Riscos para o coração passam despercebidos

Jornal da Tarde

seg, 26/04/2010 - 8h04 | Do Portal do Governo

75% dos entrevistados em mutirão têm hábitos que desencadeiam doenças cardiovasculares

O coração de 75% dos 97.502 entrevistados no Mutirão de Avaliação de Risco Cardiovascular está a ponto de adoecer. O estudo, realizado no ano passado e organizado pela Sociedade de Cardiologia do Estado e pela Secretaria de Estado da Saúde, aponta que três de cada quatro pessoas que passaram pela triagem apresentam três de oito fatores considerados de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

De acordo com especialistas, se os integrantes desse grupo de risco não alterarem sua rotina de vida, poderão, nos próximos dez anos, ser vítimas de enfarte e Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A pesquisa foi realizada ano passado em Unidades Básicas de Saúde (UBS) da capital e de Campinas, no interior do Estado. O cardiologista Álvaro Avezum, coordenador do mutirão, diz que a maior parte dos entrevistados não sabia que era portadora de fatores de risco para desenvolvimento das doenças cardiovasculares.

Nesse estudo foram destacados oito deles: tabagismo, hipertensão, diabetes, obesidade, obesidade abdominal, sedentarismo e estresse.

Alguns fatores podem ser eliminados e outros, controlados. Mas acumular três ou mais abre as portas para a incidência das doenças.

O marceneiro Sérgio Fernandes de Azevedo, de 21 anos, apresenta três deles. Há dois anos ele procurou a academia para eliminar o sedentarismo. Mas ficou surpreso ao saber que não poderia treinar. “Na avaliação física, pediram que eu fosse ao médico porque minha pressão estava alta.”

Desde então ele faz tratamento no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Seu objetivo é eliminar o sedentarismo e controlar a pressão para evitar o acúmulo de fatores. “Vale a pena se cuidar. Sou jovem e quero construir uma família”, diz.

O Brasil é um dos países com maior incidência de doenças cardiovasculares. Segundo Avezum, com tratamento adequado, 100 mil enfartes poderiam ser evitados por ano no País (400 mil pessoas morrem em consequência desse mal). Em São Paulo, mais de 76 mil pessoas morreram em 2009 por conta de doenças cardiovasculares, primeira causa de morte entre os paulistas.

Alto risco

O cardiologista destaca que 33,7% dos que passaram pelo mutirão devem mudar seu estilo de vida o quanto antes, pois a probabilidade de adoecerem é considerada alta, conforme apontou a pesquisa. Para chegar a essa conclusão, alguns dados, como sexo, idade, índice de massa corpórea e pressão arterial foram colocados em uma fórmula matemática que calcula a probabilidade de a pessoa adoecer. “A pessoa enquadrada no risco alto tem 20% ou mais chances (veja quadro ao lado)”, diz Avezum.

Para o cardiologista do Hospital do Coração (HCor) Abrão Cury, a poluição é outro fator de risco, que não foi destacado no mutirão. “Os poluentes lesam a camada de revestimento interno do coração, o que predispõe uma piora no quadro de saúde”, explica.

Dicas

Pratique atividade física pelo menos três vezes por semana, durante meia hora, no mínimo

Substitua os alimentos gordurosos e com alto teor de açúcar por frutas, legumes e verduras

Realize exames preventivos uma vez por ano

Abandone o vício do tabaco

Fique atento a sua circunferência abdominal. O ideal é que as mulheres tenham até 80 centímetros. Para os homens, a marca sugerida é de 90 centímetros

Fatores de risco podem ser reduzidos

Pingue-pongue
Álvaro Avezum, cardiologista e coordenador do mutirão de avaliação de risco vascular

O senhor acredita que a população não está se cuidando e, por isso, os fatores de risco aparecem? 
Sim. A prevenção deve ser feita com aqueles que se sentem bem. Sentir-se bem não é sinônimo de estar bem.

Identificados os fatores de risco, qual o próximo passo que a pessoa deve tomar? 
As pessoas com risco baixo para incidência de doenças cardiovasculares precisam ficar atentas para não ser elevadas ao risco moderado. Aquelas com risco moderado precisam de intervenções para voltar ao risco baixo. Já as pessoas com risco alto precisam de intervenções para diminuir os problemas.

É possível eliminar os fatores de risco com tratamento? 
Sim. Se não for eliminar, é possível reduzi-los. Os fatores de risco não são uma sentença definitiva. O fator de risco, quando presente, encurta a vida da pessoa e aumenta a chance ter der um evento (AVC ou enfarte).