Rede Ibero-Americana de Ensino Fundamental

Folha de S.Paulo - Sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

sex, 04/01/2008 - 10h37 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO, FERNANDO LEÇA e SALVADOR A. BARRENECHES

ARQUITETO DA unidade européia, o político francês Jean Monnet costumava dizer que o “c” de cultura era mais importante que o “c” de comércio. Adotando essa lógica, resolvemos investir na integração ibero-americana por meio da cultura e da educação.

Integrando propósitos e esforços, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, o Grulac (Grupo de Cônsules da América Latina e do Caribe) e o Memorial da América Latina lançaram, no espaço concebido pelo gênio de Oscar Niemeyer, a Rede Ibero-Americana de Ensino Fundamental.

A rede é formada, de partida, por 32 escolas públicas estaduais paulistas que, em suas denominações, homenageiam todos os países da América Latina e do Caribe. Elas têm nomes como escola República da Bolívia, escola Salvador Allende, entre outros.

As escolas passaram a ser apoiadas pelo Grulac, pelo memorial, pelo Instituto Cervantes, pelo portal Universia e pelo banco Santander, o que permitirá à rede levar a cabo diferentes atividades de cooperação educativa e cultural. Com isso, esperamos fazer de São Paulo referência na matéria.

Essa é uma forma de sinalizar um efetivo apreço pelo ideal integracionista e aproximar, mediante o ensino e o intercâmbio cultural, as crianças que no futuro serão responsáveis pela integração de nossos países.

Dentre os projetos para 2008, além do ensino de espanhol, estão aulas especiais de história e geografia de cada país da região, encontros de dança e música folclórica, comemoração das datas nacionais e do Dia da Integração, o Prêmio Monteiro Lobato de Literatura Infantil e o Torneio Esportivo Cidade de São Paulo, com o apoio da ESPN.

Nos próximos anos, comemoraremos o bicentenário das independências de vários países da América Latina, e as crianças precisam conhecer melhor essa história. Pensando nisso, o Consulado Geral da Venezuela em São Paulo doou às bibliotecas de cada uma das 32 escolas da rede livros em português sobre o libertador Simón Bolívar, que lutou nas independências da Venezuela, da Colômbia, do Equador, da Bolívia e do Peru.

Uma das funções da rede é ajudar as escolas “apadrinhadas” a se prepararem para o ensino do idioma espanhol. A cada consulado cabe apoiar “suas escolas”, facilitando o ensino do idioma. Para isso, temos o apoio e a participação da Secretaria da Educação, do Instituto Cervantes e das representações diplomáticas espanholas e portuguesas no Brasil.

Na cerimônia de lançamento da rede, foram doados às escolas 290 computadores pelo banco Santander. Os professores serão capacitados a usá-los pelo portal Universia e pelo Instituto Cervantes. A idéia é fazer os alunos dessas escolas começarem a se comunicar em espanhol com alunos de escolas do país correspondente.

A idéia de uma rede foi semeada anos atrás, na reunião de chefes de Estado e de governo, do Grupo do Rio, celebrada em Santiago (Chile), em outubro de 1993. Dentro do relatório de atividades e mandatos do Grupo do Rio, naquela ocasião, se ressaltou “a importância da coordenação entre os diferentes organismos regionais competentes para pôr em funcionamento o referido programa”.

Com esse antecedente, o Grulac -criado em 2006- empreendeu a tarefa de identificar as diferentes instituições docentes do Estado de São Paulo que levam o nome de países latino-americanos, de heróis ou de cidadãos exemplares desses países, com o objetivo de formar a rede ibero-americana.

Uma vez concluída a etapa inicial de identificação e criação de novas escolas, a rede propõe desenvolver programas de trabalho com cada consulado geral e suas correspondentes entidades escolares, assim como definir um programa em comum que permita reforçar as ações em São Paulo.

A Rede Ibero-Americana de Ensino Fundamental de São Paulo se converterá na semente de um projeto maior ao estabelecer que, nos demais países ibero-americanos, iniciativas semelhantes à do Brasil prosperem.

O objetivo será, no futuro, contar com uma rede similar por país que permita, por sua vez, a vinculação com outras redes, formando uma rede ibero-americana de escolas de ensino fundamental articulada em toda a região.

MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO, 61, é secretária estadual da Educação de São Paulo. Foi secretária-executiva do Ministério da Educação (2002) e presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) entre 1995 e 2002. FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTO, 67, advogado, é diretor-presidente da Fundação Memorial da América Latina. Foi chefe da Casa Civil do Estado de São Paulo (governo Mário Covas) e secretário do Emprego e Relações do Trabalho (gestão Alckmin). SALVADOR DE JESUS ARRIOLA BARRENECHES é cônsul-geral do México em São Paulo e presidente do Grulac (Grupo de Cônsules da América Latina e do Caribe).