Restaura-se o passado, bem diante do público

O Estado de S. Paulo - São Paulo - Sexta-feira, 13 de agosto de 2004

sex, 13/08/2004 - 10h44 | Do Portal do Governo

No Museu de Arte Sacra, restauradores recuperam arco; entrada é permitida

Giovanna Balogh

O trabalho de restauradores pode ser visto de perto pelos visitantes do Museu da Arte Sacra, na Avenida Tiradentes, centro. Como o arco do retábulo de Nossa Senhora da Luz é fixado na parede, o restauro está sendo feito no local. No ateliê do restaurador Júlio Moraes estão sendo recuperados outros quatro altares dos estilos barroco e rococó, datados dos séculos 17 e 18.

Essa é a primeira restauração por que passam essas peças, tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat), com o acervo do museu que conta com mais de 4 mil peças que abrangem o período entre o século 16 e o 20.

O trabalho para chegar o mais próximo possível da origem desses altares começou em janeiro e a expectativa do restaurador é de que até novembro esteja pronto. Moraes conta com uma equipe de 12 restauradores que têm a paciente tarefa de remover todas as camadas de tinta até chegar à concepção original.

‘Em pequenas reformas realizadas no passado, essas peças receberam várias camadas de tintas diferentes das originais’, lamentou o restaurador, que usa um bisturi cirúrgico para retirar as últimas pinturas. Ele lembra que agora a peça ganhou tons de bege com detalhes dourados, mas uma prospecção detalhada indicou a existência de mais três camadas que revelam as cores verdadeiras. Moraes disse que, além da dificuldade com a cor, um árduo trabalho é recuperar parte dos altares danificados com o tempo. ‘Se é uma folha, por exemplo, temos como recuperar, enquanto o rosto de um anjo que foi quebrado ficará irrecuperável caso não haja uma foto original. Não há como preencher o gesto que o artista fez na sua obra.’

Desde 1999, a diretora do museu, Mari Marino, pretendia restaurar os altares, mas só conseguiu neste ano com o patrocínio do Banco Nacional de Paris, por meio da Fundação BNP Paribas Brasil. Além do retábulo da Nossa Senhora da Luz, que faz parte do antigo Mosteiro da Luz, estão sendo recuperados dois altares da antiga Matriz de Santo Amaro; o da Fazenda São Mathias, em Ilhabela; e o da capela da fazenda de Piraí, de Itu.

Para a secretária estadual de Cultura, Cláudia Costin, a preservação desse importante patrimônio requer parcerias que auxiliem na tarefa de manter a história viva e permitam o acesso do público a essa etapa do trabalho de restauro.

O museu reúne um precioso acervo de obras religiosas do período colonial feitas por artistas e artesãos sob encomenda da Igreja e de ricos fazendeiros. Assim que as obras estiverem prontas, será realizada uma exposição no museu para mostrar o estilo barroco paulista que está presente na maioria dos altares e muitas vezes é desconhecido pelos próprios paulistanos.