Projeto prevê a realização de passeios gratuitos, duas vezes ao dia, em trecho do rio
Bárbara Souza
Não é das visões mais bonitas que se poderia ter da cidade, mas navegar no Rio Tietê, deixando para trás a poluição, o barulho e o trânsito ruim da Marginal, é o tipo de experiência que todo morador de São Paulo deveria ter. E não vai demorar muito para que esse tipo de passeio seja acessível a estudantes, profissionais das áreas de recursos hídricos e ambiental. Em até 90 dias, será construído um porto na altura da eclusa do Tietê com o Rio Pinheiros.
Denominado Navega São Paulo, o projeto sairá do papel por meio de uma Parceria Público Privada (PPP). A estrutura inicial é da Basico Engenharia e Construções, uma das concessionárias que trabalham no rebaixamento da calha do Tietê. Com o governo do Estado, a empresa está buscando recursos na iniciativa privada para a manutenção e a construção de toda a estrutura.
Pelo projeto, o porto será uma espécie de centro educacional, com local específico para exibição de filmes didáticos e palestras e conscientização sobre o meio ambiente. A idéia é que esses primeiros passageiros sejam agentes multiplicadores de informação sobre o Tietê e a ecologia. ‘O objetivo é estimular o uso do rio como meio de transporte e chamar a atenção para a questão ambiental’, afirma o diretor técnico da Basico, João Quimio Nojiri.
Esses passeios, gratuitos, sairão duas vezes ao dia da eclusa até o Complexo Viário Maria Campos, em Osasco. ‘Tendo utilização contínua, as pessoas vão começar a acreditar no processo de despoluição do Tietê.’
Passeio – O engenheiro não descarta a hipótese de abrir o passeio à comunidade. Ao entrar no barco para 80 pessoas, equipado com rádios, bóias e coletes salva-vidas obrigatórios, o passageiro só se lembra que está no Tietê ao olhar para a água. O rio é muito mais sujo visto de perto. A água turva é pontilhada por bolhas de gases que se desprendem dos materiais em decomposição. Garrafas PET, sacos plásticos e pneus flutuam entre manchas de óleo e produtos químicos.
O cheiro já não é tão insuportável e não há tantas ligações clandestinas de esgoto desembocando no rio, mas ainda há muito o que fazer. A próxima etapa a ser estudada, segundo Nojiri, é transformar o Tietê em alternativa de transporte. Até o fim do ano, pelo menos o nível do rio e as proteções das encostas estarão propícios à navegação. Até lá, os trabalhadores da obra continuam comemorando o aparecimento de novas garças, bem-te-vis, capivaras e até de peixes no curso do Tietê.
Proposta é fazer navegação em toda a extensão
Com a conclusão do rebaixamento da calha do Rio Tietê, o governo do Estado poderá criar uma hidrovia metropolitana para o transporte de passageiros e cargas. Inicialmente, o novo sistema de transporte ligará a Barragem da Penha, em São Paulo, ao lago da Barragem Edgard de Souza, em Santana de Parnaíba, pelo Rio Tietê, numa extensão de 40 quilômetros.
A proposta da criação da hidrovia encontra-se em discussão na Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos. O projeto poderá ser colocado em prática após a conclusão da ampliação e aprofundamento da calha do rio.
Enquanto isso, a iniciativa privada já se movimenta para pôr a idéia em prática. ‘Seria um desperdício não aproveitar a estrutura do rio’, afirma o diretor-técnico da Basico Engenharia e Construções, João Quimio Nojiri.
Para ele, a hidrovia será útil para a absorção de parte da demanda existente de passageiros e cargas. Nojiri salienta que esse tipo de transporte, além de ser mais eficiente, possibilitará redução na emissão de poluentes, no consumo de combustível e nos congestionamentos. ‘Até o atendimento de socorro, como dos Bombeiros, pode ser facilitado’, acredita.