São Paulo entra na era dos parques tecnológicos

Gazeta Mercantil - 14/5/2003

qua, 14/05/2003 - 9h48 | Do Portal do Governo

Marcelo Moreira, de São Paulo


O estado de São Paulo inicia de forma efetiva neste mês a implantação de seus primeiros parques tecnológicos. O conceito de parque adotado em território paulista é bastante difundido no exterior e tornou-se a base do sucesso em tecnologia de países como Irlanda, Finlândia, Índia, que estão na vanguarda das inovações eletroeletrônicas e de informática.

O parque tecnológico consiste na reunião em um mesmo terreno de empresas de base tecnológica para a criação/produção/desenvolvimento de novos projetos, utilizando serviços comuns oferecidos pelo responsável pelo parque – infra-estrutura jurídica e de marketing, por exemplo – com amplo apoio de universidades e seus laboratórios. Os primeiros parque tecnológicos serão instalados em São Carlos, Campinas, São Paulo e São José dos Campos.

‘As quatro cidades vivem um processo de crescimento espetacular e isso deverá ser potencializado com os primeiros resultados das novas modalidades de negócios com tecnologia’, diz o professor Sylvio Rosa, presidente da Fundação ParqTec – a primeira incubadora de empresas da América Latina, surgida em 1985 em São Carlos (interior de São Paulo). ‘É uma situação única que permitirá muito em breve o incentivo e a criação de novas empresas de base tecnológica, responsáveis por importantes mudanças no mundo inteiro’.

Início em 2004

Rosa é o cérebro que está por trás do Science Park, que deverá ser o maior parque tecnológico do País, que entra em operação no próximo ano. Ele explica que a idéia é agregar em um só e amplo espaço uma megaincubadora, abrigando 56 empresas de tecnologia, alguns condomínios empresariais e ainda uma business school (escola de negócios em tecnologia).

‘Já adquirimos um terreno de 164 mil metros quadrados em São Carlos, estamos com o projeto aprovado pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que deverá investir R$ 470 mil, e pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, que também vai apoiar o projeto com R$ 650 ml. Até o final do primeiro semestre essa verba deverá entrar. O Sebrae-SP também está injetando R$ 108 mil no Science Park.’

O Science Park vai conciliar a arquitetura externa das fazendas de café do Brasil Colônia com uma divisão interna funcional, viabilizando às empresas incubadas compartilhar toda a infra-estrutura de laboratórios, bibliotecas, enfim, tudo o que seria por demais dispendioso para uma empresa investir sozinha logo no início de suas atividades. Hoje, a Fundação ParqTec está com sua capacidade lotada, incubando 15 empresas.

Unicamp e USP

O Fundo Verde-Amarelo da Finep – que apóia ações concebidas como instrumentos para formar parcerias, multiplicar recursos e catalisar sinergias entre órgãos públicos e privados – também aprovou projetos da Unicamp (para estudos de implantação de parque tecnológico) e do Cietec, para implantação de uma megaincubadora na Universidade de São Paulo (USP). Em São José dos Campos, a Univap investe na construção de um parque tecnológico com recursos próprios.

O conceito de parques tecnológicos nasceu sob inspiração das incubadoras. Aproveitando um ambiente altamente favorável, a empresa que se instalar no local terá acesso facilitado a fornecedores, laboratórios e serviços como assessoria jurídica e de marketing. Mas o fundamental será a proximidade com o ambiente científico das universidades, que se transformaram em verdadeiros pólos de pesquisa em alta tecnologia no estado de São Paulo. É justamente o caso do Science Park, que está cercado por algumas das melhoras universidades do Brasil.

Sem custo tributário

‘A proposta dos parques tecnológicos é atraente por causa do custo baixo e também pela estrutura que o gerenciador do projeto tem que permite maiores facilidades na atração de capital de risco para investimentos, sem falar que as empresas, durante o desenvolvimento dos produtos, praticamente não teriam custos tributário’, afirma o professor Rosa.

Diferentemente das incubadoras de empresas, o parque tecnológico não faz restrição para uma empresa se instalar no local. No começo, é claro, será um reduto de pequenas empresas com ótimas idéias mas sem as necessárias condições para iniciar o negócio. Entretanto, grandes empresas interessadas em aproveitar a proximidade com as universidades para desenvolver produtos, no entanto, são bem-vindas.

O sonho de Rosa é ver os parques tecnológicos que surgiram neste ano possibilitarem o surgimento de 70 a 80 empresas sólidas de base tecnológica por ano. ‘Creio que os parques tecnológicos, com apoio amplo da iniciativa
privada, possam receber em dez anos algo em torno a US$ 20 milhões de investimentos. É o começo da implantação de uma sólida política industrial que terá forte impacto a médio prazo na economia brasileira.’

Os parques tecnológicos, na verdade, surgem na esteira do sucesso da Fundação ParcTec, responsável pelo surgimento de importantes trabalhos na área de informática e microeletrônica.

Recentemente, uma das pesquisas na fundação de São Carlos gerou um software inédito no mundo para ser acoplado a gerenciadores e sistema de administração de empresas. Sem mercado no Brasil, o produto foi encampado por uma empresa alemã, que virou sócia do inventor do produto.