Sabesp estuda ceder água de reúso para agricultura

Valor Econômico - Segunda-feira, 2 de julho de 2007

seg, 02/07/2007 - 11h34 | Do Portal do Governo

Valor Econômico

A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo ( Sabesp) pretende fornecer água de reúso para a agricultura – prática ainda pouco utilizada no país -, expandindo assim um negócio hoje restrito à venda para indústrias e prefeituras. Para isso, está investindo numa pesquisa em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq-USP) e a Escola Politécnica da USP em sua unidade do Baixo Tietê e Grande.

Se o projeto se provar viável, cerca de 1,5 mil litros por segundo de água produzida pelas estações de tratamento de esgoto da região poderão ser aproveitados para irrigação de plantações. “A pesquisa é importante para mostrar que o uso da água vinda do tratamento de esgoto é seguro, não causa contaminação”, afirma o superintendente da Unidade da Sabesp do Baixo Tietê e Grande, Luiz Paulo de Almeida Neto.

A intenção da companhia estadual é buscar parcerias com os agricultores da região. Ela entraria com orientação técnica e fornecimento da água, enquanto os proprietários agrícolas investiriam no sistema de bombeamento do recurso às suas plantações. Conforme Almeida Neto, pelo menos uma usina de cana-de-açúcar de grande porte já demonstrou interesse no projeto. “O sistema de bombeamento das estações de tratamento de esgoto para as plantações será um investimento do agricultor, por isso a propriedade tem que ficar próxima às ETEs, para que o gasto não seja muito elevado”, explica o superintendente, fazendo referência às Estações de Tratamento de Esgoto.

O maior desafio da empresa será buscar a viabilidade financeira no negócio. Diferente dos programas de reúso de água para prefeituras e indústrias, nos quais a Sabesp vende o recurso produzido em suas ETEs – por um preço mais barato do que o de venda de água potável -, dessa vez a água será doada.

Apesar de os agricultores serem grandes usuários de água, como a maioria realiza captação direta nas fontes o custo do recurso não pesa nas suas contas. Mesmo nas bacias hidrográficas em que há cobrança pelo uso de água, como as dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e a do rio Paraíba do Sul, os gastos não são representativos para os produtores agrícolas. No ano passado, os agricultores pagaram em torno de R$ 10 mil pelo uso da água, enquanto as empresas de saneamento gastaram R$ 13,5 milhões e o setor industrial quase R$ 3 milhões no mesmo período.

O superintendente da Sabesp diz que a única vantagem da empresa será deixar de despejar a água nos rios. “Os efluentes já existem, o que muda é que o objetivo deixa de ser os rios e passa a ser a agricultura”, afirma.

Roberto Carneiro de Moraes, da comissão de avaliação da cobrança pelo uso da água da Agência Nacional de Água (ANA), considera difícil hoje em dia grandes empreendimentos de fornecimento de água de reúso para a agricultura. Segundo ele, para que a troca de fontes de água valha a pena aos produtores agrícolas, seria preciso uma política específica de incentivo.

“O maior gasto da irrigação não é com a água, mas com a energia elétrica usada para manter o sistema funcionando”, afirma ele. No entanto, de acordo com Moraes, a ANA não possui planos para realizar políticas nesse sentido, pois considera que também esbarraria na dificuldade de encontrar fornecedores de água de reúso.

A Sabesp vende hoje cerca de 95 mil metros cúbicos por mês de água de reúso, o que corresponde a 0,5% de todo esgoto tratado, um negócio que não rende muito, cerca de R$ 120 mil por mês. “A Sabesp considera mais importante a conscientização pelo uso racional da água”, afirma a analista de marketing da Sabesp, Eliane Flório. A maior parte (70 m3 por mês) é enviada por tubulação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Ipiranga, na cidade de São Paulo, para a fabricante de linhas

Coats

. A empresa utiliza a água no processo de tingimento das linhas e paga, em média, R$ 0,81 o metro cúbico.

Os demais 25 mil metros cúbicos do recursos que a Sabesp vende por mês são coletados nas ETEs do ABC, de Barueri, Parque Novo Mundo e São Miguel, por carros carros pipas de seis prefeituras – São Paulo, Santo André, São Caetano, Diadema, Carapicuíba e Barueri – e das construtoras Camargo Corrêa, Enterpa, Serveng, C.R Almeida e Servimag.

As prefeituras utilizam a água principalmente para lavagem de ruas após as feiras e pagam R$ 0,44 o metro cúbico, enquanto as construtoras usam para lavar seus canteiros de obra e compram por R$ 0,74 o metro cúbico.

Fora isso, está em andamento a instalação de tubulações para o fornecimento de 60 mil metros cúbicos de água de reúso por mês da ETE do ABC para a Companhia Santa Therezinha (Santher). Os investimentos são de aproximadamente R$ 1,5 milhão entre os investimentos na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e na rede.