Quadrado mágico

Folha de S.Paulo - Quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

qui, 15/01/2009 - 10h51 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

“Eu estou aqui para abrir os olhos de vocês.” A frase de Josef Albers, logo ao entrar em uma das classes da lendária Escola de Ulm, nos anos 50, não foi esquecida pelo artista brasileiro Almir Mavignier, então seu aluno. Ela serve como guia de “Cor e Luz: Josef Albers -Homenagem ao Quadrado”, exposição que é aberta hoje no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

A mostra exibe 45 pinturas e dezenas de esboços do artista alemão, um dos principais nomes da abstração geométrica, com foco exclusivo em variações de “Homenagem ao Quadrado”, cuja primeira versão é de 1950, estendendo-se até 1976, ano da morte de Albers.

“A mensagem principal de Albers como professor foi a de que a cor é relativa. E ele abriu realmente os olhos dos alunos”, afirmou à Folha Mavignier, 84, radicado na Alemanha desde 1953, hoje um dos grandes nomes da arte construtiva. A influência do artista alemão também foi forte nos EUA, onde ele foi morar em 1933 para fugir do nazismo e onde atuou como professor e teórico das artes visuais. Entre seus alunos, encontram-se nomes decisivos da arte norte-americana, como Robert Rauschenberg (1925-2008), Eva Hesse (1936-1970) e Cy Twombly, 80.

“”Homenagem ao Quadrado” é uma espécie de síntese da obra de Albers. Antes de sua primeira tela da série, ele tinha tentado alcançar algo próximo, mas isso só vai acontecer com “Homenagem'”, afirma Brenda Danilowitz, curadora da exposição do Tomie Ohtake.

Ela também é responsável por “Anni e Josef Albers – Viagens pela América Latina”, retrospectiva com 230 trabalhos do artista alemão e de sua mulher, que é aberta na Pinacoteca do Estado no sábado.

“Fala-se muito que Albers era um grande téorico da cor, mas prefiro pensar nele como um experimentador da cor”, diz a curadora. “”Homenagem…” é a prova disso, até a sua morte ele continuou fazendo a série, testando composições, formas, volumes, cores. Esse conjunto não será decisivo apenas para o minimalismo -Donald Judd o considerava um mestre-, mas também para a arte conceitual, por exemplo.”

Brasil

Danilowitz lembra que a ligação de Albers com o Brasil vem de longe, quando o Salão de Maio organizado por Flávio de Carvalho (1899-1973) na galeria paulistana Ita, em 1939, expôs gravuras e pinturas de Albers. O segundo marco é a 4ª Bienal de São Paulo, em 1957, decisiva para o movimento construtivo no Brasil.

“A influência de Albers na arte brasileira ainda não foi suficientemente estudada. Há um primeiro momento na obra de Flávio e, depois, diretamente com concretos e neoconcretos a partir do que foi exibido na Bienal”, avalia o curador e crítico Paulo Herkenhoff. “Não podemos esquecer também que Max Bill, sempre lembrado como nome-chave para a obra dos construtivos brasileiros, foi aluno de Albers.”

Danilowitz vai além e aproxima Hélio Oiticica (1937-1980) da obra de Albers. “Fui ao Rio ver a exposição “Penetráveis” [em cartaz no Centro de Arte Hélio Oiticica] e percebi como a abordagem dos dois é similar.

Assim como Hélio, Albers pede a participação do público em sua obra, as pinturas buscam algo maior, expandem-se, têm algo de transcendente.” Para Herkenhoff, “os dois dialogam a partir da ideia de análise de cor, de sua autonomia, e da experimentação com os planos”.

América Latina

A mostra que entra em cartaz na Pinacoteca no sábado enfatiza a importância da arte pré-colombiana na trajetória de Albers e de sua mulher, Anni, famosa por suas tecelagens. O casal fez frequentes viagens por México, Peru, Chile e Cuba entre 1934 e 1957, o que resultou em uma influência forte no trabalho dos dois.

“A luz presente nesses países foi um fator importante nas experimentações sobre a cor realizadas por Albers e também na obra têxtil de Anni”, acredita Danilowitz.

COR E LUZ: JOSEF ALBERS – HOMENAGEM AO QUADRADO Quando: abertura hoje, às 20h (convidados); de ter. a dom., das 11h às 20h; até 1º/3

Onde: Instituto Tomie Ohtake (r. Coropés, 88, tel. 0/xx/11/ 2245-1900); livre

Quanto: entrada franca

ANNI E JOSEF ALBERS – VIAGENS PELA AMÉRICA LATINA

Quando: abertura sáb., às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 8/3

Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3324-1000); livre

Quanto: R$ 2 a R$ 4; sáb., entrada franca