Rejeição à vacina contra gripe diminui

Correio Popular - Campinas - Terça-feira, 26 de abril de 2005

ter, 26/04/2005 - 9h11 | Do Portal do Governo

Agricultor de 78 anos entra na campanha pela primeira vez e confirma estudo que mostra queda na resistência à vacinação no Estado

Gilson Rei
Da Agência Anhangüera

O agricultor pernambucano João Evangelista de Barros, de 78 anos, quebrou um tabu de seis anos, ontem, no Centro de Saúde (CS) do Jardim São José, em Campinas, ao participar do primeiro dia da campanha de vacinação para pessoas com mais de 60 anos, contra a gripe causada pelo vírus Influenza. Apesar da vacinação gratuita ocorrer desde 1999, Barros resistiu nos últimos anos temendo reações adversas. “Antes tinha receio, mas quando vi que a vacina não prejudicava em nada, decidi garantir este reforço contra a gripe”, afirmou.

Este exemplo confirma que a rejeição à campanha diminuiu com a maior divulgação dos benefícios que a vacina proporciona. Helena Fato, coordenadora estadual da campanha, disse que as informações sobre os benefícios já resultaram na adesão de 78% no ano passado, superando a média de 65% dos anos anteriores.

A coordenadora explicou que, no primeiro ano, em 1999, compareceram 84% das pessoas com idade superior a 60 anos no Estado, mas que a adesão caiu para 65% nos anos anteriores. “Devido à diminuição, a secretaria realizou uma pesquisa, em 2003, para detectar porque isto estava acontecendo”, disse.

A pesquisa constatou três motivos. O principal mostrava que idosos rejeitavam a vacina porque desconheciam os reais benefícios da dose. Outros idosos evitavam pensando que a vacina provocava gripe. O terceiro grupo temia as possíveis reações. “Com base neste resultado, o Estado fez a campanha combatendo esses três mitos e já colheu reflexos positivos no ano passado”, disse.

Lotados

Os centros de saúde de Campinas estavam lotados ontem. Palmira Vieira, de 90 anos, moradora da Vila Industrial, foi ao CS da Avenida Faria Lima com parentes. “Participo desde a primeira campanha. A vacina funciona e eu recomendo”, afirmou. O centro recebeu também o casal Edna Gutierres Dourado, de 65 anos, e Almir Silvino Dourado, de 71 anos, moradores do Jardim Nova Europa. “Esta campanha é fundamental para evitar a gripe e até outras complicações”, disse Edna. No Jardim São José, a aposentada Odete Ridolfi de Souza, de 66 anos, moradora do Jardim Santa Cruz, disse que teve medo de vacinar nos primeiros anos de campanha, mas que passou a participar em 2002.

A campanha está prevista até o dia 6 de maio, excluindo-se o feriado de 1º de Maio, Dia do Trabalhador. Tem o objetivo de imunizar 2,4 milhões de pessoas no Estado de São Paulo e quase 70 mil em Campinas. Estes números representam 70% da população com faixa etária acima dos 60 anos nestas regiões.

Em Campinas, as doses vão estar disponíveis nos 47 centros de saúde e 14 módulos de saúde da família. Também estará disponível, para casos específicos, a vacina de combate a pneumonias, otites, sinusites, faringites e meningites. Doses contra difteria e tétano serão aplicadas em adultos não-vacinados.

A vacina não tem contra-indicação nem causa reação. Os idosos devem levar a carteira de vacinas. Quem não possui documento receberá uma caderneta. Profissionais de saúde vão visitar também casas de repouso para vacinar pessoas com dificuldades de locomoção. No caso dos acamados, os familiares devem solicitar, às respectivas equipes de Saúde da Família, que a vacina seja feita no próprio domicílio.

