Portal do Governo

BRÁS HENRIQUE

Começou neste mês e vai até agosto a 6.ª Campanha de Qualidade do Café, patrocinada pelo governo paulista e pela Câmara Setorial do Café. A campanha foi lançada no dia 28 de maio, em Altinópolis, na região de Ribeirão Preto, a maior produtora de café beneficiado do Estado. Dezenas de cafeicultores da região participaram e afirmaram que investir na busca de qualidade do grão de café é importante para o setor e que todos devem participar. ‘Já investi em qualidade sozinho, mas não consegui comprador para o café e tive que vender a produção pelo preço normal’, diz o cafeicultor Fuad Felipe, que produz cerca de 25 mil sacas em 700 hectares, em várias cidades (Itirapuã, Itamogi, Cajuru, São Sebastião do Paraíso e São Tomás de Aquino). ‘É preciso trabalhar em grupo’, diz.

Felipe acredita que, com o apoio do governo e das cooperativas, os preços do café vão melhorar, compensando o investimento em qualidade do grão. ‘É excelente, pois podemos vender o café com valor agregado’, comenta ele, acrescentando que é fundamental investir em novos maquinários, ter terreiros concretados e controle no beneficiamento do café, desde a colheita, lavagem e secagem. ‘Temos que passar os novos conhecimentos para os administradores das fazendas e aos funcionários do beneficiamento.’

Outro cafeicultor, Guilherme Salomão Vicentini, que produz entre 7 mil e 8 mil sacas em 230 hectares, acredita que ‘o custo vai depender da adequação de cada um’. Ele diz que já busca a qualidade do café, pois o clima e o solo da região são propícios para isso, mas é importante melhorar os cuidados no beneficiamento. ‘Temos que nos adequar às regras’, diz Vicentini.

Aprovação – O produtor João Roberto Pestana de Castro produz 7 mil sacas em 140 hectares e participa pela primeira vez da iniciativa do governo paulista, mas aprova a idéia. ‘Isso faz com que os produtores melhorem a qualidade do café e pensem na exportação’, destaca ele. ‘Temos que ter controle em todos os setores, pois, indo para o concurso e sendo classificado, as torrefações se interessam, até pagando ágio pelo café’, diz Castro, acreditando que o custo é relativo. ‘Temos que ser eficientes para ganharmos mercado nacional e internacional’, enfatiza ele, que já inicia outras duas etapas na sua produção: a rastreabilidade e o café orgânico. Castro está otimista e não lamenta o investimento que fará, pois, em 2003, colheu apenas 5% (350 sacas) do previsto. ‘A safra passada me custou R$ 1 mil/saca, mas vai melhorar neste ano’, garante ele.

Dias de campo – A Campanha de Qualidade do Café de São Paulo terá agrônomos do Estado e de cooperativas participando de ciclos de palestras técnicas e manhãs de campo nas principais regiões produtoras. ‘A meta é difundir e divulgar os cuidados necessários nos vários processos a partir da colheita, trazendo novas técnicas, visando ao valor agregado e mostrar melhor a imagem do café no exterior’, diz o presidente do Sindicato Rural de Altinópolis, João Abrão Filho. ‘Queremos sensibilizar e motivar os cafeicultores nessas reuniões e mostrar os erros a serem evitados’, afirma o presidente da Câmara Setorial do Café, Nathan Herszkowicz. ‘É uma campanha de educação do produtor.’ Após essa etapa, as cooperativas vão organizar os concursos regionais em setembro e outubro, classificando cinco finalistas para o Concurso Estadual do Café, no fim do ano, que será realizado pela segunda vez no Museu do Café de Santos. No evento, os dez melhores cafés da safra, no Estado (que tem 30 mil dos 250 mil cafeicultores do País), serão eleitos. Em 2003, os cafés foram adquiridos em leilão e o melhor lote teve uma saca (de 60 quilos) arrematada por R$ 1.203,50 (sete vezes superior ao valor de mercado na época, que era de R$ 170). ‘O café de São Paulo tem valor igual ao antes produzido no sul de Minas’, diz Herszkowicz.

‘O produtor deve estar bem instruído da produção até a torrefação’, diz o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Antônio Duarte Nogueira Júnior. Ele lembra que, neste ano, o Estado deverá tem uma produção de 3,56 milhões de sacas de café, 25% a mais que em 2003, que foi de 2,8 milhões de sacas, segundo o levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA). O Brasil deverá produzir, em 2004, 40 milhões de sacas (Minas é responsável por 50% e Espírito Santo por 25%).