Sabesp terá hidrelétricas na rede de água

Valor

ter, 29/09/2009 - 8h11 | Do Portal do Governo

Segundo presidente, Gesner Oliveira, projetos foram escolhidos por serem de execução mais simples

A conta de energia da Sabesp é de R$ 460 milhões ao ano, quase 2% do consumo total do Estado de São Paulo. Disso, 90% é usado para mover bombas que fazem a água chegar até o consumidor – ou para o esgoto ir embora. Como tudo o que sobe, desce, nada seria mais razoável do que aproveitar as quedas d’água da rede e gerar energia. A ideia já é antiga, mas só agora está saindo do papel: no sábado a Sabesp publicou seu primeiro edital para a construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) ao longo da sua rede de abastecimento de água.

Tratam-se de unidades localizadas em duas das maiores estações de tratamento de água da estatal, na Serra da Cantareira, ao norte da capital – as estações de Guaraú e de Atibainha. Pelo edital, as empresas vencedoras devem construir as usinas, e ganham a concessão para explorar as PCHs por 18 anos, vendendo energia no mercado livre. Para isso, devem dar parte da energia gerada para a Sabesp, no mínimo de 20%. Pelo critério usado na concessão, ganha a licitação quem oferecer a maior fatia de energia para a estatal. Os dois pontos escolhidos geram uma energia total de 7 megawatts (MW), o suficiente para alimentar uma cidade com cerca de 100 mil habitantes.

Ainda que a energia gerada seja pouca comparada com a necessidade da empresa – o consumo da Sabesp é equivalente ao de uma cidade de 4,2 milhões de pessoas – o equilíbrio deve vir no futuro. Segundo o presidente da empresa, Gesner Oliveira, os dois projetos fazem parte de um mapeamento feito para localizar o potencial de geração da malha de tratamento e distribuição no Estado. Até o fim do ano, deve haver um levantamento completo do potencial, incluindo o aproveitamento de outras fontes – como termoelétricas movidas a metano produzido pelo tratamento de esgoto. A partir daí, novos editais podem aparecer.

De acordo com o executivo, os dois projetos iniciais foram escolhidos por serem o de execução mais simples – exigem menos investimento – e não necessariamente são os maiores potenciais de geração da rede. No caso, o gasto necessário para instalar as usinas é de R$ 21 milhões, a obra pode ficar pronta em menos de um ano e meio e vai gerar uma receita estimada em R$ 8 milhões – dos quais pelo menos R$ 1,6 milhão vai ficar com a Sabesp.

O principal dos dois projetos licitados é a PCH na estação de tratamento do Guaraú, com potencial de 4 MW. Trata-se da maior unidade de tratamento da Sabesp e segunda maior da América Latina, com uma vazão de 33 mil litros de água por segundo, e abastece 8,8 milhões de habitantes. O plano é instalar uma usina no fim dos tubulões que levam a água bruta para o primeiro tanque usado no tratamento da água. Para reduzir a força da água, a Sabesp usa hoje válvulas chamadas dissipadores de energia, os quais, pelo projeto, seriam substituídos por turbinas que transformariam essa energia em eletricidade.

Outra vantagem dos projetos da Sabesp é o baixo impacto ambiental. Os reservatórios estão construídos, a água já corre em dutos e o terreno usado para instalar a usina já é da própria Sabesp. O projeto elaborado pela estatal também garante que não haverá necessidade de suspender o fornecimento de água para instalar a unidade de geração – a água será desviada gradualmente para a futura usina.

O projeto da Sabesp faz parte de um programa de eficiência energética lançado há alguns anos. Desde 2004, a empresa começou a comprar energia do mercado livre, abandonando a dependência das distribuidoras paulistas. Com isso, calcula, economizou R$ 124 milhões desde 2004 – em 2008, a energia contratada no mercado livre correspondeu a 38% do total consumido. A empresa também trocou equipamentos em algumas estações de tratamento de esgoto, conseguindo cortar alguns quilowatts no consumo.