Índice de internações baixa até 41%

A campanha de vacinação contra a gripe do vírus Influenza, em pessoas com mais de 60 anos, reduziu em até 41% a taxa de internações de idosos por doenças respiratórias infecciosas no Estado de São Paulo, desde que as doses gratuitas em massa tiveram início, em 1999. Este foi o resultado de uma pesquisa sobre o impacto da vacina em idosos feita pela médica epidemiologista Maria Rita Donalisio, da Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A médica comparou os índices destas doenças respiratórias antes e depois da campanha, entre 1995 e 2002.

A taxa foi colhida em todos os hospitais do Estado, com dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e de hospitais conveniados. “A taxa de internação teve redução de 15% a 41%, conforme a faixa etária e o sexo dos idosos”, disse. “As mulheres e as pessoas com idade entre 70 e 79 anos apresentaram respostas melhores à vacinação”, afirmou.

A taxa de internação é medida para cada mil habitantes da região em estudo. No quadro geral, foi constatado, por exemplo, que as mulheres com idade entre 70 e 74 anos tiveram uma taxa de 17 internações para cada mil habitantes, em 1998. Em 2002, esta taxa caiu para dez internações para cada mil habitantes, uma redução de 41,17%. Os homens na mesma faixa etária, entre 70 e 74 anos, tiveram uma taxa de 21 internações para cada mil habitantes, em 1998. Em 2002, passou para 17 internações para cada mil habitantes, uma queda de 19%.

Em números absolutos, a pesquisa revelou que houve uma redução de 1.050 internações em 2002, comparado ao registro de 1998. Este volume foi 2,29% inferior, passando de 45.950 para 44,9 mil internações. (GR/ANN)

TIRE AS DÚVIDAS

Gripe e resfriado

A gripe é uma doença muito contagiosa, causada pelo vírus Influenza e transmitida de pessoa a pessoa pelo ar. Em geral, a gripe provoca febre alta, dor de garganta, tosse, dores no corpo e na cabeça, fraqueza, mal-estar, e pode evoluir para doenças mais graves, como pneumonia. Já o resfriado é causado por diferentes vírus. Seus sintomas são parecidos e podem ser confundidos com os da gripe. Porém, sintomas do resfriado são mais fracos e de curta duração. Normalmente, o resfriado provoca coriza, dor de garganta leve e, às vezes, febre.

Vacina

A vacina nunca provoca gripe. Quando alguém fica gripado dias após ter sido vacinado, é porque já estava contaminado pelo vírus da gripe e não houve tempo suficiente para a ação da vacina. Ainda assim, quando isso acontece, os sintomas da gripe são mais fracos. Algumas pessoas podem apresentar dor leve e pequena vermelhidão no local de aplicação. Em raras ocasiões, podem ocorrer febre baixa, mal-estar e dor no corpo, mas esses sintomas desaparecem entre 24 e 48 horas.

Indicações

As pessoas portadoras de doenças pulmonares, do coração e dos vasos sangüíneos são mais beneficiadas, pois a vacina diminui as complicações e o número de mortes provocadas por estas doenças. Todos os homens e mulheres com 60 anos ou mais devem tomar a vacina, principalmente aqueles que são cardíacos, asmáticos, diabéticos, hipertensos, que têm insuficiência renal ou hepática, portadores sintomáticos ou assintomáticos do vírus HIV ou com outro estado associado a baixa imunidade devem tomar a vacina contra a gripe.

Efeito

A proteção oferecida pela vacina tem efeito após duas semanas da aplicação. Por isso, é importante que todas as pessoas com 60 anos ou mais recebam logo a sua dose. Todos devem procurar as equipes da vacinação, mesmo que já tenham tomado a vacina no ano anterior.

Quem não pode tomar a vacina

Pessoas que já tenham apresentado reação alérgica grave à dose anterior da vacina e a proteínas do ovo não devem receber a vacina. Também não devem tomá-la os portadores de doenças neurológicas em fase aguda comprovada: meningite, encefalite, surto de esclerose múltipla, derrame cerebral, traumatismo craniano e pós-operatório de tumores.