Quarteto Borodin foi o ponto alto no fim do festival

Folha de São Paulo - Terça-feira, dia 1º de agosto de 2006

ter, 01/08/2006 - 11h02 | Do Portal do Governo

ARTHUR NESTROVSKI

ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

 A chuva e a neblina, na subida da serra, davam à viagem um tom de fuga para o desconhecido. O que não estava tão distante da verdade, em retrospecto, depois de ouvir o “Quinteto” de Schumann (1810-1856) tocado pelo Quarteto Borodin com o pianista Jean-Louis Steuermann, sábado em Campos do Jordão.

É que a música, nesse nível, sempre chega aonde nunca chegou, que é aonde ela sempre chega quando chega a si. Que as luzes de fora da envidraçada capela tivessem se acendido exatamente na primeira nota do episódio central do segundo movimento e que farrapos de nuvens entrassem pelas frestas enquanto o pianista se deliciava com o tema schubertiano do terceiro movimento pareciam respostas da própria natureza ao que se estava ouvindo.

Antes disso, os peixes no andar de baixo já tinham dado sua contribuição, enquanto os russos apresentavam o “Quarteto nº 13” de Myaskovsky (1881-1950) e, especialmente, o “Quarteto nº 11” de Shostakovich (1906-1975), reinterpretado por eles em tom ambivalentemente sóbrio e doloroso.

À noite, foi a vez de ouvir os “Alegres Trópicos”, de Gilberto Mendes (1922), com a Osesp e o Coro da Osesp regidos por John Neschling. Vinte minutos de deliciosa, engenhosa, despretensiosa música, “um baile na mata atlântica”, como diz o subtítulo. Orquestrada como um caleidoscópio, é uma peça que se quer logo ouvir de novo, por puro prazer.

Vale o mesmo para as artes da italiana Jessica Dalsant, primeira-flauta da Osesp, solista no “Concerto KV 314” de Mozart (1856-1891). Dona de um tempo musical muito próprio, que faz as frases crescerem elasticamente sem perder jamais o pulso, ela fechou os olhos e abriu a música, de dentro para fora. Foi lindo. No domingo, para encerrar esse 37º Festival de Campos do Jordão, o diretor Roberto Minczuk regeu a Orquestra Acadêmica (de alunos e professores), na Sala São Paulo. Além da estréia de “Ritmetrias”, do compositor residente Edino Krieger, fizeram “O Pássaro de Fogo”, de Stravinski (1882-1971), e uma eletrizante “Quarta Sinfonia” de Tchaikovski (1840-1893).

Eram os ainda desconhecidos conhecidos músicos de amanhã, dando tudo de si no começo do caminho.

FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO     

O articulista ARTHUR NESTROVSKI viajou a convite da produção do festival